Tarifas: momento decisivo para o Brasil
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Entramos numa semana decisiva. Na próxima sexta-feira, 1º de agosto, se não houver nenhum acordo, vão entrar em vigor as sanções que o governo de Donald Trump quer impor ao Brasil. A intenção é aplicar tarifas de 50% aos produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos. A ameaça de Trump é uma política de intimidação provocada por questões ideológicas. Tanto que ele veio a público defender o cancelamento das investigações contra Jair Bolsonaro como uma condição para diminuir as tarifas. O presidente Lula está certo ao deixar claro que aceita negociar as tarifas no âmbito do comércio exterior, mas não vai tolerar discutir condições que ameacem a soberania nacional.
O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é quem mais tem trabalhado para atrapalhar um entendimento entre os dois países. E até com governadores de direita, como Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Ratinho Júnior, do Paraná, ele tem discutido. Reclamou dos dois por não defenderem a anistia aos que ele chama de “presos políticos” quando se pronunciaram sobre o tarifaço. Sempre querendo mostrar o acesso fácil que teria a Trump ou a expoentes do seu governo, o deputado licenciado já assegurou que o presidente americano não vai rever as sanções contra o Brasil.
Eu já disse aqui na coluna que Trump tem usado uma estratégia de ameaçar tarifas bem mais altas para, na hora de negociar, chegar a um valor mais baixo, mas, ainda assim, bem acima da tarifa que era praticada antes. No caso do Brasil, as tarifas eram de 10%. Qualquer valor acima disso será melhor que os 50%, mas sempre estaremos perdendo. Imagine se o Brasil, depois das negociações, conseguir fechar a tarifa em 25%. O prejuízo será menor, mas, mesmo assim, continuará sendo ruim para nossa economia
Tentativas frustradas
Desde o anúncio das tarifas, o governo brasileiro tem feito esforços para abrir um canal de negociação. Sem sucesso. O vice-presidente Geraldo Alckmin já tentou conversar com vários representantes do governo dos Estados Unidos. Não houve grandes avanços. E agora, o governo Lula decidiu enviar o chanceler Mauro Vieira para buscar alguma interlocução.
Neste fim de semana, em um encontro na Escócia, a União Europeia e os Estados Unidos fecharam acordo com tarifas de 15% na maioria dos produtos (será de 50% para aço e alumínio). O acordo firmado por Donald Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula van der Leyen, evitou que todos os 27 países da União Europeia enfrentassem tarifas de 30% a partir do próximo mês. Mas ainda assim vários países, a exemplo de França e Espanha, já manifestaram insatisfação.
Até aqui, o governo Trump tem taxado países que são superavitários no comércio bilateral com os Estados Unidos. O Brasil é deficitário, ou seja, compramos deles mais do que vendemos. Mas, em mais uma demonstração de que as sanções têm razões políticas, Trump não parece nada preocupado com os efeitos do tarifaço na economia brasileira. Ele, inclusive, já disse, ainda em janeiro deste ano: "Eles precisam de nós. Nós não precisamos deles”. Com a iminência de as sanções começarem a valer, empresários americanos já reclamam que os Estados Unidos também vão perder, pois terão que rever o volume de importações de produtos brasileiros.
Agora é esperar. Ver se os esforços que estão sendo feitos pelo governo brasileiro e também por empresários dos dois países vão trazer algum resultado positivo. A ver…
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