Preço da carne de hambúrguer nos EUA sobe mais de 50% em apenas quatro meses
Cortes considerados de maior qualidade também ficaram mais caros, subindo de US$ 339 para US$ 404 no mesmo intervalo
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O consumidor americano começou a sentir no próprio bolso o impacto do tarifaço imposto pelo presidente, Donald Trump. E o reflexo já mexe com o item nobre da alimentação nos Estados Unidos: o hambúrguer.
Os dados oficiais do Departamento de Agricultura americano (USDA) apontam que, entre o dia 2 de abril, quando Trump alardeou o seu tarifaço de 10% contra o mundo, e a última segunda-feira (18), o pacote da carne mais usada para misturar em hambúrgueres e processados viu seu preço saltar de US$ 119 para US$ 180, uma alta superior a 50% em apenas quatro meses.
O preço se refere a lotes de 45 quilos cada, padrão usado nos EUA para carne negociada no atacado.
No mesmo período de quatro meses, conforme os dados do USDA, a carne moída comum passou de US$ 260 para US$ 371 a cada lote de 45 quilos, um aumento de 43%.
Os cortes considerados de maior qualidade também ficaram mais caros, subindo de US$ 339 para US$ 404 no mesmo intervalo. As carnes classificadas como "Select", de qualidade intermediária, saltaram de US$ 318 para US$ 377.
Esses valores não são os preços da gôndola do supermercado, mas sim aquele que grandes compradores—como redes de supermercados, processadores, distribuidores e cadeias de restaurantes— pagam diretamente aos frigoríficos.
Para se ter uma ideia do que esse aumento setorial significa, a inflação média acumulada nos EUA até julho, considerando os últimos 12 meses, está em 2,7%.
Esse movimento já era esperado por comerciantes e analistas americanos, pelo fato de os fabricantes de alimentos americanos serem cada vez mais dependentes de importações em meio a uma queda na produção doméstica.
Desde que os EUA passaram a impor uma tarifa de 50% sobre a carne brasileira, em 1º de agosto, o setor intensificou as negociações com representantes americanos para tentar sensibilizar a gestão Trump, ao mesmo tempo em que intensificou a busca por novos mercados.
Os EUA eram o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, só atrás da China, mas neste mês foram passados pelo México, país que nem sequer figurava na lista dos dez maiores importadores da carne brasileira até o ano passado.
Em abril, quando o presidente Donald Trump impôs uma taxa global de 10% sobre produtos que entram nos EUA, o país tinha chegado ao recorde de importação da carne brasileira. Foram gastos US$ 229 milhões naquele mês, para comprar 44,2 mil toneladas da proteína.
Em junho, esse volume despencou para 13,5 mil toneladas e US$ 75,4 milhões, refletindo não apenas a tarifa já em vigor, mas também a ameaça de que o índice poderia subir para 50%. Em julho, o problema se acentuou. Os EUA gastaram pouco mais de US$ 70 milhões, para adquirir 12 mil toneladas da carne brasileira, uma queda abrupta de 70% em relação a abril. Enquanto isso, o México gastou R$ 88 milhões com a carne brasileira em julho.
O Brasil é hoje o maior exportador de carne bovina para os EUA, seguido por Austrália, Nova Zelândia e Uruguai. Os resultados globais da exportação, porém, apontam que o Brasil, que é o maior vendedor da proteína em todo o planeta, tem alterado o destino dos negócios.
Na semana passada, a busca pela abertura de novos mercados para exportação de carne bovina levou uma comitiva formada pelos principais frigoríficos do Brasil até o Vietnã, mercado que acaba de abrir suas portas para a proteína brasileira.
Conforme informações obtidas pela Folha, representantes de 17 frigoríficos e empresas do setor participaram das discussões diretas com mais de uma dezena de importadores.
Atualmente, o governo do Vietnã avalia a solicitação de habilitação de 86 frigoríficos para exportação de carne bovina. Duas plantas da JBS foram aprovadas até agora, as unidades de Mozarlândia e Goiânia, ambas localizadas em Goiás.
Em junho, o governo brasileiro anunciou o ingresso formal do Vietnã como país parceiro do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o qual tem sido tratado como inimigo pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Para além dos efeitos do tarifaço, especialistas também avaliam que a questão climática tem mexido com o preço da carne nos EUA. Após anos de seca, as pastagens daquele não têm produzido grama suficiente para alimentar o gado. Então, os pecuaristas têm enviado seus animais para o abatedouro mais cedo, reduzindo os rebanhos mesmo enquanto os americanos comem mais carne bovina. Isso está elevando os preços a níveis recordes.
Nesta terça-feira (19), o governo Trump aceitou o pedido de consultas feito pelo Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio), mas afirmou que as queixas apresentadas pelo Itamaraty são temas de segurança nacional e, portanto, não estão sujeitas à revisão da entidade.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acionou os Estados Unidos na OMC, em reação às tarifas estabelecidas por Donald Trump, no dia 6 de agosto. A ação brasileira argumentava que tanto o tarifaço de 10% imposto pelo republicano em abril como a sobretaxa de 40% determinada em julho violavam regras da organização.
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