Paciente em surto tem acesso a bisturi e mutila genitais dentro da Restauração
Família denuncia negligência após homem de 42 anos se automutilar na sala de recuperação; caso foi levado à polícia
Um homem de 42 anos, internado em surto psicótico no Hospital da Restauração (HR), no Recife, decepou o próprio pênis e os testículos após ter acesso a um bisturi dentro da unidade de saúde. O caso ocorreu depois de uma cirurgia para tratar ferimentos provocados pelo próprio paciente e é alvo de denúncia por negligência hospitalar.
Segundo a família, o homem deu entrada no HR após se ferir no pescoço, punho e antebraço durante o surto. Ele foi submetido a procedimento cirúrgico e, na sequência, encaminhado para a sala de recuperação, sem direito a acompanhante.
Bisturi ao alcance na sala de recuperação
De acordo com a sobrinha do paciente, que prefere não se identificar, o episódio ocorreu quando ele pediu para ir ao banheiro após a cirurgia.
“Depois da cirurgia, ele pediu a uma técnica para ir ao banheiro e ela o levou porque ela achou que ia segurar um paciente que estava em surto. E aí, antes de pedir, ele avistou um bisturi que estava em uma mesa”.
Questionada sobre o local onde o material estava, ela afirmou:
“Na sala de recuperação, onde ele estava. Entrou no banheiro, aí ele fechou a porta e se encostou. E aí ele cortou o órgão genital dele, do banheiro. Foi muito sangue, por ser uma área muito vascularizada, né? Então, o sangue invadindo tudo, ela chamou os seguranças, vieram e conseguiram levar ele”.
Após o episódio, o homem foi submetido a uma segunda cirurgia de emergência. Os órgãos decepados teriam sido jogados pela janela do hospital e, até o fechamento da reportagem, não haviam sido localizados.
Direito a acompanhante só após a mutilação
Um documento do próprio hospital aponta que somente após a automutilação o paciente passou a ter direito a acompanhante. No prontuário, a equipe médica também registrou a necessidade de tratamento psiquiátrico.
Imagens obtidas pela família mostram que, depois da segunda cirurgia, o homem foi amarrado ao leito.
Família diz que hospital demorou a comunicar o ocorrido
A sobrinha relata que a família só tomou conhecimento da gravidade do que aconteceu no dia seguinte.
“Eu só fiquei sabendo no outro dia, quando eu fui para a visita. Já era 14h da tarde. E fiquei na frente do hospital de duas horas até cinco, que foi a hora que eu consegui entrar no hospital. E eles ficaram enrolando, enrolando para poder falar.
E eu perguntando, e aí, morreu? Aconteceu alguma coisa? Por que não falam? Não sei o quê. E aí, o serviço social de baixo colocou eu para o terceiro andar, para poder a assistente social de cima conversar comigo”.
Paciente fora do surto, mas emocionalmente abalado
Após recobrar a consciência, o homem contou aos parentes o que havia acontecido. Segundo a sobrinha, ele já não estava mais em surto.
“Eu consegui ter acesso a ele. Eu o vi, só que ele estava desorientado. E aí eu fiquei já sendo acompanhante dele”.
Questionada se o tio lembrava do episódio, ela afirmou: “Ele relata tudo. Ele lembra de tudo o que aconteceu. Ele já não está mais em surto, passou”.
Sobre o estado emocional atual, a sobrinha relatou: “Sim, pela negligência, né? Porque ele não estava em si. Porque para você fazer uma coisa dessa, você não está em si”.
Ela também destacou a preocupação do paciente com o futuro: “Sim, ele não sabe o que fazer de agora. Ele também está com muita vergonha porque as pessoas agora já estão sabendo do que aconteceu. Ele foi transferido para outro hospital”.
Caso é levado à polícia e hospital é denunciado
A família registrou boletim de ocorrência e cobra responsabilização do hospital. A advogada Gabriela Valadares acompanha o caso.
“Comparecemos à Delegacia do Espinheiro, formalizamos o boletim de ocorrência, pedindo providências por parte da autoridade policial. Informamos também que o hospital está negando acesso ao prontuário médico, que é um direito do paciente. E estamos tomando as medidas legais necessárias a fim de apurar a conduta praticada pelo hospital e pelos profissionais envolvidos nessa situação”.
A reportagem do JT2, da TV Tribuna PE/Band, procurou o Hospital da Restauração para esclarecimentos sobre as denúncias, mas, até o fechamento da matéria, não obteve resposta.
Comentários