Aposentada perde R$ 40 mil no Tigrinho e família busca tratamento
Especialistas revelam preocupação com o aumento no número de casos de viciados em jogos on-line, principalmente idosos
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Com a promessa de um caminho rápido para enriquecer, o “Jogo do Tigrinho” tem deixado um rastro de dívidas, frustrações e até vício.
A família de uma aposentada buscou tratamento para ela, cujas perdas já ultrapassaram R$ 40 mil.

O médico psiquiatra Vicente Ramatis revelou a preocupação com o crescimento de casos. “Tem aparecido casos, principalmente, de famílias que estão buscando ajuda para tratamento de um familiar, muitas vezes idosos”.
Ele contou que um dos casos foi da família de uma aposentada que gastou o que tinha juntado ao longo da vida em uma poupança e ainda fez novas dívidas.
“Ela gastou o que tinha e foi pegando empréstimos, na esperança de jogar para recuperar o que perdeu”.
Segundo o médico, um filho da aposentada chegou ao consultório pedindo para internar a mãe, pois estava desesperado.
“Eles já tentavam lidar com aquilo há um tempo. O vício chega ao ponto de afetar toda a família. Chega a interferir no relacionamento dos filhos, que precisam pagar dívida da mãe”.
Ramatis apontou que, para casos de vício nesse tipo de jogo on-line, o tratamento geralmente conta com uso de medicamento e terapia cognitiva-comportamental com psicólogo.
A médica psiquiatra Janine Moscon explicou que, no jogo patológico, o mecanismo no cérebro é como o das drogas.
“A pessoa joga, tem prazer quando ganha e vai repetindo isso, buscando ter novamente esse prazer. Quando perde, a frustração faz com que tente recuperar o dinheiro, e isso vira um ciclo vicioso”.
Ela relatou que as pessoas chegam ao ponto de jogar o que não têm. “Gastam dinheiro das despesas da rotina, pegam dinheiro emprestado, vendem bens e acabam endividados. Perdem na parte financeira, na parte familiar e o sofrimento atinge todos”.
O psiquiatra João Paulo Cirqueira ressaltou que também tem recebido pacientes com vício nesse tipo de jogo.
Ele destacou, ainda, que a ansiedade e a falta de controle emocional podem se tornar gatilhos para o comportamento compulsivo de apostar.
Ele ainda fez um alerta sobre os riscos do vício em jogos de azar, especialmente os on-line. “Com o aumento das plataformas de apostas na internet, muitas pessoas são atraídas pela falsa promessa de ganhos rápidos, mas estão colocando em risco sua saúde emocional, financeira e até suas vidas”.
Ele salientou a importância de buscar tratamento o quanto antes ao perceber sinais. “O tratamento precoce, que pode envolver medicação, psicoterapia e apoio familiar, é a chave para a recuperação”.
Outros Casos
Casamento em risco
Um dos casos atendidos pela médica psiquiatra Janine Moscon é o de um jovem de 26 anos. “Ele começou a jogar querendo ganhar dinheiro mais rápido. Já era viciado em outras drogas, o que aumentou a chance de ter outro comportamento dependente, como o jogo”.
Ela revelou que atualmente ele passa por tratamento, mas que já teve um sério comprometimento financeiro. “Segundo ele, deve cerca de R$ 40 mil a agiotas. O casamento também está em risco, já que a mulher diz não aguentar mais”.
Pesadelo de dívidas com jogos
O psiquiatra João Paulo Cirqueira relatou o caso de uma mulher do Estado em que o vício em jogos de apostas se transformou em um pesadelo de dívidas, sofrimento emocional e perda gradual de controle sobre a própria vida.
Ele contou que ela começou a se envolver com o Jogo do Tigrinho em 2024, inicialmente com apostas pequenas, entre R$ 30 e R$ 40.
No entanto, com o tempo, a tentação de “dobrar o valor” a levou a apostas de até R$ 500.
João Paulo Cirqueira revelou que o que começou como passatempo se transformou em uma bola de neve financeira, com prejuízo de R$ 14 mil, incluindo o endividamento com agiotas.
Segundo Cirqueira, ela acreditava que ia dobrar o valor e pagar o que estava devendo. “O pior é que ela não está sozinha, já que muitos se veem presos em um ciclo de promessas vazias, onde o jogo on-line é visto como uma solução para as dívidas, quando, na verdade, ele só agrava a situação”.
Saiba Mais
Vício em jogos de apostas on-line
O vício em jogos de azar on-line é reconhecido pela psiquiatria como um transtorno semelhante à dependência química ou outros vícios.
O acesso fácil via celular torna o jogo disponível 24 horas, aumentando o risco de compulsão.
Sinais de alerta
A pessoa começa a gastar cada vez mais tempo e dinheiro jogando.
Negligencia responsabilidades no trabalho, nos estudos ou em casa.
Esconde das pessoas próximas o quanto gasta no jogo.
O jogador apresenta alterações de humor: irritação, ansiedade ou euforia ligadas diretamente às apostas.
A pessoa continua jogando mesmo após prejuízos financeiros ou perdas pessoais.
Após perder dinheiro ou algo de valor com apostas, sente necessidade de continuar no jogo para “se vingar” ou recuperar o que perdeu.
Joga quando sente algum tipo de angústia.
Quando buscar ajuda
Quando o jogo deixa de ser lazer e passa a ocupar a rotina de forma central.
Ao notar impactos na vida financeira, conjugal ou social.
Se a pessoa tenta parar, mas não consegue sozinha.
Quando familiares percebem comportamentos de mentira, isolamento ou endividamento.
Tratamento
Psicoterapia: geralmente a terapia cognitivo-comportamental é usada para trabalhar gatilhos, reduzir impulsividade e fortalecer estratégias de autocontrole.
Medicamentos: em alguns casos, podem ser indicados para lidar com ansiedade e compulsividade.
Grupos de apoio: como Jogadores Anônimos, que oferecem acolhimento e partilha de experiências.
Rede de apoio familiar: essencial para dar suporte, sem julgamento, durante a recuperação.
Quanto mais cedo o vício é identificado, maiores as chances de recuperação e de evitar danos irreversíveis na vida pessoal e financeira.
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