Recife mais um ataque de pitbull: até quando ignorar os riscos da raça?
Idoso é atacado na Várzea pelo cão que alimentava e caso reacende debate sobre criação da raça
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Matéria também contou com informações da repórter Simone Santos

Um idoso de aproximadamente 70 anos foi atacado por um pitbull em um depósito de recicláveis localizado na Avenida Barão de Bonito, região da Brasilit, na divisa com a Várzea, na Zona Norte do Recife. A vítima, que trabalhava no local e era responsável por cuidar do animal, sofreu ferimentos graves nos braços ao tentar se defender e está internada no Hospital Getúlio Vargas. O ataque deixou um rastro de sangue no chão, provando a violência do animal.
O caso aconteceu nesta última quarta-feira (21), porém foi enviado à TV Tribuna PE nesta quinta-feira (21), por meio do JT1, apresentado por Artur Tigre. Os nome dos envolvidos não foram revelados. Nas apurações, ninguém falou em lesão corporal grave, um crime previsto no código penal.
Cachorro era tido como dócil
De acordo com o dono do depósito e também proprietário do cão, o idoso costumava alimentar, passear e brincar com o animal, sem nunca ter registrado episódios de agressividade. O ataque, portanto, foi descrito como “inesperado” pelo patrão, que preferiu não se identificar publicamente. É o caso mais comum nos ataques. O dócil vira cocada de sal.
Debate sobre responsabilidade
O caso reacende uma discussão antiga: até que ponto a criação é suficiente para controlar os riscos de ataques de raças como o pitbull? Especialistas em comportamento animal já alertaram que, mesmo bem cuidados, cães de grande porte podem apresentar reações imprevisíveis.
Em Pernambuco, a lei exige o uso de focinheira e guia curta em locais públicos, mas é comum ver pitbulls circulando sem as restrições. Isso praticamente não acontece e não há punição. Não há leis novas em debate, segundo o Tribuna Online PE confirmou no site da Assembleia Legislativa.
Parece que as lideranças políticas estão blindadas desse drama entre a doçura e a violência do animal, quase sempre criado em condições não apropriadas e sem exercícios, especialmente em comunidades mais vulneráveis.
O pitbull (mais precisamente o American Pit Bull Terrier) não é uma raça “misturada ao acaso”, mas fruto de cruzamentos seletivos de cães do tipo bulldog e terrier, feitos principalmente no século XIX, na Inglaterra e depois nos Estados Unidos.
Repetição de episódios
Casos semelhantes têm se tornado frequentes. Em 2024, um idoso morreu após ser mordido no pescoço por um pitbull que também era considerado dócil pela família.
Crianças já foram atacadas em praças e ruas do Recife, em alguns casos com mutilações irreversíveis. Apesar da gravidade, o controle sobre a circulação desses animais continua frouxo. É como se não existisse lei, ou como se lei fosse morta. Os municípios se omitem em criar suas próprias regras e a lei da Assembleia não causa medo em ninguém.
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Criação sob questionamento
O proprietário do depósito afirma que está prestando assistência ao funcionário ferido, mas negou que vá sacrificar o cachorro. Ainda assim, a ocorrência reforça a polêmica em torno da permanência da raça em ambientes urbanos. Em estados como Minas Gerais e Santa Catarina, há restrições para criação e reprodução de pitbulls e raças semelhantes. Já em outros países desenvolvidos, como Inglaterra e França, a proibição é total.
O episódio no Recife expõe não apenas a vulnerabilidade de quem convive com esses animais, mas também a ausência de fiscalização efetiva sobre leis que deveriam prevenir riscos à população.
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