Projeto de superferrovia Brasil - Peru muda e ES fica de fora
Ilhéus será o ponto de partida da via até Lima, no Peru, e governo vai pressionar para incluir a Grande Vitória na ligação com o Pacífico
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Anteriormente com previsão de início pelo Porto de Açu, no norte fluminense, a chamada Ferrovia Bioceânica, que conectará o Brasil ao Porto de Chancay, no Peru, agora será iniciada em Ilhéus, na Bahia.
É o que prevê o novo traçado divulgado pelo governo federal durante o anúncio da assinatura do acordo entre Brasil e China para a realização de estudos técnicos, ambientais e econômicos visando à construção da superferrovia.
O trecho será uma rota de escoamento da produção entre as empresas brasileiras e a potência asiática. A mudança é vista como negativa pelo governo do Estado, que promete pressionar a União pela inclusão do Espírito Santo.
Com o Açu sendo ponto de partida, haveria conexão da superferrovia com a Vitória a Minas (EFVM) em Ipatinga, o que ligaria os portos capixabas ao Oceano Pacífico.
O novo desenho que põe a Bahia como partida e exclui o Estado foi formulado em parceria entre os ministérios do Planejamento, da Casa Civil, e dos Transportes, com o aval do governo do Peru, diz a Agência Brasil. O grupo dos Brics quer promover o diálogo para ampliar a infraestrutura de transportes conjunta.
Sergio Vidigal, secretário de Estado do Desenvolvimento, destaca que a região capixaba se posiciona como um polo logístico relevante, com portos de excelência operacional, infraestrutura rodoviária qualificada, além de projetos estratégicos como o Porto Central, em Presidente Kennedy, e empreendimentos como o ParkLog, que criam condições suficientes para sustentar a operação no Estado.
“O avanço do diálogo com a China só reforça a urgência de integrar, de forma efetiva, essa infraestrutura capixaba ao projeto de integração sul-americana”, disse.
A ideia é defender que os projetos ferroviários desenvolvidos pelas empresas Macro Investimentos e Petrocity — alinhados com o traçado original —, sejam contemplados nos estudos anunciados.
Autorizados em 2021, esses percursos ligarão Presidente Kennedy e Barra de São Francisco a Minas Gerais e ao Distrito Federal, respectivamente, com possível ligação do Estado à superferrovia num novo ramal em Mara Rosa, em Goiás.
“Essas iniciativas estão em fase avançada de desenvolvimento e se mostram plenamente compatíveis com a proposta de integração continental”, disse Vidigal.
Acordo da VLI com União sela antecipação da estrada FCA
A VLI Multimodal S.A., que opera a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), e o governo federal entraram em consenso quanto aos termos e vão renovar antecipadamente a concessão da ferrovia.
A informação foi publicada pelo Diário do Comércio e confirmada pelo subsecretário de Estado de Integração de Desenvolvimento Regional, Celso Guerra.
Guerra conta que a renovação foi condicionada ao ajuste da proposta de contrapartida da empresa às demandas da União, negociação que se arrasta desde 2015. O atual contrato de concessão da FCA se encerra em agosto de 2026.
Estão previstos aportes de R$ 30 bilhões entre outorgas e investimentos, segundo a publicação.
O novo contrato prevê a devolução de mais de 3 mil quilômetros de ferrovia não utilizados, trechos que serão devolvidos ao governo e deverão ser oferecidos a outros operadores, por meio de chamamento público ou novas concessões.
Até o momento, a nova concessão da FCA deve englobar 5,8 mil km, ao invés dos 7,2 mil km atuais.
Saiba mais
O que é
A Ferrovia Bioceânica fará parte das Rotas de Integração Sul-Americana. O projeto pretende integrar as ferrovias de Integração Oeste-Leste (Fiol) e Centro-Oeste (Fico) e a Ferrovia Norte-Sul (FNS) ao recém-inaugurado porto de Chancay, no Peru — fazendo a integração entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
O corredor ferroviário tem uma parte em execução no Brasil, por meio da Fiol, que parte de Ilhéus (BA) e vai até Mara Rosa (GO); e da Fico, que parte de Mara Rosa (GO) e se estende até Lucas do Rio Verde (MT).
A Bioceânica, de fato, começará em Lucas do Rio Verde, ponto final da Fico. A partir de lá, passará pela fronteira do Mato Grosso com a Bolívia, todo o estado de Rondônia e o sul do Acre, na fronteira com o Peru — chegando ao porto de Chancay, a 70 quilômetros de Lima, capital do Peru.
Conexão
A ligação do corredor bioceânico com a Ferrovia Norte-Sul, atualmente sob concessão da Rumo, interligará os Portos de Itaqui, no Maranhão, e Santos, em São Paulo.
Mudança no traçado
O projeto inicial partia do Porto de Açu, no Norte do Rio, cruzando a Vitória a Minas em Ipatinga, Minas Gerais. Isso incluiria a Grande Vitória na ligação ferroviária até o Pacífico, conforme A Tribuna revelou em maio.
Mesmo com o traçado partindo de Ilhéus na nova proposta, o Espírito Santo pode ter a ligação em Goiás, como previsto em um projeto privado.
Planejamento
Um acordo para iniciar estudos conjuntos sobre o corredor ferroviário foi assinado entre Brasil e China na segunda-feira. Os estudos serão conduzidos pela Infra S.A., estatal vinculada ao Ministério dos Transportes, e a China Railway Economic and Planning Research Institute.
Uma comitiva da China Railway visitou o Brasil, em abril. Em maio, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, o projeto foi novamente mencionado em declarações presidenciais.

Governo do Estado
Para o secretário de Estado de Desenvolvimento, Sergio Vidigal, o entendimento firmado entre Brasil e China evidencia a necessidade de incluir o Espírito Santo na nova malha ferroviária de alcance continental.
Nesse linha, Vidigal defende como essencial a contemplação dos projetos ferroviários desenvolvidos pela Petrocity e pela Macro Investimentos — que partem do Espírito Santo — nos estudos anunciados.
Vidigal destaca a urgência de integrar, de forma efetiva, a infraestrutura capixaba ao projeto de integração sul-americana — consolidando o Espírito Santo como protagonista logístico a serviço do desenvolvimento nacional.
O projeto reforça a estratégia do Espírito Santo de apostar na logística para compensar perdas com o fim dos incentivos fiscais da reforma tributária.
Indústria
A Findes, entidades capixabas e o governo estadual defenderam, em consulta pública, a conexão ferroviária para impulsionar a economia e o escoamento da produção.
Benefícios
A integração das ferrovias Norte-Sul e Leste-Oeste deve ampliar a eficiência logística do Brasil, permitindo escoar cargas ao mercado asiático por uma rota que reduz em até duas semanas o tempo de viagem.
O projeto atende interesses logísticos do Brasil e estratégicos da China, ao promover desenvolvimento interno e fortalecer rotas seguras diante da rivalidade com os EUA.
Fonte: Instituições e autoridades citadas.
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