Mais sete obstetras pedem demissão do IMIP; total chega a 40 em dois dias
Médicos alegam sobrecarga, falta de estrutura e salários abaixo do mercado; direção do hospital não atendeu às reivindicações

Mais sete médicos obstetras pediram demissão do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), no bairro dos Coelhos, no Centro do Recife, nesta sexta-feira (19). Nesta última quinta (18), outros 33 profissionais já haviam entregue cartas de desligamento, elevando para 40 o total de demissionários em dois dias.
As saídas em massa ocorrem após meses de negociações fracassadas entre os profissionais e a direção da unidade. Em julho, a categoria já havia formalizado a intenção de deixar os postos, apontando falta de valorização, sobrecarga de trabalho, dificuldades estruturais e baixa remuneração.
SOBRECARGA DE PLANTÕES

A médica obstetra Carolina Carrazone, que atuou no IMIP por 10 anos, descreveu a rotina como insustentável.
“Quando a gente começou o movimento, éramos quatro plantonistas a cada 12 horas, sendo um para a triagem obstétrica e três para sala de parto e centro obstétrico. Chegávamos a ter plantões com cerca de 60, 70 atendimentos, mais de 10, 15 procedimentos, fora as reavaliações, intercorrências, apoio à UTI e supervisão de residentes. Isso é uma sobrecarga muito grande de trabalho para quatro profissionais”, disse.
Segundo ela, houve tentativa recente de incluir um quinto médico nos plantões, mas o reforço ainda é insuficiente para a demanda.
NEGOCIAÇÃO SALARIAL

As tratativas foram conduzidas pelo Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe). De acordo com a entidade, os obstetras do IMIP recebem, em média, metade do salário pago em outras unidades de saúde do estado.
A vice-presidente do Simepe, Jamilly Santos, reforçou o descontentamento da categoria.
“Os médicos estão desvalorizados. A gente gostaria muito que o IMIP reconhecesse o real trabalho desses profissionais, que lidam com o binômio mãe e bebê. Queremos que eles sejam reconhecidos não só financeiramente, mas também como profissionais. Infelizmente, não é o que acontece hoje”, declarou.
Segundo o sindicato, a categoria pleiteava reajuste entre 27% e 38%, índice já alcançado em negociações anteriores com neonatologistas. No entanto, o IMIP ofereceu apenas 8%.
CONTINUIDADE DO ATENDIMENTO
Apesar das demissões, os médicos vão cumprir o aviso prévio de 30 dias para garantir a continuidade da assistência às pacientes.
O IMIP era considerada referência nacional no atendimento materno-infantil e possui atualmente 61 obstetras no quadro funcional. A unidade é mantida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e por doações.
Em 2024, o complexo hospitalar realizou quase 5 mil partos e ultrapassou a marca de 1 milhão de atendimentos, entre consultas, cirurgias, transplantes e outros procedimentos.
O IMIP já recebeu os pedidos de desligamento e informou ter repassado para a Secretaria de Saúde de Pernambuco.
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