“Mercado de vinhos tem muito a crescer”, diz realizador da ExpoVinhos Vitória
Vanderlei Martins vê potencial sobretudo no frescor dos brancos, verdes e espumantes. Confira entrevista completa
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A ExpoVinhos Vitória chega à sua 15ª edição, sendo o evento de vinhos mais antigo do Brasil. Neste ano, ela será realizada nesta quarta (02) e quinta-feira (03), com degustação liberada e ingressos por R$ 200 o dia ou R$ 350 para os dois dias.
Para um dos realizadores do evento, o sommelier Vanderlei Martins, o mercado de vinhos ainda tem espaço para crescer no País e no Espírito Santo. Ele citou, por exemplo, o litoral, as praias, com o frescor de vinhos brancos, verdes e espumantes harmonizando, por exemplo, com a nossa moqueca.
Esse foi um dos pontos da conversa de Martins com o jornalista Rafael Guzzo no estúdio Tribuna Online, em que o sommelier detalhou o planejamento para a realização do evento e também sobre as opções de vinhos disponíveis.
A Tribuna — A edição do ExpoVinhos deste ano será a 15ª. Pode dar detalhes do que está previsto para esta edição?
Vanderlei Martins - Vamos ter em torno de 62 expositores. São aproximadamente 1.200 rótulos. O evento em si é recheado de muitas coisas interessantes, incluindo a parte de formação da mão de obra que hoje trabalha nos restaurantes, hotéis, supermercados e lojas especializadas.
Eles terão uma aula com o professor Franco Bittencourt, mas também haverá palestras, como a da Stella Salton, que vai falar sobre a trajetória da vinícola da sua família e de seus produtos.
Outro destaque é a participação do David Barberstock, que é um grande “bruxo” da área. É um australiano radicado em Portugal há mais de 30 anos, e que hoje está à frente do projeto Weinstone, que abriga grandes projetos de vinícolas, como a Vise Crown, Quinta da Ravasqueira, Quinta de Pancas, Quinta do Couto, Lago Sequeira e por aí vai.
Há algum vinho do Espírito Santo na exposição?
Tem. Todo ano, o Vinícius Corbellini, do Vale dos Tabocas. Eu estive lá no Santa Jazz, o Festival de Jazz de Santa Tereza, fui visitá-lo e estou espantado com a qualidade dos vinhos dele. É um projeto muito bacana, ele é muito caprichoso.
Além do vinho de Santa Teresa, teremos vinhos de quantas nacionalidades, no geral?
É muito mais do que posso citar: Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Estados Unidos, Itália, França, Alemanha, Portugal, Espanha, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul... Não teremos só produtores, teremos também importadores, e o portfólio deles é enorme.
Na sua opinião, daria para citar um país como o que produz o melhor vinho?
Olha, eu estaria sendo leviano em falar isso... (pensativo) Vinho é uma coisa muito interpretativa. Não posso transformar todos os vinhos naquilo que eu gosto particularmente.
Quando você toma um vinho da uva Riesling, lá do Sul da Alemanha, você não vai comparar com o “terroir” da França.
O que dá para dizer é que a Europa é uma escola para o restante do planeta quando se fala de vinho. E tem coisas que cada país faz melhor do que ninguém. Jamais eu posso dizer que vou tomar um Jerez feito em algum lugar que não seja na Espanha. Ou um Porto feito em outro lugar que não em Portugal.
O importante é aprender e aproveitar cada estilo. E apesar de a Europa ser uma escola, tem gente fora de lá fazendo vinho há mais de um século, como o Líbano, que tem exemplares fantásticos.
Quando viajei para a Europa pela primeira vez, notei que havia vinho brasileiro que saía mais barato lá do que aqui. Por que isso acontece?
Além de desonerações impostas para se exportar, realmente é a carga tributária daqui de dentro, que para bebidas alcóolicas não é pequena. Fala-se sobre a justificativa ser de que são produtos supérfluos, mas a indústria de bebidas também é uma grande geradora de empregos. Então creio que isso deveria ser repensado.
Como funciona a organização da ExpoVinhos Vitória?
Quem está à frente dela são o José Olavo Medici, da Rota Eventos, e eu, com o apoio da Fecomércio. Não é fácil fazer esse evento, que é muito qualificado e, de forma geral, é um trabalho de um ano sempre.
Eu termino a deste ano já tratando com os parceiros sobre assuntos relativos à feira do ano que vem. Temos que ter muito critério sobre o que vamos incluir no evento, seja palestra, curso de formação, local, para que agregue.
E, além dos vinhos, tem os produtores de chocolate, empresas de queijo, a Seara do ramo frigorífico, e assim por diante. O planejamento é pesado. É o ano inteiro.
O mercado de vinhos teve crescimento muito grande no consumo, sobretudo na pandemia. Como é que está hoje? Tem espaço para crescer mais?
Tem, sempre tem. Não existe saturação no mercado porque, se você olhar o consumo brasileiro, é baixíssimo: 2,8%. O Espírito Santo está entre os três que mais consomem per capita no Brasil.
Eu falo que a gente tem vinho para todos os ambientes. Por que não levar um para a praia? Uma garrafa de vinho verde, bem fresquinha, bem gelada, uma garrafa de espumante, uma garrafa de um bom vinho branco, mais leve. O Brasil, de uma forma geral, poderia consumir muito mais vinhos brancos, espumantes e rosês.
O que justifica esse baixo consumo per capita brasileiro?
Ele vai mudar a partir do momento em que as pessoas pararem de ser elitistas com certas coisas e começarem a encontrar prazer até nos vinhos de entrada, mais simples, que podem ser tomados no seu dia a dia. Eu não gosto da ditadura do gosto e nem do preço. Já comprei vinho de R$ 40 que eu achei maravilhoso. Mas, assim, nada contra os grandes vinhos.

Quem é Vanderlei Martins
Vanderlei Martins é sommelier profissional, realizador e cofundador da ExpoVinhos Vitória, além de diretor comercial dos Supermercados Carone.
É nascido em São Paulo, mas mora no Espírito Santo há mais de 30 anos.
Tem 59 anos de idade e mais de 40 atuando na área de varejo.
É casado, tendo um filho que hoje mora fora do País.
Além da formação como sommelier, ele também é formado em administração.
Com forte atuação na promoção da cultura enológica no Espírito Santo, Vanderlei também é Cavaleiro da Confraria do Vinho do Porto, título que reconhece sua dedicação à valorização das tradições e da excelência dos vinhos portugueses.
Curiosidades
Paixão desde cedo
Vanderlei conta que foi introduzido ao mundo dos vinhos desde pequeno, por meio do marido de uma tia-avó.
“Ele era português e, nos almoços de domingo, tinha o hábito de tomar vinho. Às vezes me oferecia um pouco, até com água mesmo, só para eu sentir o gosto. Quando comecei a trabalhar no varejo, acabei me aprofundando no assunto”, conta.
Muito estudo
O sommelier conta que a profissão requer muito estudo, e que o acesso a informações sobre vinhos ficou muito facilitado com a internet. “Antes eu comprava livros, VHS, DVDs. Agora ficou tudo mais fácil e rápido. Mas são muitas horas em pé, dirigindo um serviço de muita qualidade, atendendo bem, sendo educado, discreto, fino. Porque o sommelier deve garantir o melhor ambiente possível para seu cliente”.
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