Pais ainda usam palmadas para “corrigir” crianças
Pesquisa aponta que 29% utilizam esse recurso como forma de correção aos filhos, com idades entre 0 e 6 anos
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No mês dedicado à primeira infância – que vai do nascimento até os 6 anos de idade da criança – um dado chama a atenção: 29% ainda admitem usar palmadas ou beliscões para corrigir os filhos.
O número faz parte da pesquisa “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida”, realizada pelo Instituto Datafolha, a pedido da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
Segundo o levantamento, dos entrevistados, 43% das pessoas que cuidam das crianças de 0 a 6 anos apontaram o amor como valor prioritário na criação dos pequenos, e 33% citaram o carinho.
No entanto, o uso de palmadas e beliscões como forma de “educar” aumenta conforme a idade da criança.
Entre os cuidadores de bebês e crianças de até 3 anos, 24% disseram usar esse tipo de punição. Já entre os responsáveis por crianças de 4 a 6 anos, o número salta para 34%.
Colocar a criança de castigo (58%), gritar ou brigar (43%) e usar frases ameaçadoras, como “espera pra ver o que vai acontecer” (44%) ainda são estratégias comuns no dia a dia.
A pesquisa mostra, no entanto, que a maioria das pessoas que usa punições físicas ou gritos não acredita na eficácia dessas práticas. Apenas 17% dos que batem e 10% dos que gritam consideram que as ações funcionam.
Compreensão
Para a diretora de políticas públicas na Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Paula Perim, os dados revelam a falta de compreensão sobre o valor da primeira infância e os impactos das experiências vividas nessa fase.
Com relação ao fato de um terço dos responsáveis admitirem o uso de palmadas, ela destaca que isso revela o quanto ainda se normaliza a violência como forma de educação e de disciplina.
“Tem muita informação disponível, e as pessoas ainda tratam a palmada como esse 'bater de leve'. Não existe o bater de leve. Qualquer violência é grave e não pode acontecer”.
Paula Perim salienta que se entende isso ao falar de violência contra mulher, contra o idoso ou contra o animal. Mas, segundo ela, parece que, com criança, a situação é diferente.
“As pessoas acham que teriam uma prerrogativa de estar fazendo aquilo para o bem dela, mas as marcas ficam”.
Diálogo é aliado
Exemplo Positivo
“Muita conversa e olho no olho”

A educadora física Mariana Paolucci de Oliveira Piccin, 44, e o bombeiro militar Diego Bison Piccin, 40, sempre tiveram o diálogo como principal aliado na educação do filho Diogo, de 12 anos.
“Nunca acreditei que bater ou castigar resolveria um problema de disciplina. A dor física não leva ao entendimento do que foi feito de errado. Apenas traz medo, tristeza, insegurança e frustração. Sempre que precisei corrigir, foi conversando e olhando nos olhos”, disse Mariana.
Saiba Mais
Pesquisa
A pesquisa “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida” foi realizada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, em parceria com o Datafolha.
O levantamento foi feito entre os dias 8 e 10 de abril de 2025 com uma amostra nacional, por meio de entrevistas presenciais em pontos de fluxo populacional.
No total, 2.206 pessoas foram entrevistadas, sendo que 31% são responsáveis pelo cuidado de bebês e crianças de até 6 anos.
Resultados
Primeira infância
84% — da população brasileira não reconhece a primeira infância (entre 0 e 6 anos) como a fase mais fundamental do desenvolvimento humano
41% — dos entrevistados acreditam que o maior pico do desenvolvimento físico, emocional e de aprendizagem ocorre na idade adulta, a partir dos 18 anos.
25% — acreditam que é na adolescência, entre 12 e 17 anos.
Apenas 15% citou a primeira infância como a fase mais importante para o desenvolvimento.
Prioridades no cuidado
43% — Amor
33% — Carinho
Principais práticas para o desenvolvimento infantil
Respeito aos mais velhos aparece como o item mais importante — 96%
Frequentar creche e pré-escola — 81%
Deixar a criança livre para brincar — 63%
Estratégias disciplinares utilizadas pelos cuidadores
Conversar com a criança e explicar o erro — 96%
Acalmar e retirá-la da situação — 93%
Colocar criança de castigo — 58%
Gritar ou brigar como forma de disciplina — 43%
Uso de práticas violentas, como palmadas e beliscões — 29%
Por que a primeira infância é importante?
Segundo a pesquisa, apesar de muita gente desconhecer, a primeira infância é considerada uma “janela de oportunidades”, já que é a fase em que o ser humano se desenvolve mais, e mais rápido.
Nesse período, formam-se as bases do desenvolvimento cognitivo, físico e socioemocional do indivíduo.
Até os 6 anos, o cérebro realiza cerca de 1 milhão de sinapses por segundo, e 90% das conexões cerebrais são estabelecidas.
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