Mãe descobre corpo da filha mutilada na Várzea; polícia prende ex-companheiro
Jovem de 21 anos foi encontrada sem roupas e com membros amputados; perícia aponta esganadura e descarta versão de suicídio apresentada pelo suspeito
Com informações de Rafaella Pimentel
Uma jovem Thaissa Lorrany Muniz Melo, de 21 anos, técnica de enfermagem e confeiteira, foi morta pelo namorado, Henryque Cassiano da Silva, de 22 anos, dentro da casa onde ele morava, na Vila Miguel Arcanjo, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. O corpo foi localizado pela mãe da vítima, escondido atrás de um guarda-roupa grande, sem roupas e com sinais severos de violência. Um dos braços tinha sido totalmente retirado. O outro também estava dilacerado.
A polícia encontrou o imóvel revirado e com sangue até em baldes. Uma cena terrível. Henryque foi preso em flagrante por policiais do 12º BPM após apresentar diversas versões contraditórias. No DHPP, ele disse, inicialmente, que Thaissa estava com depressão e teria se enforcado. A versão é questionada pela perícia.
Como o corpo foi encontrado
Thaissa saiu de casa na noite desta última segunda-feira (17), dizendo que iria ao curso e depois ao supermercado. Não voltou. A família passou a madrugada procurando por ela. A mãe registrou desaparecimento, publicou fotos nas redes sociais e recebeu mensagens indicando que Thaissa poderia ter ido ao encontro do ex-companheiro.
A informação reveladora teria vindo de uma ex-namorada de Henryque, com quem ele tinha relação paralela.
Ao chegar à residência,a mãe chamou por Henryque ao lado de alguns policiais conhecidos. Ele relutou em abrir.
Ela bateu.
Chamou.
Insistiu.
Ele não queria abrir.
Apenas quando a mãe dele apareceu na porta, ele permitiu a entrada. A mãe de Thaissa vasculhou cada quarto até ver os pés do suspeito cobertos de sangue. Encontrou o que não imaginava num quarto suíte, que não tinha cama.
O guarda-roupa estava deslocado da parede. Ao empurrá-lo, encontrou a filha morta, caída no chão, sem roupas e com membros amputados.
O depoimento dela é devastador:
— “Eu olhei os quartos. Eu fiquei com medo de achar. Quando olhei para os pés dele, estavam cheios de sangue.”
— “Empurrei um guarda-roupa grande. Encontrei minha filha deitada, sem roupa e sem alguns membros do corpo.”
— “Minha filha não morreu de ‘morte morrida’. Ele mente. Ele mata.”
— “Minha filha era feliz. Estudava técnica de enfermagem. Trabalhava com vida.”]
Morte morrida.
O oposto disso ecoa sem ser dito: morte matada.
Uma vida arrancada.
Perícia não acredita em suicídio e detalha violência
O perito criminal Daniel Pires, da Polícia Científica, detalhou o que foi encontrado no local:
— “A vítima tinha lesão incisa (de faca) nas costas e lesão na região do pescoço. A incisão completa do braço esquerdo foi feita. No direito, ele estava iniciando a amputação. Três facas foram encontradas. A amostra de sangue será encaminhada para o laboratório de genética.”
Sobre a tentativa de Henryque de sugerir que Thaissa teria se enforcado:
— “A lesão no pescoço tem característica de esganadura. Pode ter sido causada pela mão ou por objeto utilizado para constrição. O IML vai confirmar a causa da morte.”
- O corpo foi encaminhado ao IML para:
- exame sexológico;
- exames toxicológicos;
- exames histopatológicos;
- coleta de DNA;
- estudo detalhado sobre causa e mecanismo da morte.
A concentração de sangue no segundo quarto, onde não havia cama, indica que o processo de esquartejamento começou ali.
Versões contraditórias do suspeito
Ao ser questionado pela reportagem no DHPP, Henryque mostrou nervosismo, mas não chorava diante do crime hediondo. Sua fala foi a seguinte:
— “Ela estava com depressão.”
E por que estava com depressão você a esquartejou? indagou a repórter Rafaella Pimentel, da TV Tribuna PE/Band.
— “Eu não quis, eu não quis.”
A PM confirmou que ele tentou sustentar a tese de suicídio.
O sargento Érico Oliveira, do 12º BPM, relatou:
— “Foi constatado o fato e o elemento detido. Visualmente, ela estava decapitada de dois braços. Ele estava com duas conversas. Disse que ela tinha se enforcado. Mas quando verificamos o corpo, estava com os dois braços decapitados.”
A polícia encontrou três facas com sangue e um outro artefato cortante. A principal estava escondida sob a máquina de lavar. Roupas, panos e um balde sujo também foram recolhidos.
Relacionamento conturbado e últimas horas de vida
O casal havia terminado um mês antes. Thaissa descobriu que Henryque mantinha outra relação paralela há mais de dois anos. Ele insistia em retomar o relacionamento. Nenhum vizinho já tinha presenciado atos de violência. Dois moradores descreveram Heryque como pessoal calma e estudiosa. Mas não era só isso, segundo a cena do crime onde o corpo da namorada foi esquartejado.
Na noite do feminicídio, Thaissa saiu do curso afirmando que iria ao supermercado comprar ingredientes para encomendas de bolos. Esse foi o último contato com a família.
A investigação trabalha com a possibilidade de que Henryque tenha atraído a jovem para dentro da casa. Há indícios de premeditação e a polícia investigará se houve buscas na internet sobre como esquartejar um corpo.
O celular de Thaissa não foi encontrado, o que reforça a suspeita de destruição de provas.
O que a polícia já sabe
O DHPP apreendeu:
- CPU e HD externo do suspeito;
- celular dele;
- três facas com sangue;
- roupas com manchas;
- amostras biológicas;
O caso segue como feminicídio qualificado, com agravantes que podem incluir motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e ocultação de cadáver.
Indignação e luto
A história desta terça não é isolada.
Houve mais um feminicídio em Pernambuco.
Mais uma jovem arrancada da família.
Mais um nome que não deveria estar no fim de uma lista que nunca para de crescer.
A dor da mãe é também a dor de um Estado que precisa reagir.
A dor de quem sabe que Thaissa não é a primeira.
E teme que não seja a última.
A família exige justiça.
Veja a matéria de Rafaella Pimentel no JT1, apresentado por Artur Tigre
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