Posto do BPRv na PE-60 tinha sêmen em colchões e levanta suspeitas de uso irregular
Corregedoria da PM pede mais 180 dias para concluir investigação sobre denúncia de estupro.
A Corregedoria da PM solicitou a extensão de prazo de 180 dias para concluir as investigações sobre a denúncia de estupro feita por uma mulher de 48 anos no posto do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) no Cabo de Santo Agostinho. O motivo alegado é que não foram encontrados, nos primeiros exames, material genético compatível com o do PM acusado, o subtenente Luciano Valério de Moura, no vestido da vítima.
Segundo a oficial encarregada do caso, que não terá o nome divulgado, “entende-se que existem indícios suficientes para o prosseguimento da investigação visando apurar a responsabilidade dos investigados”. Outros vestígios de sêmem foram encontrados em colchões do posto policial.
De acordo com documento que o Tribuna Online PE teve acesso, embora o laudo biológico do vestido não tenha reforçado a materialidade do delito, foram recomendados a manutenção e conclusão das análises genéticas complementares para completa elucidação dos fatos.
O documento diz ainda que serão analisadas informações dos celulares dos investigados, bem como será feita comparação de material genético encontrado no local e na roupa da denunciante com o dos investigados.
Advogada Maria Julia está confiante no processo
Segundo a advogada da vítima, Maria Julia Leonel, em casos de estupro, a palavra da vítima tem força, mesmo sem a prova material. Especialmente porque ela tem testemunhas a seu favor e uma versão firme.
Ela acrescentou que outros vestígios de semem foram encontrados no posto policial, mas em colchões. Eles não pertencem ao caso relacionado ao da sua cliente, mas, para ela, acendem o alerta sobre o que poderia estar acontecendo naquele posto, que é um local de trabalho.
“O sêmen encontrado não é compatível com o dele. O que surge um alerta: por que tem sêmen em mais de um colchão num posto policial como aquele? Seria essa a razão dos outros dois policiais de plantão terem recusado fornecer espontaneamente seu material genético também? Existem outras vítimas?”.
O suposto crime de estupro ocorreu no dia 10 de outubro. O subtenente Luciano Valério de Moura responde ao processo em prisão Centro de Reeducação da Polícia Militar (CREED), que fica no município de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife.
Já os outros dois policiais estão afastados das suas funções. Nenhum deles forneceu material genético para ser periciado espontaneamente, o que facilitaria, por exemplo, a exclusão de acusações.
De acordo com a advogada, o acusado também não se disponibilizou de forma voluntária a fornecer material genético, tendo sido obrigado pela Justiça. Embora ele tenha dito que a vítima tinha o propósito de se vingar porque teria sido multada, a tal multa nunca entrou no Detran.
“Ainda que o aparelho celular do acusado não estivesse funcionando no momento da abordagem, então, ele teria aplicado a multa posteriormente, o que não foi feito”, disse.
Maria Julia Leonel complementou que “a major responsável pela investigação, fez o relatório indicando que não havia dúvidas que o estupro de fato ocorreu, pela convergência dos depoimentos”.
Relatos da violência sexual
Em relatos da testemunha, no dia 10 de outubro, o suspeito a obrigou a praticar sexo oral nele, quando ela voltava da praia para casa com duas filhas - de 9 e 16 anos - e uma amiga. Ela havia sido parada numa fiscalização de rotina e não estava com os documentos do carro em dia. O subtenente Luciano Valério de Moura teria chamado a mulher para entrar no posto, dizendo aos dois colegas de farda que ela iria beber água.
A vítima teria sido conduzida até uma sala, onde ele apagou a luz. E ali, no escuro, usou a autoridade para estuprá-la. Ela tentou resistir, cruzou as pernas, chorou, lembrou das filhas esperando no carro. Ele não parou. Forçou a cabeça dela para baixo para que ela realizasse. Ao terminar, ordenou: “Pegue água para tirar da boca.”
O subtenente se apresentou à polícia no dia 15. Ele não compareceu à sessão de reconhecimento facial. Alegou, na ocasião, que estava com problemas na coluna devido a uma queda de moto. Isso gerou surpresa até mesmo no secretário de Defesa Social, Alexandro Carvalho. "Se fosse eu, se eu fosse inocente, teria ido".
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