Dor e revolta no adeus a menino morto a caminho da igreja em Itamaracá
Velório de José Leandro, 13 anos, teve homenagens e desabafos sobre a violência na Ilha; polícia investiga como latrocínio
Com colaboração de Simone Santos
O corpo do adolescente José Leandro Ramos, de 13 anos, foi sepultado nesta terça-feira (4) sob forte comoção em Itamaracá, no Litoral Norte de Pernambuco. O menino foi morto a tiros dentro de um táxi quando seguia com a mãe, o padrasto e a irmã para o culto de domingo à noite.
A mãe, Josiane Adriele Nascimento Veríssimo, de 29 anos, chegou ao velório direto do hospital, amparada por duas pessoas. Chorando, ela apenas repetia: “Que dor”. Não falou com a imprensa, que respeitou o momento de silêncio e luto.
“Um menino cheio de vida”
Durante a cerimônia, a Igreja do Bom Jesus, onde a família congregava, ficou lotada de amigos e membros da comunidade. O clima era de incredulidade e revolta.
As dirigentes do grupo de adolescentes, do qual Leandro fazia parte, lembraram a generosidade e o empenho do menino.
Andrea Maria da Silva, que acompanhava o garoto desde pequeno, disse que o grupo perdeu um exemplo de fé e dedicação.
“Isso acabou com a gente, tirou o nosso chão. Um menino cheio de vida, um menino cheio de sonho. Apesar da pouca idade, era esforçado, tentava ajudar a mãe e os irmãos. A irmãzinha dele presenciou tudo. Poderia ter sido até pior, porque outros irmãos viriam em outro carro. Estamos muito abalados. Queremos justiça. Ele não estava acompanhado de bandido. O Léo não era nenhum aviãozinho de droga. Ele estava acompanhado dos pais, vindo para a igreja adorar o Senhor. E foi interrompida a vida de um menino dessa maneira.”
Revolta com a violência na Ilha
O desabafo mais forte veio de Socorro Cruz, também dirigente do grupo de adolescentes da igreja, que falou sobre o medo e a sensação de impotência diante da violência em Itamaracá.
“Revolta, impotência. Uma sensação de ser incapaz de fazer algo, sabe? Porque nós temos netos, eu tenho dois netos. Amanhã eu quero levar meu neto à praça. E aí? Para que praça eu vou levar? Aqui em Itamaracá lutaram muito para tirar o presídio. Tiraram o presídio. Mas não tiraram o que está fazendo mal para a gente. É até estranho eu dizer, mas os presos lá não estavam fazendo mal. Quem está fazendo mal são esses bandidos. E cadê as autoridades? Cadê? Aonde que a gente vai parar?”
Ela encerrou com um apelo emocionado:
“Aonde esses adolescentes aqui vão criar os filhos deles? Espero que demore muito para que a gente consiga fazer algo que nos faça bem.”
Barricada e tiros
De acordo com a Polícia Civil de Pernambuco, o crime é investigado como latrocínio consumado (roubo seguido de morte) e duas tentativas de latrocínio. Nenhum objeto foi levado das vítimas.
O grupo seguia para o culto em um táxi quando o motorista percebeu uma barricada improvisada com troncos de árvores e arame farpado. Desconfiado, ele acelerou o veículo, momento em que criminosos atiraram contra o carro.
Os disparos atingiram a cabeça de Leandro, o peito e a perna da mãe, e as costas e a perna do padrasto, Jackson Veríssimo da Silva, de 43 anos. A irmã de 12 anos não sofreu ferimentos.
Jackson permanece internado no Hospital Miguel Arraes, em Paulista, com estado de saúde estável. Josiane recebeu alta na segunda-feira (3) e participou do velório e do enterro do filho.
Homenagem e fé em meio à dor
Adolescentes e líderes da igreja Bom Jesus cantaram no velório uma canção que Leandro gostava:
“Ele é Deus, se tudo der certo Ele é Deus, mas se não der, continua sendo Deus.”
Em meio às lágrimas, a comunidade reafirmou o desejo de justiça e o compromisso de manter viva a lembrança do garoto que, aos 13 anos, “só queria ir adorar o Senhor”.
Comentários