Mulher é morta pelo ex em AL após deixar Caruaru para fugir de ameaça
Maria Graciele dos Santos, de 25 anos, foi morta a tiros enquanto dormia ao lado dos filhos em Coruripe
A tentativa de fuga de uma rotina de violência terminou em tragédia na madrugada desta terça-feira (9), no povoado de Pindorama, em Coruripe, litoral de Alagoas. Maria Graciele dos Santos, de 25 anos, foi executada a tiros dentro de casa pelo ex-marido. A vítima havia se mudado de Caruaru, no Agreste pernambucano, há menos de um mês, justamente para se esconder das agressões e ameaças de morte feitas pelo autor do crime.
A execução na frente das crianças
A covardia do feminicida é tão grande que ele não se preocupa com os filhos. Segundo as investigações, o crime ocorreu enquanto Maria Graciele dormia ao lado de seus dois filhos pequenos. De acordo com as informações apuradas, o ex-companheiro invadiu a residência e disparou contra a vítima, atingindo-a fatalmente na região do pescoço.
A perícia confirmou que a jovem morreu no local, antes que qualquer socorro pudesse ser prestado. Apesar da brutalidade da ação e da proximidade, as duas crianças que estavam na cama não sofreram ferimentos físicos. O atirador fugiu logo após os disparos. (Veja abaixo, o que fazer se você viver uma situação parecida com a de Maria Graciele)
Investigação e busca por cúmplice
O caso está sendo tratado pela Polícia Civil como feminicídio. As investigações iniciais, conduzidas pelo delegado James Bernard Aita Silveira, da Unidade de Atendimento ao Local de Crime II, apontam para a possível participação de um segundo envolvido. A polícia apura a existência de um outro homem que estaria aguardando em um carro para dar fuga ao assassino.
O inquérito agora segue sob a responsabilidade da Delegacia de Homicídios da 7ª Região de Penedo, liderada pelo delegado Maurício Cruz. Até o momento, o suspeito não foi capturado. Segundo uma das testemunhas, o ex-dela tinha passado dois dias dentro de um carro vendo sua rotina antes de cometer o crime.
O silêncio provocado pelo medo
Relatos de familiares indicam que a mudança de Graciele para o estado vizinho, ocorrida há cerca de 20 dias, foi uma medida desesperada de sobrevivência. A família contou que ela vivia sob constante terror e já havia pedido que cuidassem de seus filhos caso o pior acontecesse.
O medo de represálias por parte do ex-marido era tamanho que a vítima optou por não registrar boletins de ocorrência contra ele enquanto estava em Pernambuco, o que infelizmente não impediu que ele a localizasse em outro estado.
Veja também: Preso por tentativa de feminicídio, secretário de Calumbi não foi exonerado
O que fazer em casos semelhantes ao de Maria Graciele?
O medo da represália é um sentimento legítimo e a principal barreira para a denúncia. O ciclo da violência e as ameaças fazem com que a vítima se sinta sozinha e sem saída.
No entanto, existem ferramentas e estratégias que podem ser usadas de forma discreta para garantir a proteção e a segurança, mesmo antes de uma denúncia formal.
AÇÃO 1: construa o registro seguro e discreto
Se você teme ir à polícia imediatamente, comece a construir provas de forma sigilosa. Você precisa de evidências que comprovem o seu relato.
Documentação médica: após qualquer agressão física, procure uma unidade de saúde (hospital ou posto) e relate ao profissional de saúde que a lesão foi causada por violência doméstica. O sistema de saúde é obrigado a notificar o caso às autoridades. Essa ficha médica vale como prova, mesmo que você não faça o B.O.
- Armazenamento de provas digitais: use um celular antigo ou um e-mail secreto (que o agressor não saiba) para armazenar:
- Áudios e Vídeos: Gravações de ameaças ou discussões (sem que ele veja).
- Prints: Mensagens de texto (SMS, WhatsApp, redes sociais) contendo ameaças.
- Fotos: De lesões, danos materiais ou objetos usados como arma.
- Local de Segurança: Guarde esses arquivos em um pen drive ou em um serviço de nuvem (como Google Drive ou Dropbox), com senhas fortes e sem que o agressor tenha acesso.
AÇÃO 2: acione a rede de apoio e alerta
Você não está sozinha. Crie uma rede de alerta discreta.
Círculo de confiança: escolha 1 ou 2 pessoas de sua absoluta confiança. Compartilhe o plano de segurança (para onde ir, o que fazer) e envie o material de provas para elas.
Código de Emergência: Crie uma palavra-chave ou uma frase secreta com essa pessoa de confiança. Se você enviar essa palavra em uma mensagem ou disser em uma ligação, ela saberá que você está em perigo e deve ligar para o 190.
Procure o CREAS: O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) oferece apoio psicossocial e ajuda a criar um plano de segurança, sem a formalidade imediata de uma delegacia. Eles podem orientar sobre abrigos sigilosos.
AÇÃO 3: exija a medida protetiva
O medo da represália é combatido com a força da lei. A Medida Protetiva de Urgência (MPU) é a ferramenta mais eficaz para afastar o agressor legalmente.
Não precisa ser confrontada: Você pode solicitar a MPU em qualquer Delegacia da Mulher (DDM) ou delegacia comum. O processo é rápido e o juiz decide em até 48 horas. O agressor não é ouvido nesse momento.
Afastamento Obrigatório: A MPU determina que o agressor não pode se aproximar de você, dos seus filhos e nem do seu local de trabalho/moradia.
Descumprimento é Prisão: Se o agressor for notificado da MPU e a descumprir (como tentar entrar em contato ou se aproximar), ele comete um crime com pena de prisão e pode ser preso em flagrante pela polícia.
AÇÃO 4: estratégia de fuga e mudança segura
Se a fuga for inevitável, planeje-a de forma estratégica, focando no sigilo do novo endereço.
Localização secreta: Ao mudar de cidade ou estado, não comunique o destino a parentes distantes ou amigos casuais.
Exclua rastreamento digital: Desative a localização do celular. Exclua redes sociais e evite postar fotos que possam revelar sua nova localização (como paisagens únicas ou detalhes da casa).
Abrigo sigiloso: Se o risco de vida for alto, procure a assistência social para ser encaminhada a uma Casa-Abrigo. Esses locais têm endereço sigiloso e segurança reforçada, sendo o único lugar onde o agressor jamais terá acesso.
Lembre-se: A violência não é uma escolha sua. Você não é culpada. Buscar ajuda é um ato de coragem e de amor-próprio.
Amigos e familiares podem fazer denuncia anônima pelo 180
Em caso de risco imediato, ligar para o 190
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