Vitiligo: dermatologista explica doença que causa perda de cor na pele
Gatilhos de estresse ou doenças autoimunes podem ser alguns dos fatores responsáveis por desencadear o quadro de vitiligo
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Uma doença pouco falada, mais que atinge mais de um milhão de pessoas no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o vitiligo ganhou destaque na mídia esta semana após o ator Renato Góes revelar ter a condição desde a adolescência, aos 12 anos.
Cerca de 50% dos casos de vitiligo se iniciam antes dos 20 anos de vida, e 25% antes dos 10 anos, explica a dermatologista Juliana Guedes, especializada em oncologia dermatológica pelo Inca e hansenologista.
A médica diz que a doença é crônica, acomete principalmente a pele, sendo caracterizada pela perda gradual da sua pigmentação e gerando manchas brancas em determinadas áreas.
“Embora várias teorias sejam postuladas para sua patogênese, incluindo fatores genéticos e emocionais, ela é uma doença considerada autoimune, em que células do sistema imunológico destroem os melanócitos, células responsáveis pela produção da melanina (pigmento que confere a coloração da pele)”.
A Tribuna — Quais são os primeiros sinais do vitiligo?
Juliana Guedes — É comum que os sintomas apareçam ainda na juventude, surgindo com manchas mais claras que a pele (hipocrômicas) ou brancas (acrômicas), não havendo sintomas associados, como coceira ou dor no local. Existem duas formas principais da doença. Na sua forma segmentar, as manchas brancas podem ser localizadas e afetar apenas uma parte do corpo.
Já na sua forma não segmentar, as lesões tendem a ser mais generalizadas, afetando simetricamente ambos os lados corporais, como se fossem lesões em espelho. As lesões de vitiligo também podem acometer os cabelos e pelos corporais, ocorrendo sua despigmentação.
Há fatores que podem desencadear ou agravar o vitiligo, como estresse?
O vitiligo é uma doença complexa para qual ainda temos muitas respostas incertas, sendo um desafio na dermatologia. Acredita-se que gatilhos de estresse físico ou emocionais podem ser responsáveis por desencadear o quadro ou até mesmo agravá-lo, com cerca de 7,2% dos pacientes com lesões relatando que a alteração foi desencadeada após algum estresse emocional.
Dentre os fatores orgânicos conhecidos, sabe-se que outras doenças com características autoimunes podem estar associadas ao vitiligo, como a tireoidite autoimune (tireoidite de Hashimoto), o diabetes tipo 1 e a alopecia areata, reforçando a teoria de perda de controle imunológico relacionados à doença.
Pacientes com vitiligo podem ser suscetíveis a doenças mais graves, como câncer de pele?
A melanina é a grande responsável pelo mecanismo de defesa contra a radiação solar, protegendo o DNA das células contra os radicais livres. Nos paciente que apresentam vitiligo, a perda da melanina aumenta a suscetibilidade aos efeitos nocivos do sol, sendo um fator que predispõe ao surgimento de neoplasias malignas de pele e deve ser motivo de visitas frequentes ao dermatologista.
É uma doença possível de controlar ou a tendência é que haja a perda total da coloração da pele?
Embora seja uma doença que não tem cura até o momento, é possível ser controlada e, em muitos casos, haver recuperação completa da pigmentação da área afetada com os tratamentos.
Alguns pacientes podem, de fato, evoluir progressivamente para quadros mais intensos e perda generalizada da coloração da pele, principalmente quando não é instituído o tratamento adequado.
A exposição ao sol ajuda ou prejudica quem tem vitiligo?
A exposição solar controlada e sob orientação pode ser benéfica no tratamento, ajudando na repigmentação através da estimulação da produção da melanina, mas exposições prolongadas podem ser prejudiciais.
É essencial fazer o uso de filtros solares com FPS acima de 50 mesmo em dias nublados, óculos de sol, chapéus e roupas de proteção, além de evitar exposição nos horários de maior incidência de raios UV (das 10 às 16h).
Pacientes com vitiligo tendem a sofrer emocionalmente com o impacto da doença?
Estudos mostram que mais de 75% dos pacientes apresentam autoimagem depreciativa em relação à doença, gerando um grande sofrimento psíquico, uma vez que a doença é altamente estigmatizante. Embora não ameace a vida do paciente, não deve ser negligenciada, pois pode ter repercussões desastrosas para o seu bem-estar psíquico e emocional.
Mancha na coxa
Envergonhado

Uma pequena mancha na coxa esquerda foi o sinal que o ator Renato Góes, de 38 anos, percebeu quando ainda tinha 12 anos. A marca, que crescia em sua pele, foi diagnosticada como vitiligo, relatou o ator em entrevista à GQ.
“Foi bem no momento em que voltei a desfilar. Eu ficava envergonhado. Na escola, ia só de calça. Na praia, de bermuda”, contou.
“Bruscamente, a mancha diminuiu e hoje é muito pequena”, afirmou o ator.
Fique por dentro
O vitiligo não é uma doença contagiosa e não é transmitido entre as pessoas.
Embora existam fatores genéticos relacionados ao vitiligo, não é considerado uma doença hereditária, de forma que sua presença em um membro da família não significa que afetará outros familiares.
A doença pode surgir em qualquer faixa etária. Há alguns relatos de casos com início nos primeiros seis meses de idade, evidenciando a presença de múltiplos fatores relacionados à sua fisiopatogenia que ainda precisam ser elucidados.
O vitiligo ainda não tem cura, mas tem controle. Após avaliação dermatológica, há opções como cremes, fototerapia, medicamentos orais e biológicos. O tratamento deve ser individualizado e feito por profissional qualificado.
Hipocrômicas — Redução ou perda da pigmentação natural da pele.
Melanócitos — Células especializadas que produzem melanina.
Os Números
1 milhão de brasileiros têm vitiligo
50% dos casos se iniciam antes dos 20 anos de vida
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