Gestão por propósito: “É preciso criar conexões para reter talentos”
Palestrante do evento “Em Pratos Limpos”, Thomas Eckschmidt falou da importância do profissional entender o sentido de seu trabalho
O impacto na retenção de talentos vai muito além da simples troca entre horas trabalhadas e salário pago. Mas o que realmente impulsiona a permanência de um talento em uma empresa?
À reportagem, o executivo e cofundador do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, Thomas Eckschmidt, abordou o tema. Ele foi o palestrante da segunda edição do evento “Em Pratos Limpos” deste ano, com o tema “Gestão por propósito: Um novo olhar para o futuro dos negócios”, promovido pela Rede Tribuna, em parceria com Sebrae e Sicredi, no último dia 12.
A Tribuna — Como a gestão por propósito pode ajudar as empresas a identificar quando é a hora de revisar sua missão?
Thomas Eckschmidt — Quando uma empresa decide tornar o propósito parte da gestão, isso significa que, na tomada de decisão, estamos considerando não apenas os indicadores econômicos, mas também os de impacto.
Esse equilíbrio é difícil de ser alcançado, pois é como se pensássemos que, como indivíduos, pudéssemos ser ambidestros, escrevendo com as duas mãos, tanto com a direita quanto com a esquerda. Em uma empresa, alcançar essa ambidestria não é fácil.
Primeiro, é necessária uma atualização na liderança, para que as pessoas compreendam que suas presenças e talentos devem ser complementares.
O momento certo para revisar o propósito surge quando percebemos que, ao escrevê-lo pela primeira vez, tivemos clareza sobre o contexto e as condições socioeconômicas. À medida que essas condições se distanciam da origem do propósito, a necessidade de revisão se torna evidente.
Em empresas mais tradicionais, em ambientes de negócios mais industrializados, esse movimento é mais lento. Já em empresas de tecnologia, as mudanças socioeconômicas no entorno acontecem mais rapidamente.
Como os líderes podem se adaptar para engajar as gerações mais jovens, que frequentemente rejeitam o modelo de capitalismo tradicional?
Uma questão muito interessante ao falarmos sobre proposta de valor para as futuras gerações é entender que, em um mundo mais abundante e acessível, temos à disposição uma enorme variedade de recursos — transporte, mobilidade, conteúdo, conhecimento, entre outros. Nesse contexto, a qualidade das relações deixa de ser transacional e passa a ser mais voltada para a experiência.
Na prática, o que buscamos não é apenas consumir produtos ou serviços, mas viver experiências. O que queremos agora é algo mais significativo: experiências que nos conectem emocionalmente.
Quando falamos sobre gerar valor, o foco se desloca: o consumo material perde relevância em comparação ao consumo emocional. A verdadeira proposta de valor reside em como conseguimos criar uma conexão emocional com nossa audiência. No entanto, essa audiência não se limita apenas aos consumidores, mas também inclui colaboradores, fornecedores e a comunidade ao redor.
É sobre as relações que conseguimos estabelecer a partir da nossa presença e como essas conexões agregam valor real à vida das pessoas.
Qual é o impacto do propósito na retenção de talentos e na criação de um ambiente de trabalho mais saudável?
Um dos impactos mais significativos na clarificação do propósito organizacional e na implementação de uma cultura voltada para a geração de valor é a criação de conexões mais profundas com os colaboradores, essenciais para reter talentos e fortalecer o compromisso com a missão da empresa.
Quando o colaborador entende que seu trabalho tem um propósito, uma razão de ser e um impacto no futuro, ele percebe que sua contribuição vai além de uma simples troca de horas por salário. Em vez de se tratar apenas de um turno de trabalho em troca de remuneração, o trabalho ganha um significado mais profundo.
À medida que essa relação transacional evolui, as empresas começam a buscar não apenas talentos, mas também compromisso. Os colaboradores, por sua vez, querem mais do que um emprego; eles buscam treinamento, capacitação e oportunidades de crescimento pessoal e projeção de carreira.
Esse movimento revela que as relações deixaram de ser unidimensionais e se tornaram multidimensionais, estabelecendo uma conexão mais emocional.
Marcas fortes e profundas hoje criam relações emocionais com seus clientes, oferecendo não apenas produtos ou serviços, mas uma conexão que vai além da funcionalidade.
O verdadeiro limite dessa relação emocional é quando a marca consegue criar uma “tatuagem emocional” nos seus grupos de interesse — seja com colaboradores, clientes ou prospects — uma marca que se torna parte da identidade pessoal de cada um.
Perfil
Thomas Eckschmidt
Tem mais de 20 anos de experiência no setor corporativo, atuando como executivo em multinacionais nos setores de energia, tecnologia e consultoria estratégica.
É cofundador do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, braço nacional do movimento global que promove uma nova lógica empresarial orientada por propósito, valores humanos e impacto positivo.
É empreendedor serial com atuação em startups, empresas B e negócios de impacto social e autor e coautor de mais de 30 livros.
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