Gestão escolar: professores podem usar a IA para melhorar o ensino
Cláudia Costin diz que o caminho não passa por substituir profissionais, e sim usar a tecnologia para potencializar as práticas pedagógicas
Em um momento em que as tecnologias e a inteligência artificial avançam sobre profissões, transformam rotinas e impõem novos desafios ao mundo do trabalho, a escola também precisa se reinventar.
Para a educadora e especialista em políticas educacionais Cláudia Costin, ex-diretora global de Educação do Banco Mundial, o caminho não passa por substituir professores por tecnologia — mas por usar a IA para potencializar práticas pedagógicas e fortalecer justamente aquilo que nenhuma máquina reproduz: pensamento crítico, criatividade, colaboração e projeto de vida.
Cláudia esteve no Estado na quinta-feira (13), onde fez uma palestra com o tema “Gestão Escolar de Qualidade em Tempos de Mudança”, durante evento no Sesi Jardim da Penha.
A Tribuna - Quais os desafios e avanços nesses tempos de mudanças que estamos vivendo?
Cláudia Costin - De fato, temos que refletir sobre os avanços da educação brasileira e sobre os desafios que ainda persistem.
Muitas vezes se cria a narrativa de que nada funciona na educação brasileira, o que não é verdade. É fato que demoramos muito para universalizar o acesso à educação básica — isso só aconteceu na primeira década dos anos 2000.
Mas avançamos. Hoje temos acesso praticamente universal ao ensino fundamental e cada vez maior ao ensino médio. As taxas de conclusão também vêm crescendo tanto no Fundamental II quanto no ensino médio.
Ainda voltamos a crescer em aprendizagem. Antes da pandemia, tivemos cinco edições consecutivas do Saeb com avanços relevantes. Agora, após a pandemia retomamos a trajetória de melhora.
Considera importante avançar no tempo integral?
Com certeza. Nenhum país com bom sistema educacional funciona com apenas quatro ou cinco horas de aula.
O que muda na escola com esse avanço tecnológico?
A IA vai transformar profundamente o mundo do trabalho. Há estimativas de que grande parte dos postos podem ser automatizados. Isso apresenta um enorme desafio social, mas também oportunidades.
Se bem usada, a IA pode apoiar o professor: corrigir trabalhos e redações, oferecer plataformas adaptativas que identificam lacunas dos alunos e direcionam exercícios personalizados.
Mas tudo isso depende de um bom professor. A tecnologia não substitui a mediação humana.
Há algum risco no uso da IA pelos estudantes?
Sim, se não houver orientação. Pode haver prejuízo à criatividade, à autonomia e ao pensamento crítico.
Por isso, a Base Nacional Comum Curricular já prevê a educação midiática: ensinar o aluno a pesquisar em ambientes digitais sem se perder, com ética, responsabilidade e capacidade de checar fontes. Mas é claro que a IA deve ser usada. Todo mundo está usando — o importante é saber usar.
E o que os sistemas de ensino precisam fazer diante desse novo cenário?
Vamos ter que tornar o processo de ensino mais humano. Devemos fortalecer nas crianças e jovens aquilo que não será substituído pela IA: resolução colaborativa de problemas complexos com criatividade; pensamento crítico e sistêmico; e competências socioemocionais.
Também precisamos desenvolver muito mais as competências digitais. Esses estudantes viverão num ambiente totalmente imerso no digital.
Por um período, escolas falavam muito em tecnologia. Depois, veio um movimento de retirar telas. Como equilibrar?
Não é uma coisa ou outra. Precisamos de livros físicos e de plataformas digitais — o mundo real tem os dois. Criou-se o mito de que a Suécia aboliu a tecnologia, e isso não é verdade. Eles reduziram, mas mantiveram livros e recursos digitais.
Outra coisa é o celular. Aí sim, as escolas estão tirando, e com razão. Crianças ainda não têm autocontrole suficiente para usá-lo sem se dispersar.
Quem é
Cláudia Costin
- Especialista em políticas educacionais.
- Ex-diretora global de Educação do Banco Mundial.
- Atual presidente do Instituto Equidade.Info da Universidade de Stanford.
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