Mais de 110 mil moram nos complexos do Alemão e da Penha, alvos da polícia contra o Comando Vermelho
Mais de 110 mil pessoas moram nas regiões dos complexos do Alemão e da Penha, alvos da megaoperação policial contra o Comando Vermelho (CV) na zona norte do Rio nesta terça-feira, 28, que deixou 64 mortos, sendo quatro policiais. Foi a ação mais letal da história do Estado.
De acordo com dados da Prefeitura, com base no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54 mil pessoas vivem no conjunto de favelas que formam o Complexo do Alemão. Já na Penha, são 58.516 moradores (esse número é referente a todo o bairro, e não apenas ao complexo de favelas).
A geografia acidentada do Complexo do Alemão facilitou a concentração de criminosos do Comando Vermelho no local e, ao longo das últimas décadas, a polícia já fez várias incursões na área. Em 2002, por exemplo, a morte do jornalista Tim Lopes levou à prisão e à caça do traficante Elias Maluco. Em 2007, o Alemão recebeu uma operação policial que mobilizou 1.350 agentes e deixou 19 mortos.
Três anos depois, 2,6 mil agentes, entre policiais militares, civis, federais e homens das Forças Armadas, participaram da invasão ao Alemão após uma onda de violência no Rio em uma reação às Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
“São aproximadamente 9 milhões de metros quadrados de desordem. Casas construídas de forma irregular, becos que é impossível fazer o patrulhamento”, disse Victor Santos, secretário da Segurança Pública do Rio.
Maioria negra
O estudo Indicadores de Cidadania no Complexo do Alemão, realizado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), em parceria com o Instituto Raízes em Movimento e com a ONG Educap, divulgado em 2023, apontou que 79% dos moradores do Alemão são negros.
O levantamento indica ainda que 34% dos moradores têm o ensino fundamental incompleto e apenas 2% têm graduação completa.
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‘Cenário de guerra’
Na operação desta terça-feira, cerca de 2,5 mil policiais civis e militares participaram da ofensiva. No Alemão e na Penha, pelo menos 87 escolas tiveram as atividades afetadas - 48 nem chegaram a abrir. O total de alunos impactados foi de 29 mil. O Comando Vermelho reagiu e lançou bombas por meio de drones, o que transformou a região em um cenário de guerra, com reflexos em importantes vias da cidade, como a Avenida Brasil e a Linha Amarela.
Nas comunidades, os moradores relataram pânico. “Algumas casas foram destruídas com bombas. Cenário de guerra”, relatou ao Estadão a professora Suellen Gomes, de 30 anos.
Além de atingir o CV e o narcotráfico, a operação também visou a apreensão de armamento usado pela facção criminosa e, até a última atualização anunciada pelo governador Cláudio Castro (PL), 93 fuzis haviam sido apreendidos pelas forças policiais.
A ação, que repete cenas de guerras, expõe o poder crescente do crime organizado no País e as dificuldades do poder público de reprimir o narcotráfico, com efeitos violentos para os moradores das comunidades pobres.
A Prefeitura do Rio anunciou que a cidade entrou em Estágio 2, devido a ocorrências policiais que interditam de forma intermitente ruas da zona norte, oeste e sudoeste da capital fluminense.
Esse estágio de risco é acionado, dentro dos estágios operacionais da cidade, quando há ocorrências “de alto impacto” por conta “de um evento previsto ou a partir da análise de dados provenientes de especialistas”; são ocorrências descritas com “elevado potencial de agravamento”.
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