Delegado baleado em megaoperação no Rio diz que só sobreviveu porque colegas ‘não desistiram’
O delegado Bernardo Leal, baleado durante a megaoperação realizada nos Complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, afirmou que só sobreviveu porque os colegas insistiram no resgate mesmo sob intenso confronto armado. A declaração foi dada em entrevista exibida pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo, 21, após ele receber alta hospitalar, quase dois meses depois do episódio. Leal teve a perna direita amputada em decorrência dos ferimentos.
“Eu só estou vivo hoje porque eles não desistiram em momento algum”, disse o delegado, ao relembrar o momento em que foi atingido na perna e retirado da área de confronto por policiais civis. A megaoperação foi a mais letal já realizada na capital fluminense. Foram 122 mortos, entre eles cinco policiais.
“Os caras foram incansáveis por mim. Minha gratidão é eterna a eles. Eu só estou vivo hoje foi porque eles não desistiram em momento algum”, relatou.
Bernardo relatou que a equipe avançou por cerca de 14 quilômetros até uma área do Complexo da Penha conhecida como Vacaria, onde identificaram uma casa que destoava das demais construções da comunidade. Segundo ele, o imóvel era apontado como pertencente a Doca, um dos líderes da facção criminosa.
Durante o avanço, um homem surgiu usando roupas semelhantes às dos agentes, com colete e vestimentas pretas. Bernardo contou que o grupo utilizava um sistema de senha e contrassenha para identificação.
O suspeito respondeu corretamente, o que fez o delegado baixar a guarda. “Quando ele deu a contrasenha, eu fiquei mais tranquilo e corri para o lado. Quando eu corri para a direita, foi aí que ele atirou.”
Ele contou que foi levado para dentro de uma casa enquanto perdia muito sangue e alternava momentos de consciência e apagões. “Eu sentia que eu estava sangrando muito. Eu sentia que eu estava ficando muito fraco. Muitas vezes eu apagava. E aí alguém me acordava.”
Bernardo disse que pediu insistentemente para que um dos colegas ligasse para sua mulher. Ele afirmou que tinha a sensação de que poderia morrer antes da chegada do socorro. “Cara, liga para a minha mulher, liga para a minha mulher, liga para a minha mulher. Eu sabia que eu estava bem ruim. Preciso falar com ela, eu queria me despedir.”
Imagens do resgate feitas durante a operação mostram a tentativa dos agentes de abrir uma rota de fuga em um beco estreito, sob tiros, inclusive com a tentativa de derrubar uma parede de concreto para permitir a passagem.
Sem equipamentos médicos adequados no local, os policiais improvisaram talas com pedaços de madeira para conter o sangramento. Em seguida, Bernardo Leal foi carregado nas costas até uma motocicleta, utilizada para levá-lo para fora da comunidade.
“Eu me lembro do Anderson, quando ele me bota nas costas, ele está sem o colete para conseguir subir a escada”, contou.
No hospital, de acordo com o relato, médicos chegaram a avaliar que ele tinha apenas 3% de chance de sobreviver, além de uma suspeita de morte cerebral. Bernardo sofreu uma hemorragia intensa após o tiro de fuzil atingir a coxa direita, fraturar o fêmur e romper a artéria e a veia femoral.
O delegado passou por nove cirurgias. A primeira amputação foi feita abaixo do joelho, na tentativa de preservar parte da perna, mas novas intervenções foram necessárias. “Cada cirurgia foi subindo mais a amputação”, relatou.
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