PF vai investigar casos de bebidas com metanol e se há ligação com crime organizado
Medida foi uma determinação do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que caracterizou situação como grave

A Polícia Federal abriu nesta segunda-feira (29) um inquérito para investigar o aumento de casos de intoxicação por metanol em São Paulo, uma substância tóxica capaz de causar cegueira e morte. Cinco pessoas morreram no estado.
A medida foi uma determinação do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, segundo o mesmo anunciou em entrevista coletiva nesta terça-feira (30).
O ministro disse que a situação é grave e foge dos padrões comuns e que o inquérito policial tem o objetivo de verificar a procedência da droga e a rede possível de distribuição. Segundo ele, "ao que tudo indica, [a rede de distribuição] transcende os limites de um único estado", apesar de, no momento, as ocorrências estarem concentradas em São Paulo, ao justificar a competência da Polícia Federal.
Lewandowski também disse que determinou à Secretaria Nacional do Consumidor que abrisse inquérito administrativo para acompanhar estas ocorrências.
"Vamos ver as providências que podem ser tomadas do ponto de vista do direito do consumidor. Além disso, também constitui crime comum a venda e distribuição de produtos adulterados", afirmou.
Ele acrescentou que, normalmente, a ingestão de metanol ocorria com relação a pessoas em situação de rua ou de vulnerabilidade, que se digiram a postos de combustível e ingeriam a substância.
"Houve uma mudança de padrão em meados de setembro em que verificamos que as intoxicações passaram a ocorrer em bares e restaurantes, sobretudo em São Paulo, com adulteração de bebidas, como gim, uísque e vodca", disse.
O diretor da PF, Andrei Rodrigues, disse que o órgão vai investigar o caso pela Superintendência de São Paulo e que as respostas virão em "um curto espaço de tempo". Também disse que esse trabalho será feito junto com outros órgãos, como a Polícia Civil de São Paulo.
Ele também justificou a atuação da PF no caso afirmando que é possível conexões com investigações recentes do órgão em São Paulo e no Paraná sobre a cadeia de combustíveis, já que parte da importação de metanol passa pelo porto de Paranaguá. Ainda será investigado, segundo o diretor, a relação disso com o crime organizado.
Até o momento, na operação Tank do Paraná, a PF só constatou concentração maior de etanol nas adulterações de amostras periciadas em postos de combustíveis. A questão do metanol ainda não apareceu nas investigações.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou que, entre agosto e setembro, foram 17 casos notificados e que, no ano, a média era de 20. Ele também afirmou que as vítimas geralmente eram pessoas em situação de rua, ou em "autoagressão", e que chama atenção os casos concentrados em São Paulo.
"Vamos reforçar, com nota técnica específica publicada hoje, as informações em relação a intoxicação com metanol, com a definição de casos suspeitos e os primeiros sinais de sintomas para identificação", disse.
Padilha acrescentou que haverá uma orientação mais clara para os profissionais de saúde de como verificar uma situação de gravidade e administrar os antídotos, além da notificação imediata dos casos pelos gestores municipais de saúde.
A Polícia Civil investiga bares e adegas suspeitas de venderem bebidas alcoólicas intoxicadas. A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) diz que as adulterações podem estar ligadas à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
O que se sabe até agora sobre a intoxicação por metanol
O metanol é um produto químico industrial, altamente tóxico e impróprio para consumo humano. Mesmo pequenas quantidades podem ser fatais.
Pessoas Intoxicadas
Desde junho deste ano, foram confirmados no estado seis casos de intoxicação por metanol ligados ao consumo de bebida alcoólica adulterada —ainda em apuração pela Polícia Civil de São Paulo.
Há também dez casos sob investigação, dos quais três resultaram em mortes, sendo duas em São Bernardo do Campo e uma na capital. A causa dos óbitos foi intoxicação por metanol, mas ainda não está confirmado se o consumo se deu por bebida adulterada.
Como jovens foram intoxicados
As vítimas disseram terem sido intoxicadas após comprarem bebidas prontas em bares ou garrafas lacradas em adegas.
De um grupo de cinco amigos da zona sul de São Paulo, quatro pessoas foram hospitalizadas após consumirem uma garrafa de gim comprada dias antes em uma adega.
Rhadarani Domingos, designer de interiores, por sua vez, está internada e perdeu a visão após consumir caipirinhas de frutas com vodca em um bar nos Jardins, em São Paulo.
Segundo especialistas, a contaminação de uma bebida alcoólica por metanol tende a acontecer em casos de falsificação do produto, uma vez que a substância tóxica pode estar presente em álcool adulterado ou mesmo ser adicionada para aumentar o teor alcoólico de forma mais barata.
Suspeita sobre a origem do metanol
Ainda não se sabe qual é a origem do metanol nem como as garrafas foram intoxicadas.
A Polícia Civil investiga a adega em Cidade Dutra, onde o grupo de amigos teria comprado a garrafa de gim. O bar no Jardins teve cem garrafas apreendidas nesta segunda-feira (29), pelo CVS (Centro de Vigilância Sanitária).
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) diz que as adulterações podem estar ligadas à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
O Ministério Público diz que a ligação entre as adulterações e facções criminosas é possível, mas que ainda não há elementos concretos que comprovem relação direta entre os casos.
Como identificar metanol na bebida
O consumidor não consegue identificar metanol pelo gosto, cheiro ou aparência. Muitas vezes, a bebida contaminada tem sabor idêntico ao produto original.
Saiba se bebida está adulterada
Não existe forma caseira segura de identificar bebidas adulteradas com metanol, já que ele é incolor, volátil e pode ter odor e sabor muito parecidos aos do etanol. A detecção só é possível em laboratório.
Mas há sinais de alerta que devem chamar a atenção:
- Preço muito abaixo do mercado
- Ponto de venda informal
- Odor irritante
- Embalagens com rótulo mal impresso, torto ou com erros
- Ausência de CNPJ, lote ou data de validade na embalagem
- Lacre violado
- Turvação ou alteração de cor em bebidas que deveriam ser transparentes, como vodca, gin, saquê e cachaça.
Como prevenir o consumo de bebida contaminada
É importante comprar de fontes confiáveis, como supermercados e distribuidoras autorizadas que sejam estabelecimentos conhecidos ou dos quais tenha referência.
O Procon-SP recomenda também que se exija sempre a nota fiscal ou comprovação de origem: documento precisa ter todas as informações de identificação do fornecedor e da compra.
No caso do consumo em bares, o consumidor não tem como saber se a bebida contida é legítima. Por isso, a responsabilidade recai sobre os estabelecimentos e sobre os órgãos fiscalizadores.
Sintomas da intoxicação
Sintomas típicos são náusea, vômito, dor abdominal, tontura, dor de cabeça, visão turva ou perda da visão, confusão, sonolência e dificuldade respiratória. Eles podem ser confundidos com uma forte ressaca.
Efeitos do metanol no corpo
De acordo com especialistas, de 12 a 24 horas após o consumo da bebida adulterada, o fígado já transformou o metanol em ácido fórmico (ácido produzido pelo organismo na metabolização do metanol).
Nesta fase, o paciente também pode apresentar dor abdominal, insuficiência respiratória, confusão mental, alterações no sistema nervoso central, perda de visão e entrar em coma. A depender do caso, pode levar à morte.
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