Jovens que ameaçaram Felca e invadiram sistemas vão cumprir preventiva no Cotel
Delegados apontam que Cayo Lucas e Paulo Vinicios tinham acesso a dados sigilosos, vendiam credenciais e até inseriam mandados de prisão falsos
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Os dois jovens presos em Olinda nesta terça-feira (25) por suposta ameaça ao influenciador Felca e invasão de sistemas de segurança vão cumprir prisão preventiva no Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), no Recife. A decisão foi tomada nesta quarta-feira (26), após audiência de custódia no Fórum de Olinda, presidida pelo juiz José de Andrade Saraiva Filho.
Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, 22 anos, e Paulo Vinícios Oliveira Barbosa, 21, foram levados para o Cotel após passar por audiência de custódia no Fórum de Olinda, na Central Especializada das Garantias da Comarca.
Os dois estão sendo acusados pela Polícia Civil por invadir sistemas de segurança, como o da própria Secretaria de Defesa Social e de sistemas de justiça do Brasil. Ou seja, foram presos por invasão de dispositivos informáticos de alta segurança. O caso parece um novelo de lã. Quanto mais puxa a ponta, mais coisas são reveladas. Com certeza tem mais gente envolvida nesse escândalo.
Delegado aponta alto grau de periculosidade dos acusados
Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco, na ocasião também foi homologado o cumprimento de mandado de prisão expedido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e realizado pelas Polícias Civis e de São Paulo e de Pernambuco contra o suspeito Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, em função das ameaças contra o influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como "Felca".
Paulo Vinicios saiu da audiência em silêncio, porém Cayo negou ter qualquer envolvimento com ameaça de morte a Felca. “Eu concordo com ele (com as denúncias de exploração sexual de crianças)”, chegou a dizer o suspeito de invadir sistemas de segurança de todo o Brasil. Ainda acrescentou ser ilegal estar sendo preso por ameaças a Felca.
Na última terça-feira, o delegado Eronides Meneses explicou que os dois homens presos em Olinda atuavam de forma organizada e com alto grau de periculosidade.
Segundo ele, no momento da captura foi encontrado um computador aberto e logado no sistema da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, com credenciais ativas de um policial.
“Eles admitiram que compravam e vendiam senhas em grupos no Telegram, chegando a pagar hackers para invadir sistemas públicos. Essas credenciais eram revendidas por valores que variavam entre R$ 20 e R$ 30”, afirmou. Ele já teria faturado mais de R$ 500 mil com serviços ilícitos, valor não confirmado oficialmente pela polícia.
Manipulação do Sistema Judiciário em pauta

“Um deles confessou que conseguia inserir mandados de prisão falsos contra qualquer pessoa que fosse considerada inimiga do grupo. Havia elementos que comprovavam a invasão e o uso criminoso desses acessos”, disse.
O delegado ressaltou que os criminosos usavam os dados obtidos ilegalmente para diferentes finalidades, incluindo a abertura de contas bancárias destinadas à lavagem de dinheiro e o recebimento de pagamentos ilícitos. O delegado sempre usou o pronome “eles”, não deixando Paulo Vinicios de fora.
Além disso, os acessos também eram utilizados como instrumento de intimidação. “Eles proferiram ameaças de morte contra o influenciador e toda a família dele, movidos por ódio após as ações dele contra redes que utilizavam perfis para práticas criminosas”, explicou.
Para Meneses, o caso mostra que não se trata apenas de ameaças virtuais. “Eles tinham capacidade real de causar danos, tanto pelo acesso a informações estratégicas quanto pelo uso dessas ferramentas para perseguição. Por isso, representamos pela conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva”, concluiu.
O TJPE foi indagado se os dois seriam levados para São Paulo, mas a assessoria de imprensa confirmou que eles ficarão no Cotel.
Polícia de SP detalha rastreamento digital até chegar aos suspeitos
O delegado de São Paulo Guilherme Caselli descreveu o caminho da investigação: quebras de sigilo após ameaças por e-mail, WhatsApp e redes sociais, rastreamento das conexões e cumprimento de mandados de busca e de prisão com apoio da polícia pernambucana.
“A gente procedeu a uma série de quebras de sigilo, a gente conseguiu rastrear a conexão dessas pessoas (...) e de fato a polícia daqui de Pernambuco foi excepcional no apoio conosco”.
Caselli afirma que Caio “tem um conhecimento de informática acentuado”, mas o classifica como “um grande oportunista” que colhia informações sensíveis e as vendia.
Segundo o delegado, há indícios de levantamento em bases de dados estatais e até acesso indevido a sistemas como o Banco Nacional de Mandados de Prisão (CNJ), além de credenciais obtidas em grupos de Telegram. “temos informações e ele confessou que ele também acessava indevidamente o Banco Nacional de Mandados de Prisões (...) que são crimes gravíssimos, seríssimos”.
Relembre o caso
A polêmica começou com um vídeo forte e de grande repercussão: em 6 de agosto de 2025, o youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, publicou uma gravação de quase 50 minutos denunciando a chamada “adultização infantil” nas redes sociais — prática que envolve a utilização de crianças em conteúdos de conotação sugestiva, em situações que se aproximam da exploração sexual.
A publicação, que já acumula dezenas de milhões de visualizações, gerou reação imediata. O impacto foi tamanho que resultou em uma enxurrada de denúncias, mobilizou parlamentares que passaram a propor a chamada “Lei Felca”, levou ao bloqueio de perfis em plataformas digitais e desencadeou discussões em todo o país.
Pelos crimes de invasão de dispositivos informáticos, os dois podem cumprir apenas 5 anos de prisão, caso as denúncias não sejam agravadas.
Mesmo sendo ameaça de morte, a tipificação continua sendo o artigo 147 do Código Penal. A lei descreve: “Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave. O que muda na prática é a interpretação judicial: quando se trata de ameaça de morte reiterada, feita em contexto de ódio organizado, em rede social e contra familiares, como no caso, o Ministério Público pode pedir medidas mais severas
Edição do JT1 desta quarta-feira (26) foi praticamente dedicada ao caso Felca, com reportagem de Luciana Queiroz (Veja abaixo)
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