Mulher morre após colocar hidrogel em casa de amigo, diz família
A Secretaria da Saúde de São Vicente afirmou que a suspeita clínica inicial é de sepse de foco cutâneo

Jamili Carvalho Oliveira, 35, morreu após passar por um procedimento estético com hidrogel e, segundo relatos de pessoas próximas a ela, a aplicação ocorreu em uma casa em São Vicente (SP), emprestada por um amigo.
Jamili foi internada no Hospital do Vicentino após complicações e morreu às 5h12 do sábado (13). A Polícia Civil informou que o caso foi registrado como morte suspeita e está sendo investigado.
Complicações após uso de hidrogel levaram à morte. A Secretaria da Saúde de São Vicente afirmou que a suspeita clínica inicial é de sepse de foco cutâneo, possivelmente relacionada ao uso de hidrogel.
O procedimento não foi realizado em estabelecimento de saúde, segundo nota da Secretaria da Saúde de São Vicente à reportagem. A pasta informou que não tem dados sobre o local onde foi feito o procedimento, tendo conhecimento apenas da condição clínica apresentada no momento da chegada da paciente ao hospital.
Ela já havia iniciado tratamento com antibiótico em outra unidade e apresentava dor intensa, inchaço e vermelhidão no local da aplicação, segundo a pasta. Encaminhada ao Hospital do Vicentino, passou por procedimento cirúrgico para remover tecidos danificados, mas não resistiu. A causa definitiva será confirmada pelo IML.
Wanessa dos Santos Batista, 23, amiga de Jamili, disse que ela realizou o procedimento estético fora de uma clínica. "Ela fez o procedimento na casa de um amigo, melhor amigo dela, mas não foi ele que aplicou. Ele indicou uma mulher que realizou o procedimento, que também era amiga dele. Depois da morte, os dois sumiram", disse Wanessa. Ela conta que só soube do ocorrido um dia depois.
Vera Menezes, tia de Jamili, relata que a aplicação foi na região dos glúteos em 15 de agosto, e o quadro se agravou no decorrer dos dias. "A coisa foi se complicando de tal maneira até que ela procurou o Hospital Vicentino em São Vicente, onde permaneceu na UTI em estado gravíssimo devido às infecções causadas pelo hidrogel aplicado sem o mínimo de higiene."
Segundo Vera, a família não sabia que ela faria a aplicação. "Jamili tinha vários sonhos, ela tinha apenas 35 anos, filha única. Estamos destruídos", diz Vera. A tia também confirma que a aplicação ocorreu na casa de um amigo.
A família vai registrar boletim de ocorrência. O UOL procurou a Secretaria da Segurança Pública para esclarecimento das condições da aplicação e atualizações sobre a investigação do caso, mas até o momento da publicação não obteve resposta. O corpo de Jamili foi sepultado anteontem.
'MÃE DE PET' E TRABALHADORA
Segundo Wanessa, Jamili mantinha uma rotina intensa de trabalho para sustentar seus projetos. "Ela trabalhava de manhã em uma clínica oftalmológica, à tarde ia para a academia, depois abria o bar que tinha. Nos finais de semana, ainda fazia bicos em outro serviço. Sempre correu atrás." Amigos descrevem Jamili como batalhadora e apaixonada pelas duas cachorrinhas que considerava como filhas.
Conheço a Jamili há uns dez anos, e ela sempre foi muito guerreira. Nós já trabalhamos juntas e até moramos na mesma casa por um tempo. A nossa amizade era inexplicável, como se fosse uma irmã. Só vou sossegar quando tiver justiça por ela, porque não merecia nada disso.Wanessa dos Santos Batista
ALERTA
O uso de hidrogel é apontado por médicos como um dos maiores riscos em procedimentos estéticos clandestinos. "O hidrogel é um gel à base de acrilamida, usado para dar volume a tecidos moles. É barato, o que leva ao abuso", diz Daniel Regazzini, cirurgião plástico e diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
Quando aplicado em grandes volumes, pode causar necrose, endurecimento e, se feito sem condições adequadas, pode gerar infecções graves. Qualquer sinal de vermelhidão ou calor deve ser tratado imediatamente para evitar complicações que podem evoluir para uma sepse e morte.Daniel Regazzini, cirurgião plástico
A Secretaria de Saúde de São Vicente reforçou que procedimentos estéticos devem ser realizados apenas por profissionais habilitados e em locais adequados, com respaldo técnico e sanitário.
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