Mais adultos estão optando por morar com os pais
Pesquisa revela que o número de brasileiros entre 25 e 34 anos que decidiram continuar a morar com a família cresceu em 137%
Antigamente, após os 18 anos, era hora de arrumar as malas e sair de casa. Isso está mudando. Cresceu em 137% o número de brasileiros que decidiram continuar a morar com os pais, na faixa entre 25 e 34 anos, segundo uma pesquisa.
Os dados são da empresa de consultoria e análise de dados Kantar Ibope Media e fazem referência ao período de 2012 a 2022.
Um dos motivos para o aumento é o medo dos jovens de crescer e assumir responsabilidades, destaca o psicólogo Alexandre Brito.
A origem disso, explica, é que “o mundo está exigente”, favorecendo uma cultura de produtividade excessiva, falta de descanso e performance. Um exemplo é a exposição nas redes sociais.
“Hoje estamos prolongando a adolescência. O que eu quero dizer? Observamos pessoas de 20 a 30 anos que estão tendo crises de desenvolvimento como se fossem adolescentes de 14 anos. É uma espécie de infantilização da vida. Isso assusta e gera o medo de crescer”, destaca.
Modas como bebê reborn, volta da chupeta e dos cadernos de desenho são exemplos desse fenômeno, acrescenta.
Além disso, Alexandre Brito explica que há muitas possibilidades de carreira e isso pode ser assustador para quem está crescendo.
“Antigamente, tínhamos um caminho a ser feito. Estudar, trabalhar e aposentar. Isso mudou. Hoje não precisamos nem ter ensino fundamental para conquistar sucesso. É possível empreender, por exemplo. Há mais opções. O problema é que a liberdade assusta”, ressalta.
Para a psicóloga Renata Nascimento, a mudança está relacionada a fatores sociais, econômicos e emocionais. No passado, explica, existia uma pressão social muito maior para que o filho saísse de casa.
“Sair de casa era como um rito de passagem para a vida adulta. Hoje em dia é diferente, não é necessário que uma pessoa more fora da casa dos pais para validar sua maturidade financeira ou emocional”.
Outro fator é o aumento no custo de vida e no tempo de estudo. “Morar com os pais pode ser uma boa estratégia para se preparar melhor para uma independência financeira”, observa.
Ela não acredita que apenas morar por um tempo prolongado na casa dos pais tenha efeitos psicológicos e emocionais. “Se torna um problema se o jovem não assumir a gerência da própria vida, pois não haverá crescimento”.
Sem solidão

A funcionária pública Victoria Helena Alves, 28, mora com a mãe, Sonia Maria Alves, 66. Ela conta que voltou para casa após o fim de um relacionamento, em 2022, e não tem intenção de se mudar. Segundo Victoria, a moradia só tem vantagens, como cuidar da mãe aposentada, que já superou um câncer, e evitar a solidão. “Ela só tem essa filha e eu só tenho essa mãe. Vivemos muito bem juntas”.
“Nos ajudamos e nos apoiamos”

Com 23 anos, a estudante do 8º período de Psicologia Lívia Fianco planeja se mudar da casa da mãe, Lucrecia Fianco, 57, antes dos 25.
“Assim que eu estiver mais estabelecida financeiramente. O plano é me formar, juntar dinheiro por um ano e me mudar”, contou.
Ela explica que com estágio obrigatório da faculdade é difícil encontrar um emprego que encaixe no horário disponível. “Morar com ela tem vantagens e desvantagens. Mas nos ajudamos e apoiamos”.
Fique por dentro
É preciso estabelecer limites
Alguns motivos
Dependência emocional e financeira dos pais.
Estratégia para se preparar melhor para uma independência financeira, uma vez que morando junto com os pais o jovem pode dividir as despesas e em paralelo ir construindo de forma gradativa a sua saída da deles.
Cuidado com os pais já mais idosos ou com problemas de saúde.
Falta de amadurecimento para assumir maiores responsabilidades morando sozinho ou construindo uma família.
Ansiedade e depressão
Índices altos têm relação com o aumento dos jovens adultos que moram com os pais. Segundo o psicólogo Alexandre Brito, são efeitos. “Tanto do medo de crescer quanto de assumir responsabilidade”.
Destaque para o como
Morar junto por mais tempo pode fortalecer laços ou gerar dependência, destaca a psicóloga Renata Nascimento. Ela explica que se trata da forma como o jovem vai estabelece a dinâmica. “É preciso estabelecer limites e assumir responsabilidade”.
Análise: “Orçamento já está comprometido”
“É um fenômeno multifacetado que combina vulnerabilidade do mercado de trabalho com elevação do custo de vida.
Um dos fatores é o mercado de trabalho instável, que vai limitando a capacidade dos jovens de arcarem com os custos de moradia independente. Muitos enfrentam a dificuldade de conseguir um emprego formal, tendo que lidar com salários baixos e vínculos precários.
Outro fator é a elevação do custo do metro quadrado e do preço dos imóveis, tanto para compra quanto para aluguel. Isso pressiona a renda dos jovens e torna inviável sair de casa.
Preços com alimentação, energia e educação também subiram de forma assustadora nos últimos anos e desestimulam a independência habitacional.
Segundo pesquisas, de 7 a cada 10 famílias, estão endividadas, então, mesmo que o jovem consiga uma boa fonte de renda, o orçamento já está comprometido.
Para a economia do Estado, esse fenômeno traz várias consequências. Afeta desde o número de nascimento de filhos até a capacidade de poupança, principalmente nas famílias de baixa renda”.
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