Presidente do Sindbares: “Relação formal de trabalho está em xeque”
Setor de “food service”, o que inclui bares e restaurantes, tem no ES déficit de até 4 mil vagas e busca novo modelo, diz Vervloet
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“A relação formal de trabalho está em xeque no País” e precisa ser repensada. É o afirma o presidente do Sindicato dos Bares, Restaurantes e Similares Sindbares) e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Espírito Santo, Rodrigo Vervloet.
Ele revelou, durante entrevista ao jornalista Rafael Guzzo, para o podcast Histórias Empresariais, que há um déficit de 4 mil trabalhadores para atuarem nos bares e restaurantes do Estado.

A Tribuna — O setor de bares e restaurantes é conhecido por empregar muita gente. A busca pela mão de obra é constante?
Rodrigo Vervloet — É o setor que mais emprega no Brasil. Se você abrir um espaço físico, qualquer tipo de comércio ou serviço, você emprega um número cinco vezes maior com uma lanchonete ou qualquer empresa do ramo do que com outro tipo de comércio ou serviço. Há uma demanda muito grande na área de food service.
E por que o nome “food service” foi adotado?
Antigamente, usava-se setor da alimentação fora do domicílio, mas, com os deliveries, o termo acabou evoluindo e é algo que se adequa melhor.
Falando nos serviços de entrega, durante a pandemia eles foram a saída. Como está a relação com as plataformas atualmente? Tem empresa optando por criar a sua própria, por conta dos custos com as plataformas mais famosas?
É uma questão multifacetada, porque às vezes é caro atuar, mas você tem de saber usar para baratear o custo. Porque ele também proporciona muita coisa.
No momento em que você entra na casa de um número infinito de pessoas, você está aumentando suas vendas.
Sobre a ideia de criar seu próprio aplicativo, acontece, e nem sempre é só pelo custo. Ao chamar o cliente para o seu próprio aplicativo, você cria um relacionamento, algo que é mais distante no iFood, por exemplo.
O movimento presencial se recuperou pós-pandemia, ou foi muito afetado pelo costume criado de pedir comida?
A questão do delivery perdurou. Os dois setores não concorrentes, cada momento é diferente. Vejo que as pessoas estão valorizando mais o convívio social, de ser atendido por um garçom, de ver jogos na rua. O delivery não conorre com isso. Ambos os lados vêm em crescimento e isso fortalece o setor, que é o que a gente quer.
Você observa que os jovens tem mudado de perfil, preferindo uma vida mais saudável e drinks instagramáveis do que necessariamente ficar no bar várias horas?
Realmente teve uma mudança no comportamento. Buscam um estilo de vida saudável, mas o que é a saúde? O que é a saúde mental das pessoas que precisam desse convívio social? Estar em convivência com as pessoas e se divertir é essencial. Mas isso tem realmente acontecido, e o setor está se moldando em torno disso.
A diferença de custo de antigamente para hoje também é um fator? As coisas ficaram mais caras para todo mundo?
Sim, e isso afeta o ecossistema todo. As boates, por exemplo, enfrentam dificuldades para repassar os preços, fazer a economia girar.
Houve um aumento de interesse na gastronomia capixaba?
Sem dúvida. A gastronomia abocanha 85% do nosso turismo, assim por dizer.
Hoje o Sindbares representa cerca de 10 mil empresas que empregam cerca de 90 mil pessoas, isso só nos empregos diretos. Indiretamente, o setor acaba por influenciar o mercado de trabalho dos músicos. Você observa que houve aumento na procura por esse tipo de profissional?
É perceptível que sim. As pessoas buscam cada vez mais esse tipo de entretenimento. Eu acho que o músico tem um papel fundamental para a experiência.
O empresariado de outros setores tem relatado recentemente sobre a falta de profissionais para trabalhar. Isso também é uma realidade no setor de restaurantes e bares?
A gente sofre muito com isso. A gente emprega muito, mas ainda tem um déficit. É algo nacional, que precisa ser repensado. As relações de trabalho precisam ser repensadas, porque todas as partes envolvidas nessa relação não parecem estar satisfeitas, tanto empregador quanto empregado.
Muitas pessoas não querem assinar carteira mais, então há um vácuo. Muita gente está na informalidade. Para o garçom, muitas vezes, não é interessante o compromisso. A relação formal de trabalho está em xeque no Brasil.
A “uberização” seria um caminho para o setor?
Até foi tentado, tem algumas iniciativas, mas sempre há problemas legais. O Uber pode, mas está sendo discutida a questão no STF. Mas é necessário repensar isso e buscar a evolução. Já recebi muitos relatos de empresários do setor que dizem que só não abrem outra unidade do restaurante porque não conseguem encontrar mão de obra. Ou que não consegue abrir em determinado horário pelo mesmo motivo.
De quanto é esse déficit?
Seria entre 3 mil e 4 mil pessoas só para a operação atual, sem contar ampliações que citei, de quem quer fazer e não consegue.
Além desse déficit, qual o desafio, a maior dificuldade do setor, atualmente?
Tem vários. Um deles é o empresário se entender pertencente ao setor, buscar a coletividade, buscar o aperfeiçoamento que nós e diversos outros institutos também proporcionam para que a gente tenha esse setor melhor, mais fortalecido. E outro fator é o Brasil, que é sempre um grande desafio, para o setor empresarial como um todo. Todo esse risco, essa insegurança jurídica, insegurança tributária que a gente tem.
De que maneira o setor vê a reforma tributária?
Conseguimos mobilizar os parlamentares e pela primeira vez na história do Brasil, os bares e restaurantes serão citados de forma positiva com uma reforma que nos autoriza a ter uma alíquota diferenciada.
Não é nenhum benefício, na verdade é a sociedade entendendo o quanto nós empregamos e o quanto que nós servimos à própria sociedade. A perspectiva é positiva e tem uma projeção de melhora de ambiente e talvez até de redução de preço, mas ainda é prematuro falar.
Perfil
Rodrigo Vervloet
É advogado e presidente do Sindicato dos Bares, Restaurantes e Similares (Sindbares) e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Espírito Santo. É dono, há 14 anos, do Seu Joaquim Bar.
Chegou a estudar música, sabe tocar violão e outros instrumentos. E tocou na noite por alguns anos.
Seu sobrenome tem origem belga e se pronuncia "vervluit". É casado e tem uma filha.
Curiosidades
Transporte por apps
Vervloet destacou a importância do transporte por aplicativos para o setor, especialmente para os bares. “Acabou o drama. As pessoas agora até deixam os carros em casa, para não ter o trabalho de estacionar. Ficou tudo mais prático e seguro, e favoreceu os restaurantes como um todo, porque o cliente fica mais relaxado”.
Música
Vervloet conta que chegou a estudar música e a tocar na noite por alguns anos, tendo como estilo musical favorito o rock.
Ele conta que apesar da popularidade do sertanejo nos últimos anos, não há uma preferência única de clientes. “Varia muito do perfil do restaurante. Tem público para tudo”.
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