Mulher atropelada por BRT morre no HR após esperar vaga de UTI em setor superlotado
Paciente de 63 anos ficou quatro dias na Ala Vermelha do Hospital da Restauração; família denuncia negligência e cheiro de sangue 'cru' em todo lugar
Com informações de Rafaella Pimentel

Maria do Socorro Ferreira Ramos, de 63 anos, morreu nesta segunda-feira (29) no Hospital da Restauração (HR), no Recife, após quatro dias de internação sem conseguir acesso a uma vaga de UTI. A dona de casa foi atropelada por um ônibus BRT da linha Abreu e Lima, no Terminal Integrado Pelópidas Silveira, em Paulista, e não resistiu aos ferimentos. A família acusa a unidade de saúde de negligência e denuncia a superlotação crônica do hospital.
Espera sem resposta
Desde o último dia 25, os parentes se revezavam no hospital à espera de um leito de terapia intensiva, mas a transferência nunca aconteceu. De acordo com relatos do filho, o auxiliar de produção Douglas Ramos, Maria do Socorro ficou internada na Ala Vermelha — setor reservado para os casos mais graves — que estava lotada.
O filho relatou que, logo no dia do acidente, a encontrou “jogada no chão, ainda com a maca do Samu”, e reclamou da ausência de condições adequadas para o atendimento. Maria do Socorro morreu na mesma maca do Samu. Não teve chance. Primeiro, segundo testemunihas, a vítima tentou atravessar a entrada do terminal quando foi atingida pelo veículo
Foi vítima de duas falhas do sistema público do estado: da rede de transporte público metropolitano de Pernambuco e do HR.
Indignação da família
A sobrinha Patrícia Ferreira criticou o que classificou como falta de atendimento humanizado e denunciou o caos dentro da unidade. Estava tão lotado e com casos graves, que o cheiro de sangue tomava o ar, em todos os espaços, até a porta de saída, como se ali, houvesse uma guerra - uma luta também para os profissionais que lá atuam, precisando escolher quem deve ou não ser socorrido.
“Ela morreu aqui da pior forma possível. Quantos vão morrer? Porque aí dentro está lotado, superlotado”, afirmou. Ela relatou ainda o cenário de insalubridade: “A catinga de sangue cru chega aqui. Homem, mulher, idoso, criança, todo mundo sente”.
Retrato do colapso
A morte de Maria do Socorro expõe novamente a crise enfrentada pelo maior hospital público de Pernambuco, que acumula denúncias de superlotação e demora no acesso a serviços essenciais. Para a família, a paciente poderia não ter sobrevivido devido à gravidade dos ferimentos, mas a forma como foi atendida aprofundou a dor. “Se ela tivesse que partir, partiria. Mas ao menos a família teria sido atendida de forma humanizada”, resumiu Patrícia.
O HR, até o fechamento desta matéria, não se pronunciou.
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