Inteligência artificial: presidente do Google fala do futuro das profissões
Em visita à Rede Tribuna, Fábio Coelho disse que a IA não vai extinguir empregos, mas quem não aprender a usá-la será substituído

O crescimento do uso das inteligências artificiais (IAs) e o apreço cada vez maior pela atividade de influenciador digital pelos jovens vêm provocando adaptações nos modelos de carreira e nas próprias plataformas.
Ao passo que profissões podem deixar de existir com o avanço da IA, outras são criadas ou adaptadas, exigindo o conhecimento dessa tecnologia para se inserir no mercado de trabalho.
Foi o que contou, em visita à Rede Tribuna, o presidente do Google Brasil e vice-presidente global da empresa, Fábio Coelho. Nesta quarta-feira (22), ele conheceu os estúdios, as redações e foi recebido pelo superintendente Alexandre Gabriel.
Ao editor de Economia e Política Rafael Guzzo, no podcast Histórias Empresariais, Fábio Coelho afirmou que, para ele, o futuro da tecnologia passa pela computação quântica, mais ágil e eficiente, podendo resolver os “grandes problemas” do planeta. Assista ao podcast completo clicando aqui.
A Tribuna - Há uma corrida global para oferecer o melhor serviço de inteligência artificial. Qual é o futuro das profissões com esse cenário?
Fábio Coelho - O futuro tem a ver com as profissões do presente que podem ser potencializadas com o uso da Inteligência Artificial. Muita gente se preocupa com a perda de empregos. Eu costumo dizer que as pessoas não vão perder os seus empregos para a inteligência artificial. Grande parte dos empregos vão ser perdidos para outras pessoas que têm domínio sobre a inteligência artificial.
Como conseguir ter esse domínio sobre a IA?
Você tem de fazer cursos. Mas não dá para achar que fez um curso e está sabendo, porque a Inteligência Artificial evolui muito rápido. É que nem pegar onda. Dizem que você aprende a pegar onda surfando e caindo na água. Caindo e subindo. A IA é a mesma coisa. Exige curiosidade, entendimento de como você usa a tecnologia e fazer as perguntas certas.
Dizem muito que os dados são o “novo petróleo”. Como que fica o tratamento dos dados da população neste contexto?
Os dados utilizados por modelos de inteligência artificial têm de estar em acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados, a LGPD. Isso sempre foi assim e vai continuar assim. Os dados que são utilizados para treinar os modelos são anonimizados e tratados dentro de uma estrutura que respeita a questão da propriedade intelectual.
Então não há o risco de os dados que eu forneço serem utilizados para outra possibilidade?
Não, não existe. Mas acho importante um trabalho de educar as pessoas sobre um mercado em que cada vez mais você vai lidar com muita informação disponível. As empresas sérias trabalham com essas informações anonimizadas.
Naturalmente, onde tem empresas sérias, há algumas que não são tão sérias assim. Então, temos de tomar muito cuidado.
Muitos falam que recebem anúncios depois de falar perto do celular. Isso é lenda?
Isso, com o Google, não existe. Eu não posso falar pelas outras plataformas. O que fica muito claro é que às vezes as pessoas falam “olha, cinco e meia da tarde eu pensei em comer uma pizza. E aí apareceu anúncio de pizza no meu celular”.
Talvez o que a pessoa não se lembre é que, nas últimas quatro semanas, três vezes ela pediu pizza no domingo à noite. O sistema é treinado para olhar e identificar. Isso se chama personalização.
Alguns serviços realizados por pessoas já podem ser feitos pela IA. Profissões, com isso, vão deixar de existir?
Acredito que sim, várias profissões vão deixar de existir. Mas, ao mesmo tempo, aparecem profissões novas o tempo todo, e essas profissões vão aparecendo à medida que a tecnologia vai evoluindo e a sociedade vai aceitando essas mudanças. Mais do que evoluir e deixar de existir ou aparecer coisas novas, o que a gente tem de pensar é que a sociedade vai ficando mais eficiente.
Então tem a diversificação e a criação de novas profissões...
Exatamente! E com mais alguns elementos importantes. Na década de 1980 havia um padrão de beleza, o que aparecia na novela das oito. Hoje, o conceito de diversidade é você saber que todas as pessoas vão encontrar e se identificar com pessoas parecidas com elas. O mundo tem de ser construído por plataformas que servem a todos.
Hoje, a juventude quer muito criar conteúdo, virar celebridade da internet. Como fica o mercado para tanto criador?
Depende da quantidade de pessoas dispostas a consumir esse conteúdo. Já temos 150 mil canais (no YouTube) que vivem disso. Tem mais gente produzindo conteúdo porque tem mais gente consumindo.
A IA não se torna um desafio a mais para quem cria conteúdo? Porque ela também cria conteúdo.
Eu diria, primeiro, que a Inteligência Artificial pode ajudar todas as pessoas que produzem conteúdo a produzir conteúdo melhor e mais barato. (Mas) a inteligência artificial pode criar conteúdo sozinha? Relativamente não. Tem de ter um prompt ali. Eu não consigo conceber uma inteligência artificial criando conteúdo sozinha.
Como o Google enxerga esse cenário atual de corrida para a inteligência artificial e a questão dos data centers? Há investimentos no Brasil?
Ainda está em desenvolvimento, mas o mercado está aquecido. O Google está tendo uma postura um pouco mais cautelosa, porque nós estamos esperando um pouquinho mais de definição regulatória.
E que na tecnologia está além da inteligência artificial? Já possível definir?
Tem muita coisa além da inteligência artificial que ainda está chegando. A computação quântica é uma delas. A solução de problemas reais e grandes do planeta, através da abundância. Hoje você consegue estudar on-line de qualquer lugar no mundo. A tecnologia bem aplicada gera abundância.
Se você tiver conexão de internet, você consegue comprar coisas no mundo inteiro. Então a abundância de opções ajuda.
QUEM É
Fábio Coelho nasceu em Vitória, em 1964. Atualmente, é presidente do Google Brasil e também vice-presidente global do Google.
Ocupa a atual função desde 2011. Antes, teve passagens por outras grandes empresas, como Citibank, P&G, Pepsico e AT&T.
É formado em Engenharia, tem MBA pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de especialização em Administração de Empresas em Harvard.
Como hobbie, gosta de surfar, já tendo pegado onda em Jacaraípe, Ulé, Setiba, aqui no Estado, e em vários lugares. Agora, porém, costuma praticar o surfe em São Paulo.
Também costuma ler muito sobre tecnologia, fora do trabalho. Se considera curioso pelo assunto.
Ajuda o Flamengo desde 2013 e se tornou, a convite de Bap, o vice-presidente de Tecnologia do clube. Ele conta que “não recebe um centavo” e que pode vir a ajudar outros clubes.

MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários