1.500 mulheres do ES procuram a polícia para denunciar perseguições
Casos de perseguição contra mulheres batem recorde no Espírito Santo. Tema ganhou destaque após homem ser preso por ameaçar Isis Valverde
O crime de “stalking”, ou perseguição, bateu recorde no Espírito Santo. Até novembro deste ano, foram registradas 1.501 denúncias de mulheres.
Em 2024, foram 1.405 denúncias, contra 1.174 em 2023 e 882 em 2022. Os dados são do Painel de Monitoramento da Violência Contra a Mulher, da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp-ES).
O assunto ganhou destaque mais uma vez no País após um homem ser preso no Rio de Janeiro, na última semana, por suspeita de perseguir a atriz Isis Valverde, de 38 anos, por mais de 20 anos.
Identificado como Cristiano Rodrigues Kellermann, ele admitiu em depoimento à polícia que contratou um detetive particular para obter dados pessoais da atriz, como endereço e telefone, e até mesmo tentou entrar no condomínio onde ela mora.
De acordo com o advogado criminalista e pós-doutor em Direito Clécio Lemos, professor de Direito Penal da Ufes, o crime de stalking está previsto desde 2021 no Código Penal brasileiro, inserido no art. 147-A.
“Ele é denominado ‘perseguição’ e gera pena de prisão de seis meses a dois anos, além de multa”, explicou.
“O crime ocorre de muitas maneiras, incluindo as formas presencial ou em ambiente virtual. A lei não exige que haja violência física. Por exemplo, a simples presença da pessoa pode configurar o crime, desde que seja habitual e esteja invadindo ou perturbando a esfera de liberdade ou privacidade da vítima”, explica.
Brenno Andrade, titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), destaca que, apesar de ser mais frequente que os autores desse tipo de crime sejam homens, há casos em que as mulheres também são autoras. O mais comum, segundo o delegado, é o perseguidor ter tido algum tipo de relacionamento amoroso com a vítima e não aceitar o fim da relação.
“Nesses casos, a pessoa começa a stalkear a vítima, na maioria das vezes, criando perfis falsos em redes sociais, como Instagram e WhatsApp, para enviar ameaças e mensagens com conteúdos difamatórios e injuriosos. A vítima, depois de se sentir stalkeada – que é a ocorrência da perseguição de forma reiterada, atingindo seu psicológico – acaba fazendo a denúncia”, disse o delegado.
Ameaça afeta segurança e rotina
Entre os impactos que as ameaças constantes de um perseguidor podem causar estão o sentimento de insegurança e a mudança na rotina, segundo especialistas.
“A perseguição corrói o sentimento de paz e segurança. Aos poucos, a vítima passa a viver em estado de alerta constante, com medo e ansiedade. Ela fica com pavor de que algo ruim pode acontecer a qualquer momento, pois a sua privacidade foi desrespeitada. É comum surgir confusão emocional, culpa ('será que eu provoquei?'), vergonha e isolamento”, aponta o psicólogo Alexandre Brito.
Segundo Alexandre, isso pode afetar a autoestima, a confiança nos outros e até a própria identidade, gerando exaustão física e emocional, irritabilidade e o desencadeamento de sintomas depressivos.
A psicóloga Kamila Vilela destaca que o stalking interfere diretamente na liberdade de ir e vir. A vítima passa a reorganizar horários, trajetos e escolhas para evitar o perseguidor.
“No trabalho, é comum haver queda de rendimento, faltas e dificuldade de concentração. Nos relacionamentos, o efeito costuma ser o isolamento: muitas vítimas se fecham por medo de não serem acreditadas ou de minimizar o que estão vivendo”, explica.
Para a especialista, buscar ajuda é essencial. “O acompanhamento psicológico é fundamental para reconstruir a sensação de segurança e autonomia”, aconselha Kamila.
Denúncia
Ator foi vítima
O ator Marcos Pitombo, 43 anos, revelou, em suas redes sociais, que há mais de um ano vem sofrendo perseguição por parte de um stalker.
Segundo o ator, até mensagens de cunho sexual eram enviadas para sua rede social. Em certa ocasião, Marcos relata que chegou a cogitar cancelar um espetáculo por conta das ameaças. O ator registrou queixa na polícia.
Saiba Mais
Perseguição (Stalking) contra mulheres
Ano — Denúncias
2025 - 1.501 (até novembro)
2024 - 1.405
2023 - 1.174
2022 - 882
Cidades com mais denúncias
Município — Denúncias
Vila Velha - 256
Serra - 254
Vitória - 206
Cariacica - 133
Casos por faixa etária das vítimas
Idade - Casos
18 a 24 anos - 222
25 a 29 anos - 196
30 a 34 anos - 204
35 a 39 anos - 209
40 a 44 anos - 220
45 a 49 anos - 143
O que é?
A expressão “stalking” começou a ser usada no fim da década de 1980 para identificar o comportamento obsessivo de alguns fãs para com os famosos.
É crime?
Sim. O crime de stalking está previsto desde 2021 no Código Penal brasileiro, inserido no art. 147-A. Ele é denominado “perseguição” e gera uma pena de prisão de seis meses a dois anos, e multa.
A perseguição virtual, também popularizada pelo nome em inglês cyberstalking, é tratada da mesma forma que a presencial, pois o mesmo artigo do código penal diz “por qualquer meio”, explica o advogado Clécio Lemos.
Provas
A polícia orienta a vítima que registre o boletim de ocorrência e leve prints de conversa, caso tenha, de redes sociais como Instagram e Facebook, além de aplicativos de troca de mensagens, como WhatsApp para auxiliar na investigação.
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