Sem mão de obra local, empresas do ES trazem trabalhadores do Nordeste do Brasil
Há empresas no setor metalúrgico e metalomecânico, por exemplo, fazendo esse movimento
Empresas do Espírito Santo com dificuldade de contratar têm trazido trabalhadores da região Nordeste do País para atuar em terras capixabas, oferecendo subsistência e alojamento, em alguns casos. Há empresas no setor metalúrgico e metalomecânico, por exemplo, fazendo esse movimento, segundo o consultor empresarial Durval Vieira de Freitas.
“As empresas conseguem novos projetos e não têm mão de obra, e olha que o Estado tem uma das menores taxas de desemprego do País. São trabalhadores que vêm de estados como Alagoas e Maranhão”.
Ele citou a Imetame e a Estel como exemplos de empresas que, em muitas vezes, oferecem subsistência e alojamentos, além de ganhos extras por produtividade, para atrair esses trabalhadores.
O diretor-presidente da Grand Construtora, Rodrigo Barbosa, contou que trabalhadores vêm do Nordeste para trabalhar nas construções, de estados como Pernambuco e Sergipe, e elogiou o trabalho desses profissionais.
Ainda no setor da construção civil, Fernando Otávio Campos, diretor do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Guarapari, contou que empresas da cidade também trazem profissionais do Nordeste para o Estado.
Hoje, empresários de todos os setores enfrentam o mesmo desafio de encontrar profissionais preparados para acompanhar a velocidade dessas mudanças, segundo o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Findes), Paulo Baraona.
“A formação técnica continua fundamental nesse processo, mas precisamos ainda ir além e discutir como contratamos os profissionais, como reconhecemos o trabalho e como modernizamos nossas leis para acompanhar as novas realidades produtivas”.
Com o mercado de trabalho mais aquecido, o número de profissionais disponíveis para contratação diminui, o que aumenta a concorrência entre as empresas por talentos e reduz a oferta de mão de obra qualificada e disposta a aceitar determinadas condições, destacou Kleber Alves, especialista em carreiras e diretor da Educavix.
“Setores como comércio, indústria e serviços, geralmente com jornadas longas, escalas rígidas e trabalho presencial, têm tido mais dificuldade de atrair candidatos, especialmente em funções operacionais ou atendimento”.
Alternativas com automação
A automação tem se mostrado uma alternativa viável em diversos segmentos da economia e tem sido a saída para várias empresas.
Nos setores em que a operação permite maior incorporação de tecnologia, os investimentos têm crescido, com o objetivo de atenuar o chamado “apagão de mão de obra”, segundo José Carlos Bergamin, vice-presidente da Federação do Comércio do Estado (Fecomércio-ES).
“Ainda assim, estamos longe de substituir trabalhadores em larga escala por robôs humanizados. A automação, por ora, concentra-se sobretudo em tarefas repetitivas e de menor complexidade”, contou.
A automação ajuda a manter estabilidade e reduzir custos, mas não substitui pessoas — substitui tarefas, disse Martha Zouain, diretora da Psico Store Gente & Gestão.
“Com isso, ela abre espaço para que as pessoas assumam funções de maior valor: atendimento qualificado, análise de dados, tomada de decisão, experiência do cliente e inovação. Empresas que combinam automação inteligente com requalificação têm melhores resultados e menor rotatividade. É um movimento inevitável”, afirmou.
Sistemas de autoatendimento, processos robotizados, softwares de gestão e inteligência artificial são ferramentas que vêm sendo implementadas tanto em grandes indústrias quanto no varejo, destacou Kleber Alves, especialista em carreiras e diretor da Educavix.
62% das indústrias com dificuldades
Empresas de diferentes setores relatam “apagão de mão de obra”, especialmente mais qualificada — mesmo com taxa de desemprego na mínima histórica.
Dados recentes divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que 62% das empresas do setor alegam dificuldade em contratar mão de obra qualificada.
O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Paulo Baraona, diz que os dados mais recentes do Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027, do Senai e CNI, mostram que será necessário qualificar 279,7 mil profissionais no Estado até 2027.
“O número contempla a formação de 47,4 mil novos profissionais e de requalificação de outros 232,4 mil que já estão no mercado”.
Segundo Baraona, vários segmentos industriais precisam de profissionais qualificados. Entre as áreas com maior demanda estão: Logística e Transporte, Construção, Manutenção e Reparação, Operação industrial e Metalmecânica.
Análise
“O mercado de trabalho vive uma transformação estrutural”
“O mercado de trabalho vive uma transformação estrutural. As empresas enfrentam dificuldade de contratar não apenas pela escassez de mão de obra, mas também pela mudança profunda no perfil do trabalhador.
Estudos recentes do Fórum Econômico Mundial mostram que 44% das competências exigidas hoje já são diferentes das de cinco anos atrás.
E já em 2023, o Instituto Global da McKinsey apontava que até 50% das atividades poderiam ser automatizadas, acelerando a busca por profissionais mais adaptáveis, digitais e capazes de aprender continuamente.
O desafio das empresas não é apenas encontrar pessoas, mas atrair talentos alinhados à nova lógica do trabalho: flexibilidade, propósito, desenvolvimento e ambiente psicologicamente seguro.
Para isso, será decisivo investir em qualificação, liderança humanizada e propostas de valor consistentes. A competição, agora, é por profissionais, não apenas por consumidores”.
Saiba Mais
Dificuldade para grandes empresas
A dificuldade para contratar passa também pelas grandes empresas, que não preenchem totalmente as vagas abertas. Empresas que buscam contratar enfrentam um mercado menos abastecido de potenciais trabalhadores, o que pode resultar em dificuldades para encontrar perfis qualificados ou dispostos a aceitar determinadas condições de trabalho.
Informação recente divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que 62% das empresas da indústria afirmam ter dificuldade em contratar mão de obra qualificada.
Perfis mais completos
Hoje, as empresas buscam perfis mais completos — profissionais que combinem técnica, autonomia, postura comportamental, adaptabilidade e visão de negócio. E esse perfil não é tão fácil de encontrar.
Além disso, há um desalinhamento entre a realidade da vaga e a proposta de valor da empresa; uma aceleração tecnológica que exige competências digitais ainda pouco desenvolvidas; e uma mudança social profunda, em que o trabalho deixou de ser apenas fonte de renda e passou a ser experiência, propósito e qualidade de vida.
Rotatividade
Outro fator decisivo é o aquecimento econômico e do mercado de trabalho em determinados períodos, como ocorreu em 2022 e 2024. Em cenários de maior crescimento, surgem novas vagas e ofertas de remuneração mais atrativas, o que motiva parte dos trabalhadores a buscar melhores oportunidades.
O resultado é uma intensificação do fluxo de saídas e entradas em diferentes setores, evidenciada pelo fato de que, nesses anos, quem mudou de emprego apresentou um crescimento superior no rendimento de trabalho.
Trabalho das instituições
O trabalho das instituições de ensino é tentar oferecer aos estudantes qualificações para áreas mais tecnológicas, com maior oferta de vagas e remuneração, para tentar reverter este cenário.
Outro dos possíveis motivos para a crise de mão de obra pode ser visualizado ao olhar para o detalhe dos números do IBGE sobre emprego. Desde a pandemia, os trabalhadores vêm trocando mais de trabalho.
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