Dezembrite: Como driblar a ansiedade que chega com o fim do ano
Organizar prioridades, evitar comparações e revisar metas pode ajudar a combater o estado de exaustão que surge no fim do ano
“Então é Natal, e o que você fez?”. O questionamento presente no clássico natalino de Simone e muito feito em dezembro pode resultar em sofrimentos e comparações não só com a vida do outro, como também em relação aos anos anteriores.
Essa condição se popularizou e ganhou nome: “dezembrite”. No entanto, especialistas deixam claro que este não é um conceito existente na psicologia, na psiquiatria ou na psicanálise.
“Como dezembro é o mês que a gente encerra o ano e inicia outro, podemos usar essa expressão informal para tentar descrever e organizar uma série de sensações que podem ser comuns nessa época. Assim como existem termos populares como 'síndrome do ninho vazio' e até 'borocoxô'”, explica o psicólogo Alexandre Brito.
Mas como driblar a “dezembrite”? Entre as dicas dadas por especialistas, estão escolher encontros que nutrem e não aqueles movidos por obrigação, e revisar metas com gentileza.
“É preciso valorizar as pequenas conquistas obtidas ao longo do ano e do cotidiano. As pessoas passam por esse sentimento de tristeza e ansiedade justamente por conta das comparações e exigências sociais. É importante aprender a decepcionar o outro. Isso é libertador”, afirma Alexandre.
O psicólogo salienta que qualquer pessoa está sujeita a esse estado de exaustão no final de ano e destaca que essa crise pode levar a reflexões construtivas.
“A crise é um sinal de que você precisa mudar e é algo que faz parte da vida. Não podemos simplesmente eliminar uma tristeza sem antes 'conversar' com ela. Ela pode ser um alerta de que você precisa cuidar de algo, então a melhor saída é lidar com ela”.
Para a psicóloga Kamila Vilela, dezembro carrega um imaginário social: clima de festa, reencontros, viagens e alegria. E, quando a realidade interna não acompanha esse “roteiro ideal”, a pessoa sente culpa, inadequação e até vergonha.
“É uma pressão silenciosa, mas muito forte: a obrigação de performar bem-estar, mesmo quando o ano inteiro foi pesado, gera um sofrimento adicional. É também quando as pessoas olham retrospectivamente e se perguntam: 'fiz o suficiente?' ou 'conquistei o que planejei?'”, analisa.
Kamila aponta alguns sinais que podem demonstrar que alguém está enfrentando a “dezembrite”, como irritabilidade e impaciência acima do normal, desânimo, cansaço extremo e vontade de se isolar.
“É importante observar se esses sintomas passam rápido ou se começa a comprometer funcionamento e relações. Aí já não é só 'dezembrite', é sofrimento real, algo mais patológico”.
Estresse
Demandas urgentes
A universitária e empreendedora Rayla Barboza, 26 anos, lida com esse estresse e ansiedade gerados pela chegada do fim do ano. Demandas profissionais e domésticas são o que causam esse estado de “dezembrite”.
“Aparecem demandas urgentes e que precisam ser resolvidas antes das empresas entrarem em recesso. Fora os preparativos para o Natal e Ano Novo. Então gera essa ansiedade, esse questionamento de 'será que vou dar conta?'”.
Fique por dentro
Sono tem impacto direto no humor
O que é a “dezembrite”?
Um estado de exaustão que aparece no fim do ano quando o corpo e a mente mostram que não conseguem mais sustentar o ritmo imposto ao longo dos meses.
Ela funciona quase como um sintoma coletivo: dezembro é um mês que escancara o quanto vivemos no limite, tentando dar conta de múltiplos papéis, expectativas e metas. É o cansaço acumulado que finalmente encontra espaço para aparecer.
É um mês que convida, ou melhor, força, a comparação. E a comparação, em um contexto de redes sociais e hiperprodutividade, nunca é justa.
Quais são os sinais?
Irritabilidade e impaciência acima do normal.
Sensação de urgência constante, como se estivesse sempre “atrasada”.
Dificuldade de concentração e aumento de erros.
Tristeza inexplicável, apatia ou desânimo.
Cansaço extremo, mesmo após descanso.
Dificuldade de tomar decisões simples.
Vontade de se isolar ou, ao contrário, hiperengajar para tentar compensar.
Alerta
É importante observar se esses sinais são passageiros. Se começa a comprometer funcionamento e relações, aí já não é só “dezembrite” e deve ser tratado como algo mais patológico. Se os sintomas persistirem, busque ajuda profissional.
Como driblar?
Usar estratégias práticas, realistas e humanas. Não existem “listas mágicas”. É importante reduzir expectativas. Nem tudo precisa ser resolvido antes do ano acabar. É preciso se questionar: o que precisa ser fechado e o que pode esperar?
Criar pausas reais.
Simplificar o social, ou seja, escolher encontros que nutrem, não aqueles movidos por obrigação. O “não” também é uma forma de cuidado.
Revisar metas com gentileza.
Organizar prioridades: não para fazer mais, mas para fazer menos.
Desconectar da comparação: comparar a vida real com a vitrine dos outros é terreno fértil para frustração.
Sono, alimentação e movimento físico têm impacto direto no humor.
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