Trump afirma que vai reduzir tarifa do café
Pressão da indústria e inflação devem levar Donald Trump a reduzir as tarifas aplicadas, e representantes do setor cafeeiro se animam
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na última quarta-feira (12) que pode reduzir a tarifa aplicada às importações do café. Apesar de não citar nominalmente o Brasil, a fala de Trump animou o setor cafeeiro brasileiro e do Estado, que é um dos principais produtores e exportadores.
As declarações ocorrem em meio à inflação do produto no mercado norte-americano e à pressão de indústrias que enfrentam dificuldade para recompor estoques.
Conforme detalha o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Mattos, há uma “forte movimentação” por parte das principais indústrias torrefadoras dos Estados Unidos sobre o tema.
Já o presidente da Cecafé, Márcio Ferreira, diz que o momento é “o mais favorável em meses” para uma negociação.
De acordo com o dirigente, a expectativa é que a Casa Branca retire o café da Seção 3 da ordem executiva de Trump — que inclui produtos naturais não produzidos nos Estados Unidos, mas sujeitos a tarifas elevadas — e o transfira para a Seção 2, que permite importação com tarifa zero.
“O objetivo é esse, e já enviamos ofício ao presidente Lula e ao vice-presidente Geraldo Alckmin, informando sobre as negociações conduzidas pelos importadores americanos”, disse Ferreira.
Desde agosto, o tarifaço de 50% imposto por Washington reduziu pela metade as exportações brasileiras de café ao mercado norte-americano. Segundo o relatório mensal divulgado pelo Conselho, no período entre agosto e outubro, os embarques somaram 983,9 mil sacas, uma queda de 51,5% ante o mesmo intervalo de 2024.
“A taxação de 50% torna inviável o envio do produto. Esses embarques que temos observado são de contratos antigos”, disse Ferreira.
O Conselho Nacional do Café (CNC) espera redução “em breve” nas tarifas, enquanto a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) entende que “setor não pode mais esperar nem continuar sofrendo” com taxação.
“O setor não pode mais esperar nem continuar sofrendo com uma taxação que prejudica produtores, exportadores e toda a cadeia produtiva. Resolver essa questão é bom para o Brasil e muito bom para os Estados Unidos”, diz o diretor-executivo da Abic, Celírio Inácio.
Preços do café despencam após fala de Donald Trump
Os preços do café caíram acentuadamente ontem, com os Estados Unidos parecendo dispostos a reduzir as tarifas de importação, o que pode diminuir a escassez de oferta no país que mais consome café no mundo.
O café arábica perdia quase 5%, para US$ 3,7975 por libra-peso (R$ 20,11), por volta das 13 horas (horário de Brasília).
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse ontem que os americanos verão “anúncios substanciais” nos próximos dias com o objetivo de reduzir os preços de produtos como café, bananas e outros itens não cultivados nos EUA.
Seus comentários foram feitos depois que o presidente Donald Trump disse na terça-feira em entrevista a Fox News que os EUA reduziriam algumas tarifas sobre as importações de café. O republicano, no entanto, não especificou os países que seriam afetados. “Nós vamos baixar algumas tarifas sobre o café, e vamos ter algum café entrando”, afirmou Trump.
Segundo ele, a decisão faz parte de um esforço para “melhorar o comércio em setores estratégicos e beneficiar os consumidores americanos”. O Brasil é um dos maiores fornecedores de café aos Estados Unidos e, desde agosto, sofre com a sobretaxa de 50% na venda de produtos ao país americano.
Para os negociantes, o Vietnã, principal produtor de robusta, está em melhor posição entre os principais produtores para ver as tarifas reduzidas por Trump, com as perspectivas para o Brasil e a Colômbia permanecendo menos claras.
O Vietnã está trabalhando para assinar um acordo comercial com os EUA em breve, disse o vice-primeiro-ministro Bui Thanh Son ontem, quando uma nova rodada de negociações começa em Washington.
O mercado também estava aguardando uma decisão da Suprema Corte dos EUA sobre o uso de poderes de emergência por Trump para impor tarifas internacionais abrangentes. O café robusta caía cerca de 5% no mesmo horário, para US$ 4.384 (R$ 23,2 mil) por tonelada métrica, no mesmo horário.
Saiba Mais
Exportações para os EUA 20% menores
Tarifaço
Em julho deste ano, Trump anunciou um tarifaço de 50% sobre todos os produtos brasileiros que são exportados para os Estados Unidos.
Em seguida, ministros do governo brasileiro e do Supremo Tribunal Federal também foram alvo da revogação de vistos de viagem e outras sanções pela administração de Trump.
Desde o início da sobretaxa de 50% sobre o café brasileiro, em agosto, o País perdeu mais da metade do mercado americano, enquanto concorrentes como Colômbia e Vietnã (tributados em apenas 10%) avançam sobre os blends das grandes marcas, segundo dados de exportadores brasileiros.
Até 2024, os EUA figuravam entre os principais destinos do café produzido no Brasil e o principal importador de cafés especiais brasileiros, adquirindo aproximadamente 2 milhões de sacas do produto, a uma receita superior a 550 milhões de dólares ao ano.
Segundo o Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé), o café brasileiro representa mais de 30% do mercado norte-americano. O Brasil é o principal exportador de café para os Estados Unidos, destino de 16% das exportações brasileiras do produto.
A medida contribuiu para a alta dos preços do café nos EUA, que acumula forte inflação no último ano.
Reunião entre Lula e Trump
Em outubro, durante um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Malásia, Trump reconheceu que os EUA estavam “sentindo falta” de alguns produtos brasileiros atingidos pela sobretaxa — citando o café como exemplo. O encontro indicou um início de diálogo para reverter as tarifas, mas sem prazo definido.
O relatório mensal do Cecafé mostra que o Brasil exportou 4,141 milhões de sacas de 60 quilos em outubro, volume 20% menor que o registrado no mesmo mês de 2024. No acumulado de janeiro a outubro, os embarques somam 33,279 milhões de sacas, também 20% abaixo do ano anterior.
Apesar da redução nos volumes, a receita cambial cresceu 27,6%, alcançando US$ 12,7 bilhões, impulsionada pela alta de 41% no preço médio do café. Márcio Ferreira explica que o atual quadro é resultado de uma combinação de fatores: uma safra global menor, gargalos logísticos internos e o impacto direto das tarifas americanas.
Mesmo com a queda acentuada, os Estados Unidos seguem como principal comprador de café brasileiro em 2025, com 4,7 milhões de sacas importadas, o equivalente a 14,2% dos embarques totais. Para o Cecafé, recuperar essa participação plena é vital para o equilíbrio do mercado global.
Negociação
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, se encontrou na última quarta-feira (12) com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em Washington, D.C, para discutir o avanço da negociação sobre as tarifas impostas pelo governo Donald Trump a produtos brasileiros.
Vieira está no Canadá e deve ir a Washington hoje para encontro com Rubio antes de retornar ao Brasil. Na manhã de hoje, os dois se encontraram rapidamente entre reuniões e outros convidados da Cúpula do G7, grupo de países mais desenvolvidos do mundo, em Niágara.
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