Histórias Empresariais: Brametal moderniza fábrica no Norte do ES
Completando 50 anos, empresa investe R$ 80 milhões na unidade industrial de Linhares. E ainda oferecerá novo serviço a metalúrgicas

Meio século de história, a metade com atuação no Norte capixaba. A Brametal completa 50 anos, sendo 25 com unidade fabril em Linhares, e tem novidades para o Espírito Santo.
Com faturamento anual próximo de R$ 1,5 bilhão, a empresa realiza atualmente investimento de R$ 80 milhões na modernização de sua fábrica em Linhares.
A unidade capixaba vai ainda oferecer ao mercado “grande capacidade de galvanização a fogo para metalúrgicas, algo que hoje não há aqui”, disse Alexandre Queiroz Schmidt, CEO da empresa, no podcast Histórias Empresariais.
“Esse investimento já foi concluído e está pronto para operar a partir de 2026”, frisou.
Fã do bom e velho rock n' roll e baterista nas horas vagas, Schmidt é visto como um capixaba, embora tenha nascido em Sorocaba, no interior paulista. O nome da banda de rock do CEO já entrega sua paixão. Chama-se North of State, ou “Norte do Estado”.

Assista a entrevista completa
A Tribuna — Quem passa na BR-101 ali em Linhares constata sempre como a empresa cresce. Há algum novo plano de investimento no Estado?
Alexandre Queiroz Schmidt — Há, sim, um investimento de R$ 80 milhões em curso, com máquinas italianas e alemãs, que vão melhorar a eficiência. Na verdade, todo ano a Brametal reinveste em algo no Espírito Santo.
E ano que vem inauguraremos uma nova planta em Criciúma (SC), substituindo a antiga.
Anos atrás, falava-se muito em energia eólica offshore, com geração em alto-mar. Foi até elaborado um atlas eólico. Há interesse da Brametal em participar desse tipo de iniciativa?
O atlas eólico, ou mapa dos ventos, foi elaborado no Espírito Santo e considerado muito bem feito, mas os investidores optaram pelo Nordeste devido à maior velocidade e constância dos ventos.
Na época, a Brametal fez um estudo sobre torres treliçadas, solução pouco tradicional, usada em países da Europa e da África para aerogeradores. Mas o mercado se estagnou, a alternativa não se mostrou viável no Brasil. Aqui, prevaleceram as torres tubulares para os parques eólicos — produto que não é do portfólio da Brametal.
A Brametal está com quadro de funcionários completo?
A Brametal está sempre contratando e, na área operacional, tem sempre de 50 a 100 vagas em aberto. A falta de mão de obra qualificada levou a empresa a abrir, há 2 anos e meio, um escritório em São Paulo, hoje com mais de 60 pessoas, para apoio como financeiro, TI e supply. No Espírito Santo, o desemprego varia entre 5% e 7%, mas trata-se, em grande parte, de mão de obra não qualificada.
Na verdade, não tem desempregado qualificado...
Não tem. Apesar de programas estaduais e municipais e do apoio de instituições como Sesc, Senai, Sesi e Ifes, Linhares enfrenta uma crise séria de mão de obra.
Soma-se a isso o perfil da nova geração, marcada pelo imediatismo e pela busca por resultados rápidos, o que dificulta a formação de profissionais dispostos a construir carreira de longo prazo. Assim, cresce a resistência das empresas ao home office integral, prejudicial às relações, ao desenvolvimento individual e até social.
Há quem more em Vitória e trabalhe na Brametal?
Há, mas a BR-101 ainda não está pronta, o que dificulta a logística. Enquanto a rodovia não for concluída, esse seguirá sendo um entrave para o deslocamento de mão de obra no Espírito Santo.
E os novos portos?
Parabenizo os executivos da Imetame pelo novo porto assim como a todos os que investem em infraestrutura privada. O Brasil tem custo elevado para importar e, pior ainda, para exportar. Por isso, todo investimento no Norte do Estado é visto com bons olhos.
O Brasil tem um problema sério. Dependemos das estradas, sem a cabotagem e as ferrovias que deveríamos ter. Vivemos uma crise: as rodovias não comportam o volume de caminhões, e o problema das bitolas nas ferrovias é um erro gravíssimo do passado, difícil de resolver.
A Brametal tem participação forte no mercado exterior?
Sim. Nos últimos anos, já atendemos 15 países, principalmente na América do Sul, além de México, Estados Unidos e alguns países da África. Estamos em negociação para grandes contratos, possivelmente nos EUA, que têm investido bastante em transmissão de energia. Há perspectivas de negócios importantes nos próximos anos.
Mesmo com o tarifaço?
A tarifa impacta, mas acreditamos que no médio prazo isso será resolvido no Brasil (enfático).
Bem, hoje, o principal mercado da Brametal é o brasileiro, especialmente com investimentos em transmissão. Recentemente, houve a energização do último estado não conectado ao sistema — Roraima, que dependia da Venezuela.
A linha Manaus–Boa Vista já está em operação, e a Brametal tem orgulho de ter fornecido 100% das torres de transmissão.
Tem previsão de expandir mais, atender mais países?
A ambição é atender o mundo inteiro. Mas não é fácil competir com asiáticos, que têm condições diferentes. O governo precisa incentivar exportações. E não deixar entrar produtos desses países que competem de forma predatória, até com a mão de obra aqui do País. A Brametal estuda mercados exigentes, como Alemanha e Austrália, que têm grandes investimentos em geração e transmissão.
Quando o senhor fala dessa presença predatória, isso já acontece hoje? Já há peças entrando no país nessa condição?
Torres de transmissão, ainda não. O Inmetro exige qualidade, e isso é fundamental. Uma linha de transmissão é item de segurança nacional. Faltar energia em cidades como Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra é um caos. Caos!
Pode matar pessoas, parar hospitais, escolas, trânsito. As consequências são muito graves. Por isso, torres, cabos e todo o trabalho em uma linha precisam ser monitorados pelo governo federal.
Não pode entrar qualquer produto. É uma estrada por onde passa a energia do País. É um assunto delicado, o governo do Estado entende. É preciso ação forte dos nossos políticos para impedir a entrada de produtos predatórios no Brasil.
Há plano de atuar com geração de energia no futuro?
Ainda não. Temos vários estudos de novos negócios ligados ao setor de energia, mas sempre com foco em estruturas metálicas. Operar uma usina não está nos planos. Temos, sim, um parque solar dentro da Brametal, em parceria com a EDP — o 1º parque solar com tracker inaugurado no Estado — que abastece parte da nossa fábrica.
O foco da Brametal continua sendo estruturas metálicas para o setor de energia e o serviço de galvanização a fogo. Esse serviço já é forte no Sul do País e queremos expandi-lo para o Centro-Oeste.
E também para o Espírito Santo: a fábrica de Linhares vai oferecer ao mercado uma grande capacidade de galvanização a fogo para as metalúrgicas, algo que hoje não existe aqui. O investimento já foi concluído e está pronto para operar a partir do próximo ano.
E como CEO, quais os planos de sua gestão para a empresa?
A Brametal vai continuar investindo, crescendo, se modernizando. O mercado internacional é cruel, com empresários chineses, indianos, turcos, que são muito competitivos. Não dá para depender só do Brasil, temos de buscar eficiência nas plantas.
Tecnologia é essencial: P&D, mão de obra, processos ágeis, equipamentos, softwares.
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