8 em cada 10 pessoas veem diferenças no tratamento a brancos e negros, diz pesquisa
Maioria dos entrevistados disse concordar totalmente ou em parte que o racismo é um problema central de sua cidade
Oito em cada dez pessoas dizem acreditar que há diferenças no tratamento entre pessoas brancas e negras, aponta levantamento do Instituto Cidades Sustentáveis feito em parceria com a Ipsos-Ipec.
Divulgada nesta quinta (20), Dia da Consciência Negra, a pesquisa coletou respostas de 3.500 entrevistados a partir de um painel virtual distribuído em dez capitais brasileiras: Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Goiânia.
As respostas foram registradas de 1º a 20 de julho deste ano. Na amostra, 54% dos entrevistados se declararam pretos ou pardos, e outros 43%, brancos.
A margem de erro no levantamento geral é de dois pontos percentuais para mais ou para menos; se consideradas apenas as respostas específicas de cada capital, são seis pontos.
Os resultados indicam diferenças de tratamento percebidas majoritariamente em ambientes como shoppings e estabelecimentos comerciais, como lojas, bares ou restaurantes.
Em segundo lugar vem o ambiente de trabalho —do processo de seleção ao cotidiano profissional, incluindo promoções de carreira. Na sequência ruas e espaços públicos de convivência, a exemplo de parques e praças. Na quarta posição vêm escolas, faculdades ou universidades.
É um padrão que se repete na maioria das capitais pesquisadas, mas há diferenças nos percentuais registrados.
O número de entrevistados que declarou ter essa percepção em shoppings e comércios, por exemplo, é maior de Salvador e Belém se comparado ao de outras cidades.
Ao todo, 65% e 62% dos entrevistados nas capitais baiana e paraense, respectivamente, declararam reconhecer tratamento desigual. Em Goiânia e Manaus, por sua vez, o percentual é menor: 51% e 50%.
A maioria dos entrevistados (75%) disse concordar totalmente ou em parte que o racismo é um problema central de sua cidade e deve ser enfrentado com políticas públicas específicas, ante 18% que discordam da declaração.
Percentual idêntico (75%) afirma concordar totalmente ou em parte que a violência policial afeta principalmente pessoas negras, afirmação da qual discordaram totalmente ou em parte 18% dos entrevistados. O restante (8%) declarou não saber.
No total, 72% disseram acreditar que o aumento da representatividade de pessoas negras na política ou em cargos de poder contribui para diminuir desigualdades estruturais.
Os dados indicam consenso sobre a existência do racismo entre brancos, pretos e pardos, mas a população negra defende com maior veemência políticas afirmativas como cotas raciais, por exemplo.
Segundo o levantamento, 13% dos pretos e pardos entrevistados defendem a criação das cotas raciais em cargos com poder decisório, como na magistratura ou da política, ante 8% dos brancos.
No sentido oposto, 18% dos entrevistados brancos se declararam a favor da eliminação de cotas raciais em universidades ou outras instituições; entre negros, o número é de 12%.
"Na perspectiva do racismo como fenômeno estruturante da sociedade, faz sentido que brancos tentem restringir de alguma maneira o acesso a políticas de equidade", afirma Igor Pantoja, coordenador de relações institucionais do Instituto Cidades Sustentáveis.
Segundo ele, esse "é um dos casos em que a política pública está mais avançada do que a percepção social".
Ainda na pesquisa, quase metade dos entrevistados declarou que a população negra é mais afetada por problemas em serviços essenciais do que outros segmentos da sociedade.
Ao todo, 50% disseram que a população negra tem mais dificuldade de acesso a água potável, coleta e tratamento de esgoto, e 48% declararam que a população negra é mais afetada pelo deslizamento de encostas e desabamento de casas.
O mesmo percentual afirma que a população negra é mais afetada por inundações e alagamentos.
O estudo foi cofinanciado pela União Europeia como parte do programa "Fortalecimento da sociedade civil e dos governos locais para a implantação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável".
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