Jovem fica 9 meses preso por coincidência de nomes entre ele, assassino e a mãe
Preso por engano em Jaboatão, Anderson só foi libertado após a Defensoria provar a homonímia no processo
Com informações de Marwyn Barbosa, da TV Tribuna

Um nome igual, uma mãe com o mesmo nome e um reconhecimento equivocado bastaram para que o vendedor de água Anderson Gabriel da Silva, de 25 anos, visse o mundo desabar. Durante nove meses, o jovem viveu atrás das grades por um crime que não cometeu — um erro tão improvável que parece roteiro de cinema, mas nasceu da realidade crua das falhas do Estado com o cidadão e da própria Justiça.
Depois de quase um ano preso no Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), Anderson deixou o portão do presídio nesta terça-feira (7) e foi recebido com lágrimas e abraços pela mãe e pela esposa. A liberdade veio após a Defensoria Pública de Pernambuco comprovar o equívoco que o manteve encarcerado desde 10 de janeiro, quando foi preso em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife.
A confusão começou porque Anderson, o verdadeiro assassino e até as mães de ambos têm exatamente os mesmos nomes. Essa coincidência de registros, somada a uma falha de reconhecimento visual, o colocou no centro de uma investigação sobre um homicídio ocorrido em Goiana, na Zona da Mata Norte, em 2023.
O erro que mudou uma vida

“Não foi uma tarefa fácil. Foi uma situação extremamente complicada, porque precisávamos provar a homonímia dele e da mãe. Mas conseguimos finalmente e hoje ele saiu”, contou a defensora pública Maria Cristina Ribeiro, responsável pelo caso.
Segundo a Defensoria, o erro se agravou quando a irmã da vítima, que havia presenciado o assassinato, reconheceu o verdadeiro autor por uma fotografia, mas, no momento da audiência, se confundiu e apontou Anderson como o assassino. Essa troca de identidade — sustentada apenas pela semelhança dos nomes e pelo reconhecimento equivocado — manteve o jovem atrás das grades por nove meses.
Com novas provas, a Defensoria demonstrou ao juiz que havia duas pessoas com o mesmo nome e o mesmo nome de mãe, desmontando a tese da acusação.
“Peticionamos nos autos, juntando provas documentais, assinaturas e o reconhecimento fotográfico feito aqui. Foi um trabalho minucioso para mostrar à Justiça que eram duas pessoas diferentes”, explicou Maria Cristina.
O verdadeiro autor do crime, segundo a investigação, é paraibano e possui diversas passagens por homicídio, o oposto de Anderson, que vive do trabalho como autônomo e nunca havia sido preso.
A liberdade conquistada

Quando finalmente saiu do Cotel, Anderson parecia ainda atordoado com o que viveu.
“Eu pedi muito a Deus que desse tudo certo, porque eu não cometi esse crime. Passei nove meses com eles aqui. Graças a Deus estou saindo desse lugar horrível. Quero agradecer à doutora Cristina, que me ajudou muito. Que Deus abençoe a vida dela”, disse, emocionado.
Do lado de fora, a mãe, Ana Paula da Silva, e a esposa, Carla Assis de Paula, o aguardavam entre lágrimas.
“Só a gente sabe o que passou. Foram muitos gastos e muito sofrimento. Ver ele saindo é um alívio. Agora vamos correr atrás para ressarcir o que ele passou”, afirmou a mãe. "Foi muito julgamento das pessoas", acrescentou a esposa.
A busca por justiça
A família agora pretende acionar a Justiça para buscar indenização do Estado pelos meses de prisão indevida. Mais do que uma reparação financeira, querem o reconhecimento público de que Anderson foi vítima de um erro absurdo — daqueles que, quando acontecem, colocam a própria ideia de Justiça à prova.
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