Ainda assim, escrevemos
No Dia da Escritora e do Escritor, celebrar a escrita é também resistir: mesmo diante da queda na leitura, ainda escrevemos
No Brasil, o Dia da Escritora e do Escritor é celebrado em 25 de julho. A data, oficializada pelo então Ministério da Educação e Cultura (MEC), em 1960, foi escolhida por coincidir com o Festival do Escritor Brasileiro, evento promovido pela União Brasileira de Escritores (UBE) no Rio de Janeiro. Entre os objetivos, tanto da instituição quanto do evento, está o de valorizar a escrita como pilar da nossa cultura.
Recentemente, a sexta edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2024) — a mais completa e aprofundada sobre os hábitos de leitura no País — revelou que, nos últimos quatro anos, houve uma redução de aproximadamente 6,7 milhões de leitores.
Pela primeira vez desde 2001, a proporção de não leitores superou a de leitores: 53% da população brasileira não leu sequer parte de um livro — seja ele impresso ou digital — nos três meses anteriores à pesquisa. Mais da metade dos brasileiros se afastou da leitura e também dos livros.
Esse cenário lança luz sobre o ato de escrever. A caneta — ou o teclado — adquire nova intensidade simbólica. De certo modo, ela também implica quem escreve.
Nesse descompasso entre aquele que escreve e aquele que lê, revela-se uma crise — mas também a resiliência da literatura.
A metáfora se intensifica quando pensamos em obras que dialogam diretamente com o livro e com a leitura.
Na obra Fahrenheit 451 (1953), romance distópico de Ray Bradbury, os livros são proibidos e queimados. Ainda assim, a leitura se insurge como um ato de resistência.
Em O Nome da Rosa (1980), romance policial de Umberto Eco, uma biblioteca secreta, manuscritos proibidos e o poder da leitura estão no centro da trama investigativa.
Já em A Menina que Roubava Livros (2005), de Markus Zusak, a protagonista encontra consolo e força nos livros que compartilha com outras pessoas durante a Segunda Guerra Mundial.
Além de romances consagrados, essas histórias têm em comum o fato de nos lembrar que a escrita não vive apenas de estatísticas: ela habita o campo do desejo e da possibilidade.
Portanto, ainda que o País leia menos, ainda que os dados sejam frios, ainda assim, escrevemos.
Enquanto houver quem escreva, haverá também quem se pergunte: “quem escreve para mim?”. E é justamente a essa pergunta que respondemos: escrevemos para todos, com a confiança de que, um dia, alguém lerá.
Escrever é manter viva a chama de uma cultura que relembra o valor da leitura — mesmo quando esta se enfraquece. No gesto de escrever mora a esperança.
O escritor acredita no leitor ausente. A página será sempre campo de um (re)encontro entre mundos.
Comemorar o Dia da Escritora e do Escritor, no dia de hoje, é reconhecer que, mesmo que em solo árido, ainda germinam sementes.
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