Minicracolândias e droga mais forte que o crack: as novas dinâmicas do tráfico na Amazônia
O avanço do crime organizado tem acarretado em uma série de consequências danosas para moradores da Amazônia Legal, segundo a 4.ª edição do Cartografias da Amazônia, estudo divulgado na manhã desta quarta-feira, 19, em meio à Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30), que ocorre em Belém.
- A pesquisa aponta que a atuação de facções como o Comando Vermelho (CV) resultou em aumento do uso de “óxi”, droga considerada mais forte que o crack, e até no surgimento de “minicracolândias” em cidades da região da tríplice fronteira com Peru e Colômbia, como Tabatinga e Benjamin Constant, no Amazonas.
“Pelo menos na região do Alto Solimões, esse é um problema que tem afetado principalmente comunidades indígenas que estão localizadas em regiões periurbanas (entre a zona rural e ambientes urbanos)“, afirma ao Estadão David Marques, gerente de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
“O que chamou atenção nesse caso foi isso também estar presente numa região fronteiriça e estar afetando também mais diretamente comunidades indígenas, que é uma coisa que não tinha sido documentada dessa forma até então. A gente tinha muito mais relatos em relação ao uso abusivo de álcool, que também segue presente”, acrescenta. Segundo ele, é um dos principais pontos de atenção que a pesquisa conseguiu captar.
Umariaçu e Belém do Solimões estão entre comunidades afetadas
Entre as regiões mais afetadas pelo surgimento de minicracolândias na Amazônia estão as comunidades de Umariaçu e Belém do Solimões, esta última uma das maiores do Brasil. “É uma surpresa que tenha chegado também num território como esse a formação de um problema já bem documentado em grandes centros urbanos”, diz Marques.
As minicracolândias são descritas no estudo como espaços de uso contínuo de drogas e que envolvem até mesmo mulheres com crianças pequenas. Entre as consequências diretas desse fenômeno, estão, por exemplo, casos de violência doméstica.
O estudo aponta que, em 2024, 586 mulheres foram assassinadas na Amazônia Legal, o equivalente a 4,1 vítimas para cada 100 mil mulheres. A taxa é 21,8% superior à média nacional. “Lideranças relatam que, antes da entrada do tráfico, não havia registros de agressões vinculadas ao uso de drogas ou álcool”, diz o Cartografias.
A pesquisa destaca que terras indígenas do Alto Solimões – são 41 no total – têm sido usadas como corredores logísticos do tráfico, áreas de armazenamento e pontos de circulação de drogas.
Alerta ainda que tem crescido o aliciamento de jovens pelo comércio varejista, impulsionado por endividamento, ausência de oportunidades e erosão dos vínculos comunitários.
“Relatos de lideranças descrevem ameaças de morte, retaliações e invasões silenciosas, somadas ao uso intensivo de álcool e drogas, que alteram profundamente as dinâmicas comunitárias e agravam a violência intrafamiliar”, diz o estudo.
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