Metanol em bebida: ‘Por que esperaram mais de 20 dias para falar de assunto tão grave, com mortes?’
Presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci reclama que as autoridades do País demoraram para vir a público falar sobre os possíveis casos (e mortes) de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas. Segundo ele, o anúncio deveria ter sido feito antes para que medidas de prevenção fossem tomadas o mais rapidamente possível.
“Por que esperaram mais de 20 dias para falar sobre um assunto tão grave, envolvendo mortes?”, questionou Solmucci. “Só soubemos o que estava acontecendo depois da morte de mais pessoas. Isso demonstra inépcia e letargia do nosso estado.”
Solmucci reclamou também da falta de fiscalização frequente a produtores e distribuidores de bebidas alcoólicas. Segundo o presidente-executivo da Abrasel, ainda é cedo para mensurar impactos da crise na frequência de bares e restaurantes de São Paulo.
Quais são as bebidas mais comumente adulteradas no País?
Antes de mais nada, queria destacar nossa solidariedade às famílias envolvidas, principalmente aquelas que tiveram perdas. Gostaria de registrar também que o problema da falsificação de bebidas é antigo no País. Segundo estudo da USP, 1/3 das bebidas comercializadas no Brasil sofre algum tipo de adulteração. Lamentavelmente, as autoridades demoram a agir.
Mas desta vez é diferente, não?
Sim. Segundo o Centro de Informações de Saúde e Assistência Toxicológica (Ciatex), a maior parte das ocorrências desse tipo registradas no País é entre pessoas muito vulneráveis, em situação de rua, viciados em drogas.... Não temos ocorrências associadas ao consumo em bares e restaurantes, especialmente os formais.
Até agora, a rigor, não há confirmação ainda de que o problema tenha acontecido em bares. Agora, uma coisa chama atenção: por que esperaram mais de 20 dias para falar sobre um assunto tão grave, envolvendo mortes? Só soubemos do que estava acontecendo depois da morte de mais pessoas. Isso demonstra inépcia e letargia do nosso Estado.
Como é a fiscalização de distribuidoras de bebidas, bares e restaurantes?
Há muito pouca fiscalização por parte do poder público. Há fábricas com irregularidades, e sempre denunciamos. É mais fácil fiscalizar fábricas e distribuidoras do que criar hipóteses de que as pessoas vão passar mal nos bares. Nas fronteiras, a obrigação é da Polícia Federal. Nos Estados, da Polícia Civil. Mas nosso poder público tem sido ineficiente no combate a falsificações e contrabandos.
Outro problema são os tributos muito altos, mais altos do que em outros países. Isso acaba criando um estímulo para a falsificação e o contrabando. Nosso país é muito extenso, tem fronteiras permeáveis, e o poder público tem limitação na fiscalização, é um grande desafio. O fato é que deveria haver fiscalização mais frequente, a gente sempre pleiteia isso. Um terço das bebidas com adulteração (segundo dados da USP) é assustador.
O senhor acha que o PCC pode estar por trás desse problema, como está sendo aventado?
Acho um pouco leviana essa associação. A ideia seria que o metanol que o PCC usava em postos de gasolina que foram fechados teria ido para a bebida. Ora, são centenas de milhares de litros de metanol, se isso estivesse acontecendo, não teríamos uma ocorrência, mas uma crise nacional de proporções absurdas. Temos que ser cautelosos.
Quais precauções o consumidor e os donos dos bares devem tomar?
É preciso ver se estão comprando as bebidas de um fornecedor ou distribuidor com história de mercado, boa reputação, ver se o preço está equilibrado. Se o preço estiver muito baixo, é preciso desconfiar. É preciso também verificar o rótulo e o lacre das embalagens. As falsificações em geral são muito mal feitas, é um lacre torto, um rótulo mal posicionado. Um conselho que damos sempre aos bares e restaurantes é destruir as garrafas das bebidas destiladas, de marcas de maior valor agregado, justamente para que não sejam reaproveitadas.
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O problema é só com as bebidas destiladas? Ou pode haver adulteração de vinho e cerveja também?
Normalmente falsificam produtos de alto valor agregado. A cerveja tem valor muito baixo, é pouco rentável. A preferência é pelas bebidas mais caras, um gim, uísque, vodka. Do ponto de vista da bandidagem, a vantagem é colocar volume em produtos de valor agregado mais alto. No caso do vinho, o que acontece é substituir um vinho caro por outro mais barato, mas não adulteração. Não conhecemos nenhum caso relevante.
E as barraquinhas que vendem bebidas nas praias ou mesmo nas ruas?
Olha, pensa bem, o cara da barraquinha também não quer correr esse risco. Ninguém quer perder cliente. Eu mesmo sou um grande consumidor das barraquinhas, elas são ótimas. É preciso ter cuidado ao apontar o dedo sem ter dados e acabar prejudicando quem está ali trabalhando honestamente. Não podemos nos precipitar.
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