Construção civil busca iniciativas para reduzir tempo de obras
Medida também busca reduzir o impacto do déficit de mão de obra no segmento
A construção civil do Espírito Santo têm buscado iniciativas para otimizar o tempo das obras e também reduzir o impacto do déficit de mão de obra no segmento.
No primeiro semestre deste ano, representantes do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado (Sinduscon-ES) chegaram a viajar à China e ao Oriente Médio para visitar indústrias do setor e conhecer as estratégias desses países para os dois pontos.
Conforme explica o diretor de materiais e tecnologia do Sinduscon-ES, Fernando Felz, ferramentas como drones para fiscalização, capacetes com câmeras, utilização de projetores, equipamentos para pintura e painel de fechamento de alvenaria externa e interna são alguns exemplos de técnicas utilizadas para agilizar o trabalho com menor necessidade de funcionários.
Segundo Felz, já há empresas no Estado que chegam a utilizar robôs para fazer painéis que são instalados em fachadas de prédios. Isso tem, segundo o diretor, permitido um menor número de profissionais nas obras.
“Há uma grande dificuldade de se renovar a mão de obra na construção civil, porque é um trabalho braçal e cansativo. Mesmo pagando bem, muitos preferem ficar no ar-condicionado de uma loja, por exemplo”.
Felz também explica que estruturas pré-moldadas, tanto de concreto quanto de drywall vêm ganhando mercado.
“A preferência no Brasil ainda é pelo concreto. Apesar de ter crescido, ainda há certa resistência quanto ao drywall”, afirma.
Fora do País, há iniciativas que vão além, como a da americana startup Boxabl, que criou modelos de casas inteiras pré-moldadas que podem ser construídas em apenas 60 minutos.
Feitos de aço, concreto e placas de EPS (vulgarmente conhecido como 'placa de isopor'), são entregues já mobiliados com geladeira, fogão, lavadora e secadora.
A proposta ainda enfrenta desafios logísticos e regulatórios fora dos Estados Unidos, mas especialistas apontam que a ideia pode transformar o setor de construção modular e abrir novas possibilidades para moradias rápidas, sustentáveis e economicamente previsíveis.
“O setor da construção civil trabalha com base na necessidade do cliente. Uma tecnologia, quando surge, nunca surge com preço baixo, então demora um tempo até ser assimilada. Iniciativas como a da Boxabl podem, no futuro, se tornar realidade no Brasil, apesar de não ser algo a curto-prazo”.
Controle de lavoura pelo celular
Nos últimos três anos, a Lasa Bioenergia investiu mais de R$ 30 milhões em novas tecnologias e automação, que estão transformando a rotina no campo em Linhares.
Boa parte dos recursos foi direcionada à modernização das máquinas e ao aprimoramento do sistema de irrigação, que pode ser controlado até mesmo por celular.
O sistema por carretel autopropelido é capaz de aplicar vinhaça, fertilizantes e água de forma automatizada. Tudo isso utilizando energia elétrica gerada pela própria usina, a partir do bagaço da cana, um exemplo prático de economia circular.
Segundo a empresa, o processo começou por necessidade, para contornar a falta de mão de obra na região.
O sistema foi adaptado dentro da própria fazenda para atender à demanda. O funcionamento é simples e eficiente, o carretel se locomove sozinho, simulando chuva sobre plantações.
Os resultados aparecem no campo: nas áreas irrigadas, a produtividade triplicou, e o tempo de vida útil do canavial aumentou de quatro para dez anos. A mecanização também chegou à colheita. Onde antes dezenas de trabalhadores atuavam manualmente, agora há máquinas modernas.
“A tendência para o futuro é o georreferenciamento total, com o uso de GPS”, explica Jessé Domingos Souza, coordenador de oficina e logística da Lasa
Riscos e oportunidades com a Inteligência Artificial
O mercado global de inteligência artificial (IA) deve alcançar 4,8 trilhões de dólares (cerca de R$ 27 trilhões) até 2033, informou a ONU. A organização alertou que quase metade dos empregos em todo o mundo poderiam ser afetados.
Enquanto a IA transforma as economias, criando uma variedade de oportunidades, também traz riscos de aprofundar as desigualdades. A ONU Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) explica isso em um novo relatório.
Segundo o documento, o uso da IA “poderia afetar 40% dos empregos em todo o mundo, gerando ganhos de produtividade, mas também trazendo preocupação sobre a automação e a perda de postos de trabalho”.
Por outro lado, a ONU lembra que a IA não se limita a substituir postos de trabalho, mas também pode criar novas indústrias e empoderar os trabalhadores.
“Investir em reciclagem, melhora das qualificações e adaptação da mão de obra é essencial para garantir que a IA melhore as oportunidades de emprego ao invés de eliminá-las”, indica o comunicado.
Análise
“Tecnologia amplia trabalho humano”
Luciano Raizer, diretor da Associação Capixaba de Tecnologia (Act!on)
“A tecnologia, como as inteligências artificiais, não vão substituir a mão de obra totalmente, mas vão potencializar os empregos já existentes.
Quem trabalha na área administrativa poderá ter um volume de trabalho muito maior com essa ferramenta, e essa realidade se aplica a outros ambientes, como até mesmo os canteiros de obra.
Em resumo: a tecnologia amplia a capacidade do trabalho humano. Vai precisar de menos profissional? Vai. mas ainda vai precisar do profissional, especialmente daquele saiba utilizar a ferramenta, e que vai ter uma produtividade muito maior.
Mais do que o avanço tecnológico em si, é essencial preparar as pessoas para lidar com essas novas tecnologias que se tornarão cada vez mais comuns no trabalho”.
Falta de Profissionais
Cenário local
- Diretores e a presidência do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-ES) chegaram a elaborar uma carta para o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, com os desafios e propostas apontadas, durante um evento realizado em setembro deste ano.
- Entre os principais assuntos elencados na carta estão desafios ligados à qualificação e formação de mão de obra, pedidos de valorização da educação e ainda modernização das relações de trabalho.
- O documento destaca que uma das principais preocupações levantadas no encontro foram os desafios de se achar profissionais preparados para atender aos negócios em andamento.
- Segundo a carta, apesar do cenário de pleno emprego, com a menor taxa de desemprego dos últimos 40 anos, o Estado enfrenta uma escassez crítica de profissionais qualificados.
- Apenas 15,3% da população têm ensino superior completo, um desafio para o Plano ES 500 Anos – planejamento estratégico para os próximos 10 anos no Estado, que prevê um aumento para 20%”, diz a carta.
Problema é mundial
- A carta dos empresários do Estado ao governador reflete uma realidade que não se limita ao Espírito Santo. Outros estados do Brasil, assim como uma série de países, relatam o mesmo problema: falta de mão de obra em inúmeras áreas como construção civil, comércio, indústria e o setor de serviços.
- De acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 57% das principais ocupações do comércio apresentaram indícios de escassez de mão de obra em julho de 2025 – a maior incidência desde 2020.
- Países da Europa e da Ásia já estão utilizando robôs automatizados para reduzir esse problema, realidade esta que também já começa a se aproximar do Brasil.
- No Japão, por exemplo, uma empresa lançou um serviço de robôs terceirizados. As máquinas são alugadas por um valor de ¥1.500 (R$ 52,16, na cotação atual) por hora, oferecendo uma alternativa acessível para fábricas que querem automatizar processos sem alto investimento inicial. O serviço cobre tanto robôs industriais quanto de serviço, mas o foco principal é o uso de robôs colaborativos (cobots) em linhas de produção.
- Na Europa, a Mercedes-Benz está testando robôs humanóides para executar tarefas da linha de produção e avaliar a qualidade de materiais em fábricas do grupo.
China na liderança
- Segundo relatório da Federação Internacional de Robótica, mais de 2 milhões de robôs operavam em fábricas chinesas em 2024. As fábricas do país instalaram quase 300 mil novos robôs, mais que o resto do mundo somado; nos EUA, o número foi de 34 mil.
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