Cigarro eletrônico: “Não existe uso seguro de vape”, dizem médicos
Alerta voltou a ser feito após a morte de um adolescente de 16 anos, no Paraná, por sepse e insuficiência respiratória aguda
Médicos são categóricos: não existe uso seguro de cigarro eletrônico. A morte recente de um adolescente de 16 anos, no Paraná, reforça o alerta sobre os riscos graves e subestimados desses dispositivos, proibidos em todo o Brasil.
A pneumologista Karina Tavares Oliveira destacou que não há qualquer nível seguro para o uso de cigarro eletrônico.
Ela explica que esses dispositivos não são regulamentados no Brasil e não passam por testes de composição, concentração ou toxicidade. “A gente nem sabe ao certo o que tem dentro. A única certeza é que há nicotina, que causa dependência rapidamente”.
A médica ressalta que quadros graves estão associados ao cigarro, como a chamada Evali, sigla referente a uma lesão pulmonar causada por produtos tóxicos presentes nos vapes.
“É uma síndrome respiratória aguda que surge pela aspiração dessas substâncias. Pode acontecer em quem já tem histórico respiratório, mas também em pessoas completamente saudáveis”.
Karina destaca ainda que o cigarro eletrônico é difícil de detectar pelos pais porque não deixa cheiro nem sinais comportamentais claros. “Os adolescentes escondem, e os pais não conseguem perceber. O risco é real”, alerta.
A pneumologista Dyanne Dalcomune também enfatiza que não existe forma segura de consumir cigarro eletrônico.
Segundo ela, embora inicialmente se acreditasse que os dispositivos seriam alternativa para fumantes de cigarro tradicional tentarem parar, o uso se tornou um problema de saúde pública. “Cada novo estudo mostra que o vape é extremamente maléfico”.
Ela destaca que o dispositivo combina fatores que favorecem a dependência: acesso fácil, ausência de odor e nicotina viciante. “Criança e adolescente usam no banheiro da escola, voltam para a sala e ninguém percebe”.
O cardiologista Emílio Júnior pontuou que não é à toa que a Sociedade Brasileira de Cardiologia tem um posicionamento oficial contra o uso de dispositivos eletrônicos para fumar.
Além dos perigos pulmonares, ele apontou riscos para o coração. “São substâncias voláteis, inflamatórias, solventes, derivados de petróleo. Tudo isso inflama o organismo. Se eu aumento inflamação, aumento chance de arritmia, infarto e entupimento de artérias. Em pessoas predispostas, o risco é ainda maior”.
“Acabou com minha família”, diz mãe
Morte por uso de vape
O adolescente Vitor da Silva, de 16 anos, morreu no Paraná após complicações relacionadas ao uso de cigarro eletrônico. O atestado de óbito apontou sepse de foco pulmonar e insuficiência respiratória aguda decorrentes do uso do vape.
Um dia antes, o padrasto do jovem, João Gonçalves, 55, morreu de infarto ao visitá-lo no hospital.
A mãe, Angélica da Silva, contou que descobriu o uso do vape durante a internação do filho, que vinha usando o dispositivo há dois meses.
Os primeiros sintomas apresentados por Vitor foram vômitos e dor de garganta, evoluindo para falência renal e infecção pulmonar, o que levou à UTI. “Esse cigarro eletrônico acabou com a minha família”, lamentou.
Entenda
O que é vape?
É um dispositivo que funciona com uma bateria que aquece uma solução líquida, liberando vapor. Ele imita o ato de fumar.
Eles podem usar líquidos com ou sem nicotina; outros operam com cápsulas, sais de nicotina, refis aromatizados ou folhas de tabaco aquecidas.
No vapor do vape já foram identificados quase dois mil produtos químicos, incluindo produtos industriais e pesticidas.
Proibição
No Brasil, é proibido fabricar, vender, importar, divulgar ou distribuir todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar desde 2009.
Todos os produtos comercializados são fruto de contrabando, sem qualquer controle de qualidade ou garantia de segurança. Por isso, não é possível saber o que de fato tem em sua composição.
Por que vicia?
No líquido do vape há nicotina, que causa a dependência.
Quando a substância cai na corrente sanguínea, é absorvida e vai para o sistema nervoso central, ocorrendo a liberação de neurotransmissores que dão sensação de prazer.
Quando o nível desses neurotransmissores começa a cair, a pessoa tem vontade de fumar novamente.
Doenças
Entre os problemas causados pelo uso do cigarro eletrônico estão a Evali (sigla em inglês para lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico).
Também está associado à piora dos quadros de asma e bronquite.
O vape pode causar, ainda, falta de ar e tosse que podem evoluir para uma doença pulmonar obstrutiva crônica.
O uso ainda aumenta o risco de problemas cardiovasculares, como infarto.
Expõe os usuários a substâncias tóxicas: formaldeído, acroleína, diacetil e metais pesados.
Causa dependência de nicotina, especialmente nas versões com sais de nicotina.
Há risco potencial de câncer.
Nem todos os riscos são conhecidos, então novas evidências continuam surgindo.
Fonte: Ministério da Saúde e médicos entrevistados.
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