Vítima de acidente com moto: “Por causa da pressa perdi um ano e meio de minha vida
Segundo estudo, 69,5% ficam com deformidades, 67,4% permanecem com déficit motor e 35,8% sofrem amputações

Há um ano e dois meses, Felipe Matheus de Souza, de 23 anos, viu sua vida mudar completamente. Após um acidente próximo ao Trevo de Castelhanos, em Anchieta, seus estudos, trabalho e rotina ficaram parados.
Hoje, o jovem aguarda cirurgias no joelho direito e nos dois calcanhares, com a expectativa de retomar a antiga rotina em breve, e faz um alerta para os motociclistas.
“Eu queria poupar cinco minutos no trânsito e acabei perdendo um ano e meio. Temos que ter muito cuidado conosco e com outras pessoas. A pressa não pode ser prioridade”, diz.
Felipe pilotava uma Honda Biz e tentou ultrapassar um caminhão. O motorista, sem enxergá-lo, aproximou o veículo, desequilibrando o jovem, que bateu no meio-fio e caiu embaixo do caminhão e foi arrastado por alguns metros.
Ele ficou seis meses internado no Hospital São Lucas, em Vitória, antes de voltar para casa, onde segue em recuperação até hoje. “Eu tinha uma rotina muito ativa e tive que parar tudo para focar na minha recuperação”, conta Felipe. O longo processo é acompanhado por toda a família, a quem ele credita a força e o suporte que recebe.
“Quem sempre me ajudou foram minha família e amigos. Independente de qualquer momento, eles me apoiam e mostram o amor que Deus tem por mim através da vida deles.”
Donos de um quiosque em Castelhanos, os pais de Felipe, Rinaldo Bezerra de Souza e Adenilza Maria da Silva, também precisaram mudar a rotina. “Precisei parar de trabalhar para auxiliar o Felipe em casa. É o nosso papel como pais e família: fazemos tudo o que podemos, e temos fé em Deus de que tudo vai ficar dar certo”, disse Adenilza.
Deformidades em membros e déficit motor
Um terço das vítimas de acidentes de trânsito com motocicleta em todo o País convivem com sequelas. A conclusão é de uma pesquisa divulgada pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
De acordo o estudo, 69,5% das vítimas ficam com deformidades em membros, 67,4% permanecem com déficit motor, como dificuldade para andar ou manter o equilíbrio, e também perda de força ou até incapacitação dos membros, e 35,8% passam por amputações, principalmente de membros inferiores.
Apesar do reforço na estrutura médica para receber pacientes desse tipo no Estado, internações reincidentes aumentam o número de sequelas, explica Jansen Cuzuol, médico coordenador do centro cirúrgico e do serviço de ortopedia do Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE).
“Temos uma equipe multidisciplinar disponível 24 horas, mas grande parte das vítimas internadas por acidente com moto é reincidente”.
Marcell Seiki, de 41 anos, já sofreu dois acidentes de moto, sendo o mais recente há três meses, na BR-101, em Viana. O motoboy fraturou a rótula do joelho, precisou de enxerto e, agora, têm problemas diários.
“No momento do acidente, eu estava fazendo entregas. O trecho por onde passava estava muito sujo, a moto patinou e eu perdi o controle. Hoje, não posso correr mais, nem subir escadas sem apoio, e perco o equilíbrio frequentemente”.

Um mês após o acidente, ele precisou voltar a fazer entregas, única fonte de sustento que dispõe: “Quem trabalha com entrega precisa redobrar a atenção”.
Campanhas de conscientização contínuas, abordando sequelas geradas pelos acidentes, devem ser reforçadas, afirma Jair Simmer Filho, presidente da SBOT-ES.
“O ser humano tem um corpo frágil. Uma lesão sofrida a uma velocidade de 40 km/h pode ser fatal. Temos que bater na tecla das sequelas em campanhas de conscientização e educação, porque muitos motociclistas estão ficando sequelados após colisão com caminhões, carros, postes, e até quedas da própria motocicleta”.
Conduzir moto com vestuário adequado é fundamental para evitar lesões graves. “Muitas vezes, o motociclista usa chinelo no momento do acidente. Aí, qualquer pancadinha leva parte do pé embora, ou tira a pele do membro, resultando em lesão grave”.
Atropelamento
“Vivo com medo”
“Não consigo pegar peso com o braço direito, e meu ombro sai do lugar com qualquer impacto fraco, vivo com medo”, relatou Erisvan Alonso de Oliveira. Após ser atropelado, o motoboy passou a trabalhar, também, como vigilante patrimonial, para dirigir moto por menos tempo.
“Eu parei em um semáforo vermelho, na frente do Shopping Vitória. Um carro veio atrás, bateu na moto, e depois fugiu, nunca foi encontrado. Também quebrei a perna em dois lugares, mas a recuperação óssea foi boa”.
Fique por dentro
Acidentes de motocicleta
- 2/3 de vítimas de acidentes de trânsito, ocorridos entre janeiro e julho deste ano, eram motociclistas.
- Em 82% dos casos, as vítimas relatam dor crônica após o acidente.
- 3.096 internações por acidentes de moto foram realizadas no Hospital São Lucas, em Vitória, entre janeiro e julho deste ano.
- 1.755 desses pacientes ficaram com sequelas.
- Em 2024, o total de 2.554 vítimas de acidente de moto foram internadas no hospital no mesmo período, o que representa um aumento de 21% no número de internações registradas em 2025.
- 5.306 internações foram feitas no Estado, pelo SUS, no último ano.
- 60% dos pacientes vítimas de acidente de moto atendidos no Hospital São Lucas são reincidentes.
- 56,7% passaram a conviver com poucas sequelas. Outros 33,9% sofreram sequelas permanentes.
Sequelas comuns
- 69,5% das vítimas ficam com deformidades em membros.
- 67,4% permanecem com déficit motor, como dificuldade para andar ou manter o equilíbrio, e também perda de força ou até incapacitação dos membros.
- 35,8% passam por amputações, principalmente de membros inferiores.
- Tetraplegia e paraplegia acometem pacientes com lesão na medula espinhal.
- Desluvamento do pé, lesão grave em que a pele se separa do músculo, são frequentes.
- Fraturas envolvendo a tíbia (osso localizado entre o pé e o joelho), e o fêmur (maior osso do corpo, localizado na coxa) também são comuns.
- Traumatismos cranianos, no tórax (região do peito), no abdômen (barriga) e queimaduras também são observadas.
Acidentes no Estado
- Cariacica e os municípios da região Serrana Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa e Santa Leopoldina são os que têm maior registro de acidentes envolvendo motocicleta no Espírito Santo.
- Trabalhadores rurais da região Serrana são as principais vítimas desses acidentes, que ocorrem durante o trabalho. Segundo profissionais do Hospital São Lucas, os pacientes chegam sujos de lama, pois os acidentes acontecem em regiões rurais.
- Já Cariacica é uma cidade populosa, com diversos bairros em região de morro, o que, segundo profissionais do hospital, propicia acidentes com motocicleta.
- O maior volume desse tipo de acidente acontece, principalmente, aos finais de semana e em datas festivas.
Fonte: HEUE e SBOT-ES.
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