Teleconsultas de graça para tratar vício em jogos
Governo federal lançou pacote de iniciativas sobre o tema que inclui orientações e atendimento psicológico nas unidades de saúde
Com a popularização dos jogos de aposta, também aumentaram os casos de vício e compulsão. Entre janeiro e junho deste ano, 1.951 pessoas buscaram atendimento psicológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no País por causa do problema, segundo o Ministério da Saúde.
Para enfrentar esse cenário, a pasta, em parceria com o Ministério da Fazenda, lançou um pacote de iniciativas que inclui teleatendimentos gratuitos, orientações nas unidades de saúde e informações sobre o tema no aplicativo Meu SUS Digital.
Especificamente para o Espírito Santo, o secretário de Estado da Saúde, Tyago Hoffman, diz que aguarda mais informações do Ministério da Saúde sobre o anúncio.
“De qualquer forma, o SUS capixaba já oferta teleconsultas voltadas para a saúde mental como um todo. A porta de entrada, nesses casos, é a unidade de saúde”.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) também afirmou que casos específicos, como o de vício em apostas, são devidamente encaminhados para atendimento especializado.
O psiquiatra João Paulo Cirqueira vê com bons olhos medidas para auxiliar no tratamento de dependentes. “Quando o Ministério publica uma linha de cuidado específica, ele está dizendo oficialmente: ‘isso é um problema de saúde pública, e o SUS precisa se organizar para cuidar dessas pessoas’”.
Vício
De acordo com o psiquiatra Fernando Furieri, o avanço dos casos acompanha a facilidade de acesso às plataformas de aposta.
“Antigamente você precisava ir a um cassino ou fazer uma aposta na loteria. Agora, você acessa a qualquer momento pelo celular”, afirma o psiquiatra.
Segundo ele, a ilusão de ganho rápido de dinheiro é um dos principais gatilhos para o vício. “Os jogos liberam dopamina no corpo, que causa a sensação de prazer. A sensação de ganhar gera excitação, que faz a pessoa querer jogar mais, acreditando que vai ganhar”.
Apesar da gravidade, o quadro pode ser revertido. O psiquiatra João Paulo afirma que a agilidade é uma grande aliada no tratamento do vício.
“Quanto mais cedo a pessoa ou a família procura ajuda, maiores as chances de reorganizar a vida, reduzir danos e evitar desfechos graves”.
Entrevista
Ex-jogadora: “Perdi salário e peguei empréstimo”
Em abstinência há 10 meses, uma mulher de 51 anos conta, em entrevista a A Tribuna, que os jogos eram um passatempo, até começarem a trazer prejuízos à sua rotina.
A Tribuna - Como você começou a jogar?
Ex-jogadora - Eu comecei em 2021 por conta de um influenciador do TikTok.
O que te motivou foi a possibilidade de ganhar dinheiro?
Por incrível que pareça, não. Eu tenho muito tempo livre, então comecei por não ter nada para fazer, para me distrair.
E o que te fez buscar ajuda?
Foi perceber que estava perdendo todo o meu salário, até começar a recorrer a empréstimos. Isso acabou virando uma bola de neve, até o momento em que apostei todo o salário da minha família.
Foi aí que você procurou o Jogadores Anônimos (J.A.)?
Eu já tinha pesquisado antes e depois do ocorrido resolvi procurar. Comecei a fazer as reuniões on-line todos os dias e a seguir a programação, o que faço até hoje.
Como foi participar da primeira reunião?
Foi algo inusitado. A primeira coisa que ouvi foi que eu era importante. A partir dali eu entendi que estava entre pessoas que me entendiam, que não me julgavam. E que tinha uma rotina para ser seguida.
E como tem sido o tratamento?
O que funcionou para mim foi ficar totalmente sem celular por oito meses. Até hoje o meu dinheiro vai para outra pessoa e tenho um aplicativo que bloqueia sites de aposta.
Qual recado você deixaria sobre o vício em jogos?
Quem percebe esse traço (tendência ao vício) deve buscar apoio. Porque chegar no fundo do poço é muito difícil, as consequências ficam por muito tempo. Eu perdi minha família e tenho muitas dívidas. É muito cruel.
Entenda
Novas medidas
O Ministério da Saúde e o Ministério da Fazenda assinaram um acordo de cooperação técnica que reúne diretrizes e ações para prevenção e tratamento do vício em jogos de aposta. O pacote inclui ferramentas voltadas à saúde física, mental e financeira dos usuários.
Linha de cuidado para pessoas com problemas relacionados a jogos de apostas
É um documento que reúne orientações para o cuidado do vício em jogos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Prevê atendimento presencial e on-line para facilitar o acesso ao tratamento.
A partir de fevereiro de 2026, a rede pública vai ofertar 450 atendimentos on-line por mês, com possibilidade de aumentar as vagas de acordo com a demanda.
Plataforma de autoexclusão
A partir do dia 10 deste mês será possível solicitar o bloqueio de sites de aposta. Usuários também poderão deixar o CPF indisponível para cadastros ou recebimentos de publicidade dos sites de jogos de azar.
No Estado
O Estado já possui atendimento psiquiátrico gratuito em telemedicina desde fevereiro deste ano.
Em relação à nova medida, a Secretaria de Estado da Saúde informou que os pacientes que precisarem de cuidados específicos, como o caso do vício em apostas, serão devidamente encaminhados.
O acesso ao serviço se dá pela Atenção Primária em Saúde (APS), por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos municípios.
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