Erro em local de prova do Enem impede aluna com deficiência de usar banheiro
Ela é cadeirante e foi alocada para fazer o exame em uma escola sem acessibilidade
Por um erro do Inep, instituto do governo federal responsável pelo Enem, uma candidata foi impedida de usar o banheiro por oito horas para conseguir concluir o primeiro dia de prova, no último domingo (9). Ela é cadeirante e foi alocada para fazer o exame em uma escola sem acessibilidade.
Esta é a terceira vez que Sofia Crispim Soares, 20, presta o exame, que continua no próximo domingo (16). Assim como nas outras edições, ela indicou na inscrição a necessidade de fazer a prova em uma escola com acessibilidade para cadeirante e também de ter o apoio de um ledor e um transcritor. Ela tem paralisia cerebral.
Laudos e outros documentos médicos comprovando a necessidade do atendimento especializado também foram enviados ao Inep, conforme exigido pelo edital do Enem.
"Como a gente já havia feito a inscrição em outros anos e solicitado esses suportes, o sistema já tinha até salvado as informações da Sofia. Sempre deu certo e nunca tivemos problema, mas, dessa vez, fizeram tudo errado", conta Denise Crispim, 46, mãe da jovem.
Procurado sobre o caso, o Inep afirma que já notificou o Cebraspe, empresa responsável pela aplicação do do Enem, para providenciar a realocação da estudante no próximo domingo, 16 de novembro. Quanto ao primeiro dia de provas, a estudante terá direito a fazer a prova em 16 de dezembro.
Após chegar ao local de prova, na escola estadual Professor Newton Espírito Santo Ayres, em Osasco (Grande SP), mãe e filha descobriram que não havia nenhuma acessibilidade para cadeirantes. A entrada principal da unidade tem uma escada com mais de 15 degraus.
"Nos disseram então para entrar pelos fundos, porque seria mais acessível. Mas essa entrada também tinha uma escada, menor, mas ainda assim uma escada. A Sofia teve que ser carregada pelos aplicadores da prova."
Para Denise, além do transtorno de ter que ser carregada, também havia o risco de jovem se machucar ao se deslocar de maneira inadequada.
"Depois dessa humilhação, quando ela estava na sala, vieram nos avisar que ela não poderia usar o banheiro durante a prova, já que não havia banheiro com acessibilidade. Ela tinha chegado lá às 12h e só terminaria a prova às 19h30 [pessoas com deficiência têm direito a uma hora a mais de prova]."
Denise conta que chegou a dizer para a filha desistir de fazer a prova naquelas condições, mas a jovem não quis. "Ela me disse: mãe, eu me preparei o ano todo, não posso perder essa chance e esperar mais um ano para tentar de novo."
Quando estava na sala, Sofia também foi informada de que a organização só havia providenciado um ledor (profissional que ajuda com a leitura da prova), mas não haveria um transcritor (quem transcreve as respostas do candidato).
"Só depois de muita briga conseguimos que ela tivesse os dois suportes necessários para a fazer a prova. Mas ela já estava muito tensa por conta dessa desorganização."
Dos mais de 4,8 milhões de inscritos confirmados no Enem deste ano, quase 165 mil solicitaram algum tipo de atendimento especial —3,4% do total. Apenas cerca de 7.700 candidatos indicaram que precisavam fazer a prova em sala de fácil acesso.
"O Brasil oferece tão poucas chances para pessoas com deficiência estudarem e, quando alguém consegue concluir o ensino médio, ainda assim enfrenta dificuldades. É muito despreparo e humilhação para essa população", diz Denise.
Ela conta que vai denunciar o Inep ao Ministério Público por não ter garantido à sua filha as mesmas condições de prova que os demais. "Todos os alunos puderam sair da prova quando precisaram, a minha filha não pôde porque não garantiram a ela o básico. Não estamos pedindo nenhuma vantagem, apenas um tratamento digno como todos tiveram direito."
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