Empresas reduzem atendimentos e serviços por falta de empregados
Além dos supermercados, problema afeta bares, restaurantes, padarias, hotéis e outras empresas de comércio e serviços no Espírito Santo
Sem gente para trabalhar, empresas dos setores de comércio e serviços têm sido obrigadas a reduzir suas operações e o atendimento por conta da falta de profissionais.
No Espírito Santo, os supermercados já anunciaram que vão deixar de funcionar aos domingos a partir de março, mas a situação se repete em outras atividades. Bares, restaurantes, padarias, gráficas, hotéis e pousadas, por exemplo, têm reduzido os horários de funcionamento e operado com equipes menores.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado (ABIH-ES), Fernando Otávio Campos, destacou que a falta de mão de obra tem impactado no surgimento de novos negócios, no atendimento com qualidade — principalmente na alta temporada — e até na manutenção de novos negócios no setor hoteleiro.
Campos citou que uma pousada na Praia do Morro, em Guarapari, informou que deixará de ofertar café da manhã e irá terceirizar o serviço de limpeza pela dificuldade com número de funcionários. Outra pousada, em Meaípe, disse estar oferecendo mais benefícios para buscar manter os trabalhadores.
“O Estado precisa do turismo e o turismo precisa da hotelaria. Temos buscado mudar o regime de trabalho, como o 12x36, em que o funcionário tem oportunidade de ter ganhos extras, trabalha menos e folga, alternadamente, aos domingos, para atrair mais profissionais”, disse Campos.
Já o presidente do Sindicato dos Restaurantes, Bares e Similares do Estado (Sindbares), Rodrigo Vervloet, disse que o setor é um dos que mais emprega, e que há situações de mudanças e redução de horário de funcionamento.
“Tem estabelecimento que funcionava pela manhã e também à noite, e que agora só funciona um turno, por exemplo”.
Nas funções de menor qualificação e menor remuneração, as dificuldades de contratação e reposição têm sido maiores, especialmente quando o trabalho envolve horários noturnos ou finais de semana, segundo o vice-presidente da Federação do Comércio do Estado (Fecomércio-ES), José Carlos Bergamin.
“Como consequência, a baixa produtividade e o aumento dos custos tem levado muitas empresas a reduzirem o funcionamento, adiar expansões e até postergar novos negócios”.
A presidente do Sindicato dos Lojistas (Sindilojas) de Vila Velha e da Uniglória, Glenda Amaral, afirmou que empresas enfrentam dificuldade em reter funcionários, aumentando a escassez devido à alta rotatividade.
Proprietário de uma gráfica com quatro unidades em Vila Velha, um empresário falou sobre a dificuldade em atender todos os consumidores adequadamente. Ele disse que, por não conseguir preencher todas as vagas, o atendimento fica prejudicado.
Fechamento aos domingos
A escassez de mão de obra foi o principal motivo para o fechamento de supermercados, hipermercados, autosserviços, atacadistas, atacarejos, mercearias, hortifrutis e lojas de materiais de construção aos domingos, entre 1º de março e 31 de outubro de 2026.
Além disso, o superintendente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), Hélio Schneider, salientou que o descanso aos domingos para esses funcionários é uma reivindicação antiga do Sindicato dos Comércios do Estado (Sindicomerciários).
A taxa de desemprego no ES chegou a 3,1% no 2º trimestre de 2025, menor índice desde 2012. Mesmo assim muitas empresas enfrentam dificuldade para preencher vagas de trabalho, destacou Kleber Alves, especialista em carreiras e diretor da Educavix.
Segundo Martha Zouain, diretora da Psico Store Gente & Gestão, os jovens não querem só trabalhar menos, mas de outro jeito, pois cresceram em um mundo veloz, digital e conectado, e têm menor tolerância a modelos autoritários.
“Eles buscam autonomia, rejeitam ambientes tóxicos e valorizam qualidade de vida. Quando encontram empresas que insistem em práticas antigas, não permanecem. Não é falta de vontade, é falta de aderência cultural”.
“Pecando no atendimento”
Dono de padaria, Manoel Almeida Junior, o Junior Jodima, 44, contou que, por ter poucos funcionários, enfrenta desafios para atender os clientes. “Minha padaria tinha 70 pessoas e hoje tem 49. Com isso, acabamos deixando a desejar no atendimento, que fica mais demorado. A gente acaba pecando por conta da falta de mão de obra”, disse ele, que também é presidente da Associação da Indústria de Panificação do Estado (Aipães).
Saiba Mais
Redução de atendimento
A baixa produtividade resultante da falta de mão de obra qualificada, somada ao aumento significativo dos custos, tem levado muitas empresas a reduzirem horários de funcionamento, adiar expansões e até postergar a abertura de novos negócios.
Preocupação
Segundo pesquisa divulgada no início deste ano pela consultoria PwC, a falta de profissionais qualificados na indústria e no comércio preocupa 41% dos empresários. O percentual é superior aos temores relacionados a crimes cibernéticos (31%) e ao avanço da inflação (28%).
“Vagas de entrada”
O primeiro emprego e os empregos para aqueles sem experiência no ramo de atuação são citados como o principal gargalo. Rodolpho Tobler, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), afirmou que o cenário esvazia, principalmente, as colocações de baixa remuneração e carga horária de trabalho elevada.
Busca por soluções
Algumas empresas vêm repensando suas estratégias de contratação e gestão de pessoas. A flexibilização da jornada de trabalho, a adoção do modelo híbrido, quando possível, e a criação de novos benefícios surgem como alternativas para aumentar a atratividade das vagas.
Embora nem todas as funções permitam o trabalho remoto — como é o caso das atividades presenciais em lojas e serviços —, oferecer escalas mais equilibradas, folgas programadas, jornadas reduzidas ou bonificações diferenciadas pode fazer diferença na hora de preencher uma vaga.
Além disso, ter gestores preparados, ambiente emocionalmente seguro, jornadas humanizadas, planos de carreira claros, processos definidos e coerência entre discurso e prática.
Detalhes
Contrastes
No momento em que a taxa de desemprego do Espírito Santo e do Brasil aparecem no menor nível da história, cresce o número de empresários que têm relatado dificuldade para contratar e reter profissionais em diferentes setores.
No Estado, a taxa de desocupação, no segundo trimestre deste ano, atingiu o menor patamar da série histórica, iniciada em 2012.
O resultado foi de 3,1%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Essa dificuldade se intensifica com a mudança de comportamento da nova geração de trabalhadores. Jovens que estão ingressando no mercado de trabalho têm demonstrado preferência por empregos que ofereçam flexibilidade, propósito e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
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