Famílias resgatam hábito de se reunir durante as refeições
O gesto, que no passado era comum, pode fortalecer o vínculo entre gerações ao despertar lembranças positivas, além de ajudar a reduzir o estresse
Em meio ao corre-corre dos dias e às refeições solitárias diante das telas, cada vez mais famílias estão redescobrindo o prazer de se reunir à mesa. O gesto, que no passado era comum, tem reacendido vínculos familiares, segundo especialistas.
Ainda que as tarefas do dias atuais ocupem a maior parte do tempo de muitas famílias, há aquelas que estão colocando como prioridade realizar, pelo menos, uma refeição por dia juntas.
“Quando nos sentamos com a família, o cérebro associa esse momento à segurança e ao pertencimento, ativando circuitos ligados ao prazer e à memória afetiva. Sabores e cheiros são gatilhos emocionais poderosos, capazes de despertar lembranças positivas que fortalecem o vínculo entre gerações”, explica a psicóloga e neuropsicóloga Lícia Assbu.
A especialista aponta ainda que as refeições em família funcionam como uma âncora emocional: “Ajudam a reduzir o estresse, estimulam o diálogo e reforçam a sensação de apoio mútuo”.
De acordo com a psicanalista Lara de Moyses Moura, reservar esse espaço para se alimentar com os parentes pode ser uma grande aposta também para o bom convívio familiar.
“É em torno da mesa que muitas conversas acontecem, que se tem notícias do familiar que, mesmo morando juntos, devido à agenda, pode ser que pouco se encontram. Também deve ser um momento de pausa. A mesa tem o poder de agregar e de compartilhar, não só a alimentação, mas as notícias do dia”.
A nutricionista Bárbara Monteiro, membro da diretoria da Associação de Nutrição do Espírito Santo (ANEES) aponta que a pandemia fez muitas famílias redescobrirem o prazer de cozinhar e comer juntas. “Mesmo com o retorno da rotina corrida, ficou a percepção de que esses momentos são preciosos”.
E a preparação da comida em família, segundo a nutricionista Larice Matos, tem impactos positivos também nos hábitos alimentares.
“Famílias que preparam juntas a alimentação tem mais chance de sucesso do filho comer tudo que foi preparado. Porque como a criança ajudou, ela já vai tendo o contato e criando raízes e memórias afetivas com a alimentação e esse comer coletivo”, afirma.
Ensinamento
Foram os ensinamentos que recebeu de seu pai que fizeram com que a professora de educação infantil Alessandra Oliveira, 43, e seu marido, o maquinista Leandro Oliveira, 42, dessem ainda mais valor às refeições em família.
Com as filhas Sarah Victoria, de 14 anos, e Luiza Victoria, 7, a família faz pelo menos uma refeição junta por dia.
“Meu pai já ensinava isso. Com ele, costumávamos almoçar todos os dias à mesa e até jantar. Ele sempre se sentava à mesa para comer, mesmo que sozinho. Parte veio desse ensinamento que, por sua vez, foi endossado por meio da cultura cristã, em que nos referimos à mesa como lugar de comunhão”, conta Alessandra.
Ela relata ainda que há uma regra entre a família. “Desde pequenas, minhas filhas já sabem: sem celular à mesa, pode até tirar foto, mas depois tem de guardá-lo. O mundo está muito acelerado e se não tomarmos cuidado, perdemos esses momentos em família”.
"É o melhor momento do dia!"
A confeiteira Kamila Eustachio, de 29 anos, e o marido, o técnico em automação Ronald Eustachio, 34, não tinham o hábito de fazer a refeição à mesa.
Mas, há seis meses, após comprarem uma mesa, o casal e os filhos Helena, de 5 anos, e Luiz Felipe, 7 anos, criaram o hábito de jantar juntos, todos os dias.
“Durante o dia, como meu marido não está em casa, eu almoço com as crianças, mas, à noite, não abro mão de jantarmos juntos à mesa”.
“Sempre sonhei com o dia em que teria uma mesa para reunir a família. Ensinamos nossos filhos a agradecer a Deus e convidamos o Senhor Jesus para estar conosco. É o melhor momento do dia!”
Rotina reforça consumo de alimentos saudáveis
Se você não tem o costume de comer em família e tem dificuldade em consumir alimentos mais saudáveis, fazer as refeições em conjunto pode ajudar nesse processo.
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, mostrou que aproveitar esse momento em família ajuda na construção de melhores hábitos alimentares.
“A rotina de comer juntos também favorece a criação de hábitos saudáveis, fortalece vínculos e ensina às crianças que alimentação não é só sobre nutrientes, mas sobre cuidado e presença”, esclarece a nutricionista Bárbara Monteiro, membro da diretoria da Associação de Nutrição do Espírito Santo (ANEES).
A nutricionista clínica-esportiva e materno-infantil Danielle Laporte destaca que crianças aprendem observando os adultos.
“Quando os pais comem alimentos saudáveis e evitam ultraprocessados, eles modelam esse comportamento para os filhos. O esforço para a redução dos ultraprocessados tem de ser compartilhado por todos da família. Os pais são exemplos e educam muito mais com as atitudes do que com as palavras”.
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