Nova fase da vida: Pressão por juventude leva a frustrações
Pressão estética que hoje domina a mídia e as redes sociais e tem sido motivo de queixas nas psicoterapias
Não bastasse todos os desafios que a idade traz, ainda é preciso lidar com a pressão estética que hoje domina a mídia e as redes sociais e tem sido motivo de queixas nas psicoterapias.
“A pressão de uma sociedade com valores capitalistas, que exalta a juventude e demanda dos indivíduos uma velhice produtiva, feliz e sem adoecimentos, traz às pessoas que envelhecem inúmeras frustrações na entrada desta nova etapa da vida, considerando os diferentes contextos em que estas pessoas estão inseridas”, observa Thays Hage, psicóloga, mestra e doutoranda em Psicologia pela Ufes.
Essa demanda também é destacada pela psicóloga Déborah Ramos, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e com formação em Gerontologia e Psico-Oncologia.
“A terapia entra justamente como um espaço de acolhimento, ressignificação e construção de novas formas de viver essas transições”.
A terapeuta familiar sistêmica Ana Maria Santos de Souza, vice-presidente da Associação de Terapia Familiar do Espírito Santo (Atefes), aponta que a terapia é como “um mapa” que serve para encontrar novos caminhos que vão dar energia para enfrentar desafios, dando ainda a capacidade para conhecer os sentimentos, identificá-los e enfrentá-los de forma mais saudável.
“Sempre é tempo de se conhecer melhor, de se dar oportunidade para se entender de verdade, de se olhar com carinho e de se permitir viver de forma mais autêntica, pois essa busca por autoconhecimento e autocuidado é uma oportunidade de investir num viver melhor e dar vida aos anos que virão”.
Preparo
Com o aumento na quantidade de pessoas idosas na sociedade, é esperado, segundo especialistas, que em poucos anos esse público já seja uma parcela considerável nos consultórios de terapia. Porém, será preciso profissionais especializados para atendimento dessa faixa etária.
“Considerando que esta demanda tem se tornado cada vez maior, e que poucos profissionais se preparam de fato para trabalhar com a população idosa, torna-se importante que ocorram avanços científicos, em estudos e processos formativos, que sirvam de base para o aperfeiçoamento do atendimento a esse público”, destaca a psicóloga Thays Hage.
“Aprendi a lidar com minha situação”

Em agosto de 2024, a professora Maristela Mozer de Souza, de 62 anos, passou por uma cirurgia para tratar um câncer raro no olho, um melanoma da conjuntiva. Ela precisou retirar o olho e as pálpebras e, por causa desse processo, precisou de terapia.
“Virei uma pessoa estranha e diferente. Quando eu precisei tomar a decisão de tirar o olho, porque a decisão seria minha, confesso que fiquei meio abalada, apesar de ser uma pessoa muito pé no chão. A terapia me ajudou bastante a conversar, a não ter vergonha de chorar, enfim, aprendi a lidar bem com a minha nova situação”, conta.
Desde que passou a fazer terapia, Maristela conta que adotou alguns hábitos, como tomar chá frequentemente e frequentar mais a igreja. “Além disso, meu relacionamento com o meu filho melhorou muito”.
“Precisava de ajuda”

Compreender e lidar melhor com os sentimentos e comportamentos. Foram esses alguns dos motivos que levaram o pedagogo Alcides Felício da Silva, 59 anos, a procurar por terapia há três anos.
“Queria entender como essas questões estavam influenciando minhas decisões, meus relacionamentos e minha vida de forma geral”.
“Sentia que precisava de um espaço de escuta e acolhimento para refletir sobre mim mesmo, pois minhas atitudes já haviam me feito perder muitas coisas boas, entre elas, amizades, oportunidades de ajudar e ser ajudado”, destacou.
“Também percebi que, em certos momentos, feri e desrespeitei pessoas. Com o tempo, e especialmente a partir dos questionamentos da minha esposa, compreendi que precisava de ajuda e de ajuda especializada”, relata.
Mas não foi fácil aceitar que precisava de ajuda. Alcides lembra que durante um tempo teve resistência.
“Acredito que havia um medo profundo de me perceber, de entrar em contato com partes de mim que eu evitava, sentimentos mal resolvidos, comportamentos que me machucavam e machucavam outras pessoas, e até verdades que eu não queria encarar”.
Com o tempo e com apoio, ele conta que conseguiu vencer essa resistência. “Percebo o quanto a terapia tem sido essencial para minha evolução pessoal e emocional”, destacou.
Tratamento ganha espaço após anos de preconceito

Por muito tempo, a terapia não era vista com bons olhos. Procurar ajuda psicológica era vista com preconceito, lembram os especialistas.
A psicóloga Déborah Ramos, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e com formação Gerontologia e Psico-Oncologia, observa que por barreiras culturais, estruturais e até mesmo de acesso, historicamente, o público acima dos 50 anos era mais afastado da busca ativa por tratamento psicológico e psicoterapias no geral.
“Hoje, saúde mental tem sido um tema amplamente discutido, incentivado e valorizado. Existia também a ideia de que buscar ajuda psicológica era sinal de fraqueza, isso quando não estava associada diretamente à 'loucura' de maneira pejorativa. Hoje, vemos uma mudança importante: esse público está mais aberto a falar sobre saúde mental e contrariar a ideia de que 'não vale a pena mudar nessa fase da vida'”.
Greyciara Gomes Amorim, psicóloga e especialista em Neuropsicologia, reforça que a terapia deixou de ser vista como sinal de fraqueza e passou a ser reconhecida como autocuidado.
A terapeuta familiar sistêmica Ana Maria Santos de Souza, vice-presidente da Associação de Terapia Familiar do Espírito Santo (Atefes), destaca que atualmente as pessoas se sentem “confortáveis e seguras para buscarem espaço onde possam explorar seus sentimentos e entenderem melhor as emoções que surgem nessa fase da vida”.
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