Mau comportamento é motivo para metade das demissões
Resistência a novas tecnologias, dificuldade para se comunicar e desrespeito à hierarquia já superam falta de capacidade técnica
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Em um mercado cada vez mais exigente, onde a tecnologia avança, um aspecto humano tem ganhado destaque: questões comportamentais já são responsáveis por metade das demissões.
É o que aponta um levantamento do 6º Observatório de Carreiras e Mercado, realizado pelo PUCPR Carreiras — uma realidade que, segundo especialistas, também se reflete no Estado —, com base nas demissões ocorridas em 2024.
Elcio Paulo Teixeira, CEO da Heach Recursos Humanos, destaca que, assim como em outras regiões do País, as empresas no Estado estão cada vez mais atentas ao comportamento dos seus funcionários.
Segundo ele, o ambiente de trabalho tem se tornado mais exigente, com foco na adaptação à cultura organizacional e na colaboração em equipe. Por isso, questões como resistência a mudanças e conflitos internos têm se tornado motivos frequentes de desligamentos.
Gisélia Freitas, diretora de Pessoas, Cultura e Diversidade do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (Ibef-ES), revela que as empresas têm enfrentado desafios relacionados ao clima organizacional, convivência entre equipes e rotatividade — fatores diretamente ligados ao comportamento.
“O mercado valoriza tanto habilidades técnicas quanto inteligência emocional; quando esta falta, o impacto é imediato. Insubordinação, desrespeito, conflitos e postura negativa tendem a gerar mais prejuízo do que falhas técnicas, tornando-se motivo central para desligamentos”.
Para ela, falta de inteligência emocional e empatia, comunicação agressiva ou passiva que gera ruídos e conflitos, insubordinação e desrespeito às regras ou colegas, além de atitudes que comprometem a cooperação — como individualismo excessivo, resistência à mudança e disseminação de fofocas — estão entre os principais comportamentos que mais costumam prejudicar o ambiente de trabalho a ponto de causarem demissões.

Martha Zouain, psicóloga e diretora da Psico Store Gente e Gestão, salienta que embora muitas empresas tolerem falhas pontuais ou adaptem processos para reter talentos, a tolerância se esgota quando a conduta passa a ameaçar a saúde mental da equipe ou comprometer resultados de forma recorrente.
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A pesquisa
O levantamento feito para o 6º Observatório de Carreiras e Mercado realizado pelo PUCPR Carreiras, setor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), revelou que 50% das demissões em 2024 foram causadas por questões comportamentais. Em seguida aparecem a automação das atividades (25%), a redução de custos e os cortes de despesas (25%).
O estudo mostrou que no ano passado as habilidades mais valorizadas foram a comunicação oral (11,46%), o planejamento (10,73%), a solução de problemas (10,18%), gestão de conflitos (7,51%) e a comunicação escrita (7,42%).
Tire as dúvidas
1 Por que questões comportamentais têm sido a principal causa de demissões?
No Estado, assim como em outras partes do País, as empresas estão passando por uma transformação no modelo de gestão, com maior foco na eficiência, produtividade e inovação.
Como parte dessa mudança, o CEO da Heach Recursos Humanos, Elcio Paulo Teixeira, destaca que a capacidade de um profissional se adaptar a ambientes de trabalho dinâmicos e colaborar bem em equipe tornou-se essencial.
“Em 2024, com a alta competitividade e a necessidade de otimizar processos, empresas capixabas identificam que comportamentos negativos ou desalinhados com os valores corporativos podem prejudicar muito mais a organização do que questões técnicas ou financeiras. Isso faz com que questões comportamentais ganhem destaque nas causas das demissões”.
2 Quais comportamentos costumam prejudicar mais o ambiente de trabalho a ponto de causarem demissões?
No Espírito Santo, como em outras regiões, comportamentos como falta de adaptabilidade, resistência a novas tecnologias e métodos, e dificuldade em se comunicar de maneira eficaz têm sido frequentemente observados.
A falta de colaboração também é um problema recorrente, especialmente em empresas que exigem uma integração maior entre departamentos, como observou o CEO da Heach Recursos Humanos, Elcio Paulo Teixeira.
“Além disso, atitudes negativas ou desmotivadas, que afetam o moral da equipe, e o desrespeito às normas e à hierarquia são comportamentos que, ao serem recorrentes, geram um ambiente tóxico e afetam diretamente a produtividade, o que pode levar à demissão de colaboradores no Estado”.
3 Quando se torna insustentável?
Quando o comportamento se repete após orientações e advertências; passa a prejudicar o desempenho coletivo e o clima organizacional; gera impactos diretos na produtividade, na imagem da empresa ou em relações com clientes.
“Nesse ponto, o custo de manter o profissional supera o benefício, e a demissão é vista como medida necessária”, disse Gisélia Freitas, diretora de Pessoas, Cultura e Diversidade do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (Ibef-ES).
Análise

“O futuro exige mais do que currículo”
“Esse número de demissões por questões comportamentais representa um sinal claro de que o futuro do trabalho exige mais do que currículo. Para as empresas, é hora de ir além da gestão de desempenho e adotar a gestão intencional da cultura organizacional, investindo em líderes capazes de dar feedback de forma contínua e construtiva, promover diálogo e fortalecer a cultura de respeito.
Para os profissionais, a lição é direta: autoconhecimento, inteligência emocional e adaptabilidade são ativos tão valiosos quanto conhecimento técnico.
O desafio está em criar ambientes onde conflitos se resolvem com maturidade e a colaboração supera o individualismo.
Quando atitudes e resultados caminham juntos, reduz-se o custo das demissões, aumenta-se a retenção de talentos e fortalece-se a confiança mútua. O mercado está mudando e empresas e profissionais que não investirem em comportamento como diferencial ficarão para trás”.
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