De “La Casa de Papel” à cela: o enredo real do jovem baleado no Recife
Vestido como personagem da série, Paulo Eduardo, 18, trocou tiros com a PM no dia 22 de outubro e ficou ferido
Com colaboração de Rafaela Pimentel
O jovem Paulo Eduardo Alves da Silva, de 18 anos, voltou a aparecer publicamente nesta terça-feira (11), ao ser levado para audiência de custódia no Recife. Depois de sair da delegacia, ele negou que o grupo pretendesse matar um rival, como se suspeitava na época da prisão, e afirmou que o plano era assaltar uma loja de celulares.
“A gente não foi matar ninguém, não. A gente foi assaltar uma loja de celular”, disse Paulo Eduardo ao ser questionado pela imprensa. "Estou arrependido", acrescentou. Será?
Vestido como um dos ladrões da série La Casa de Papel, Paulo foi baleado no tornozelo durante uma perseguição policial no dia 22 de outubro, no Recife. O caso chocou não apenas pela violência, mas pela ironia cruel de um rapaz fantasiado de criminoso de ficção trocando tiros com a polícia na vida real.
Acabou de entrar na maioridade, fase tão desejada por muitos adolescentes, mas já estava num carro roubado e até mesmo disposto a matar policiais em confronto.
O enredo que, na ficção, exalta a astúcia e a coragem dos assaltantes, se tornou trágico quando atravessou a realidade. O destino de Paulo Eduardo - que tem a idade para fazer o Enem, por exemplo, - foi bem diferente do protagonista da série: ele sobreviveu, mas saiu algemado e sob custódia. Sem dinheiro para esbanjar.
Perseguição e troca de tiros
Segundo a Polícia Militar, o grupo — formado por cinco pessoas — estava em um carro roubado quando foi avistado por policiais na BR-101. Os suspeitos não obedeceram à ordem de parada e seguiram em alta velocidade até o bairro da Cidade Universitária (CDU), onde colidiram o veículo e abriram fogo contra os PMs.
A troca de tiros foi intensa e presenciada por moradores da comunidade, que registraram parte da ação em vídeos. Nenhum policial ficou ferido, mas três suspeitos foram baleados, um deles morreu e uma mulher foi presa.
Álvaro Silva Nascimento, de 18 anos, não resistiu aos ferimentos. Mateus Felipe Oliveira da Silva, de 20, conhecido como Cara de Kombi, segue internado. Já Paulo Eduardo, que usava a fantasia inspirada na série espanhola, foi autuado em flagrante no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A maquiadora Jamilly Avany dos Santos Alves, de 24 anos, também foi detida e encaminhada à Delegacia. Ela estava grávida de 3 meses e, segundo os policiais, não participou do tiroteio.
O preço de reagir à polícia
Mesmo sem policial ferido, a troca de tiros com equipes da PM pode ser enquadrada como tentativa de homicídio, de acordo com o Código Penal. O entendimento é que, ao atirar na direção dos agentes, o suspeito demonstra intenção de matar, ainda que o resultado não ocorra. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) já consolidou decisões nesse sentido, considerando que o disparo contra autoridades em serviço é um ato inequívoco voltado à eliminação da vida.
Em casos em que a investigação comprova que o suspeito apenas reagiu para fugir, sem direcionar disparos aos policiais, a conduta pode ser classificada como resistência à prisão, crime com pena mais branda. Mas, na maioria dos confrontos, o Ministério Público mantém o enquadramento por tentativa de homicídio qualificado, especialmente quando há tiroteio em via pública.
A vida depois da série
Fora da ficção, os tiros não têm trilha sonora, nem final heroico. O macacão vermelho, símbolo de resistência e genialidade em La Casa de Papel, virou apenas uma roupa ensanguentada. E o personagem da fantasia virou réu de carne e osso, diante da Justiça.
O Tribuna Online PE aguarda informações da Polícia Civil sobre o andamento do inquérito e do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) sobre a decisão na audiência de custódia.
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