Consórcios até para botox e casamentos
Modalidade vai além de imóveis e veículos e ganha usos inusitados no ES

Quando se pensa em consórcio, a maioria lembra logo de imóveis e veículos, pois são os mais tradicionais. No entanto, os consórcios vão muito além disso.
Os especialistas e fontes do mercado falam de casos curiosos e até inusitados no Espírito Santo, como de festas de casamento e formatura, e também de viagens, cirurgias e procedimentos estéticos — como o botox (toxina botulínica) —, compra de móveis planejados e para cursos no exterior.
Existem consórcios de serviços que incluem esses mais curiosos e, além disso, no Estado, foram identificados grupos voltados para serviços educacionais, como MBAs, destacou o economista Ricardo Paixão.
“Viagens, cirurgias estéticas, festas de casamento e cursos no exterior são alguns exemplos. Alguns administradores oferecem cotas direcionadas a equipamentos agrícolas, o que é relevante no interior do Estado”, detalhou.
Há também consórcios para frota de caminhões e ônibus, para máquinas agrícolas, para capital de giro empresarial, para investimentos e até para serviços, segundo a consultora de vendas da Ademicon Thassiane Costa Araujo.
“Já vi clientes utilizarem para abrir ou ampliar negócios, para investir no agronegócio, para renovar frota de caminhões e ônibus, para capital de giro empresarial e até para realizar sonhos pessoais, como casamentos, viagens e procedimentos estéticos”, explicou.
Há casos também de consórcio de móveis planejados e cirurgias plásticas, contou Renan Calazans, especialista da Calazans Consórcio.

No caso de procedimentos estéticos, a especialista em estética avançada Angra Pimentel, 41 anos, contou que tem grupos de consórcio com clientes, chamados de “Harmony club”, que, ao serem sorteadas, podem utilizar o valor para fazer, por exemplo, botox, preenchimento labial, microagulhamento, entre outros.
“Cada grupo tem 10 clientes, que pagam R$ 100 por mês. Tem um sorteio mensal, e quem é contemplada tem os R$ 1.000 para utilizar. E também pode complementar o valor, caso queira ou seja necessário”, destacou.
Angra disse também que isso tem atraído até mesmo mais clientes, e proporcionado que mais consumidoras tenham condições de se cuidar. “As próprias clientes comentam com outras, que entram nos grupos. Tem caso de cliente que paga e não está encorajada em fazer um procedimento, mas é sorteada e tem que fazer”, afirmou.
Utilização para quitar dívidas
O consórcio, muito popular na compra de veículos ou imóveis, vem ganhando terreno até entre empresas que recorrem à ferramenta para quitar dívidas e reduzir parcelas.
Com a taxa básica de juros pausada em 15%, as empresas estão refazendo cálculos e buscando estratégias para manter as contas em dia, com custos menores. Essa saída até pode ser uma boa alternativa para alguns casos, mas é preciso atenção e planejamento.
Segundo Cléber Gomes, CEO e sócio–fundador da Maestria, empresa especializada em consórcio e produtos financeiros, esse movimento vem crescendo desde o início do ano. Somente em julho, quando a empresa comercializou R$ 150 milhões em crédito entre seus parceiros de negócios, R$ 55 milhões foram de crédito específico para troca de dívida – o que representa 36% do total.
A Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) destacou que cerca de 18% dos participantes do consórcio são pessoas jurídicas. O avanço é puxado por setores como transporte, construção civil, agronegócio e serviços, onde empresas têm utilizado o crédito contemplado para substituir dívidas mais onerosas por parcelas sem juros.
Gomes explicou que as empresas que estão aderindo a esse mecanismo estão se planejando com foco e estratégia no longo prazo. “Para empresas com fluxo de caixa mais estável, é possível ainda usar o lance como ferramenta estratégica: utilizando parte do capital próprio para antecipar a contemplação e acelerar a troca da dívida”.
Saiba Mais
Consórcios inusitados
Os consórcios mais comuns incluem a compra de imóveis e carros, por exemplo. Mas há situações de consórcios considerados mais inusitados ou incomuns, que incluem compra de embarcações, aviões, viagens de cruzeiro, cirurgias, procedimentos estéticos, carros de luxo e esportivos, franquias e até de lingerie e Tupperware (famosa marca de recipientes plásticos).
O mercado de consórcios náuticos tem crescido nos últimos anos. Esse tipo de bem também pode funcionar como investimento, já que barcos e iates bem cuidados mantêm valor de revenda elevado.
Há casos de consórcios para investir em imóveis fora do Brasil, em países como Estados Unidos, Portugal e Espanha.
Veículos de alto padrão, carros clássicos ou esportivos também estão entre itens adquiridos via consórcio.
Há situações de consórcios de máquinas industriais, equipamentos fotográficos profissionais, drones ou instrumentos de precisão.
No caso de consórcios de lingerie e Tupperware, o objetivo é que vendedoras atinjam mais facilmente suas metas comerciais. Em um caso de consórcio para os recipientes plásticos, são oferecidas três opções de cotas aos clientes: R$ 30, R$ 50 ou R$ 100. Todas possuem duração de 10 meses e, quando sorteado, o cliente pode retirar R$ 300, R$ 500 ou R$ 1.000 em produtos, respectivamente.
No Espírito Santo
No Espírito Santo, já houve procura por consórcios de móveis planejados, cirurgias plásticas e viagens, por exemplo.
Existem casos de consórcios de serviços, a exemplo de viagens, procedimentos estéticos, cirurgias, festas de casamento e cursos no exterior. Além disso, há opções menos usuais, como festas de casamento.
Foram identificados também grupos voltados para serviços educacionais, como formaturas e MBAs.
Alguns administradores oferecem cotas direcionadas a equipamentos agrícolas, o que é relevante no interior do Estado, dada a importância da agroindústria capixaba.
Essas situações ainda são pontuais, com procura bem menor em relação às modalidades tradicionais.
Mercado tem recorde de vendas
Após bater o recorde de volume de vendas em 2024, com 4,17 milhões de cotas, o mercado de consórcios apresentou, nos primeiros seis meses deste ano, seu maior volume semestral, com 2,46 milhões de cotas. Os dados são da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) e deixam clara a popularidade do segmento entre os brasileiros.
Renan Calazans, especialista da Calazans Consórcio, avalia que, no próximo ano, os consórcios devem ultrapassar a poupança em quantidade de clientes.
A consultora de vendas da Ademicon Thassiane Costa Araujo também destacou o crescimento de procura pelos consórcios. “Cada vez mais pessoas estão percebendo que o consórcio é uma forma inteligente de comprar sem se endividar. O aumento também vem do amadurecimento do consumidor: hoje ele entende que consórcio não é 'esperar para ter', mas sim se planejar para conquistar”.
Análise
“Boleto soa como poupança forçada e ajuda na disciplina”

“O consórcio é um mecanismo coletivo de autofinanciamento. Nos últimos anos, essa modalidade tem batido recordes: só no primeiro semestre de 2025 foram vendidas 2,46 milhões de cotas, um avanço de 17% sobre 2024.
O ambiente de juros elevados explica parte da alta, mas não sozinho: crescimento econômico, desemprego baixo e maior confiança das famílias também ampliaram o espaço para alternativas ao crédito tradicional.
Outro motor é comportamental. Para muitos brasileiros, o boleto do consórcio funciona como uma 'poupança forçada', ajudando quem tem dificuldade em guardar dinheiro espontaneamente.
O aumento do tíquete médio em vários segmentos mostra ainda que não só mais pessoas aderem, mas também consumidores de maior renda passaram a ver no consórcio uma ferramenta útil de organização financeira.
O consórcio se consolidou como resposta prática ao dilema brasileiro: entre renda limitada e desejo de consumo, ele cresce porque disciplina e esperança cabem melhor no bolso do que o financiamento tradicional”.
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