É possível surgir autismo na adolescência? Especialistas explicam
Sinais aparecem ainda na infância. Pais devem observar atrasos na fala, na marcha ou no aprendizado

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno do Espectro Autista (TEA) são condições do neurodesenvolvimento que geralmente aparecem nos primeiros anos de vida.
Mas, muitas vezes, o diagnóstico só vem na adolescência, quando as cobranças sociais e escolares se intensificam e os sintomas ficam mais visíveis.
Esse foi um dos temas debatidos no Seminário de Saúde Mental na Infância e Adolescência, que aconteceu na última quarta-feira, em Vila Velha.
A pediatra Lívia Cremasco Valim, que participou da mesa-redonda “Desmistificando o TEA e o TDAH”, explicou que esses transtornos não surgem de repente.
“A gente começa a observar os sinais ainda na infância. O que acontece é que, se não for diagnosticado cedo, o prejuízo vai aumentando e fica mais evidente na adolescência, principalmente na parte da socialização”.
Segundo ela, no caso do TDAH, é fundamental que haja um déficit escolar antes dos 12 anos para fechar o diagnóstico. “A gente precisa também afastar outros transtornos psiquiátricos, como depressão, antes de confirmar”.
O psiquiatra Rafael Mazzini, responsável técnico pelo serviço de saúde mental do Himaba, reforça que os sintomas costumam aparecer antes dos sete anos.
“Eles ficam mais aparentes depois da primeira infância, mas não surgem do nada. É muito importante que os pais observem atrasos na fala, na marcha ou no aprendizado e procurem ajuda médica o quanto antes”.
Para ele, o suporte da escola é essencial. “O ambiente escolar deve estar preparado, com adaptações e profissionais capacitados. Uma postura acolhedora e humanizada faz toda a diferença.”
Além do diagnóstico, o suporte familiar é decisivo. “Quanto mais presente a família estiver, melhor será o desenvolvimento da criança. Não adianta só cobrar, tem que estar junto na terapia, estimular brincadeiras, socialização e esporte. A presença do pai e da mãe é essencial, principalmente no paciente neuroatípico”, reforça Lívia.
O diretor-geral do Himaba, Cláudio Amorim, destaca que o seminário busca ampliar o debate sobre a saúde mental infantil.
“Nosso objetivo é apresentar alternativas e fortalecer a linha de humanização.
FIQUE POR DENTRO
O que é autismo?
> O transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento.
> A pessoa acometida já nasce com ele e manifesta um conjunto de condições neurodesenvolvimentais, caracterizadas por dificuldades iniciais na comunicação social e por comportamentos e interesses repetitivos incomumente restritos.
Os números
> De acordo com levantamento feito pelo IBGE, 51,3 mil pessoas declararam ter recebido diagnóstico no Espírito Santo.
> É o quinto estado com maior percentual (1,3%) de pessoas residentes com diagnóstico de autismo.
Sinais do TEA
> De 18 a 24 meses: Pouco contato visual, até em momentos de carinho; choro excessivo sem motivo aparente; distúrbios de sono (insônia, despertares, sono irregular); inquietação constante ou apatia; sensibilidade a barulhos e texturas dos alimentos; atraso no sorriso social e no balbucio.
> Primeira infância: Atraso na fala (sinal mais comum); Dificuldade de socialização e de entender regras sociais; brincadeiras não convencionais, como fixação em partes de objetos; movimentos repetitivos (estereotipias).
> Adolescência: Dificuldade em compreender ironias ou sarcasmos; reações incomuns em ambientes sociais; problemas de sono e comportamento; isolamento social, timidez, dificuldade em fazer amigos; queda no rendimento escolar e risco de ansiedade e depressão.
> Adulto: Hiperfoco em temas específicos e pouco compartilháveis; Poucos ou nenhum vínculo afetivo próximo; dificuldade com jogos sociais, piadas, sarcasmo e expressões faciais; tendência a humor introspectivo.
O que é TDAH?
> É considerado também um transtorno do neurodesenvolvimento, que se manifesta precocemente e influencia o funcionamento social ou acadêmico.
> Sendo de causa multifatorial, tem um importante componente genético, o que significa que existe uma tendência para que ele seja transmitido de pais para filhos.
Tipos
> São 3 tipos de TDAH: O hiperativo e impulsivo, o desatento e o misto.
> Cada um deles se caracteriza por um conjunto de sintomas comportamentais, como desatenção, desorganização ou hiperatividade.
> O TDAH não se apresenta da mesma forma em todas as pessoas e, portanto, nem todos vão apresentar as mesmas dificuldades.
> Algumas pessoas são mais desatentas, enquanto outras têm mais traços de hiperatividade.
1. Hiperativo/Impulsivo
> Apresenta agitação, inquietação, fala excessivamente, tem dificuldade em relaxar ou descansar, parece constantemente em movimento e tem dificuldade em esperar a vez e ficar sentado por longos períodos.
> Toma decisões precipitadas sem pensar nas consequências, interrompe os outros durante as conversas.
> Tem dificuldade em controlar reações emocionais e age impulsivamente, sem considerar as consequências, explica o neuropediatra Raphael Rangel.
2. Desatento
> Dificuldade em prestar atenção aos detalhes, comete erros por descuido.
> Dificuldade de concentração em palestras, aulas, leitura de livros. Dificilmente termina um livro, a não ser que o interesse muito.
> Às vezes parece não ouvir quando o chamam (muitas vezes é interpretado como egoísta e desinteressado).
> Demora muito mais que outras pessoas para fazer atividades similares, se perde pelo meio do caminho.
Fonte: Pesquisa A Tribuna.
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