Mãe de Maria Eduarda depõe e advogado nega atuação como assistente de acusação
Até o final da tarde, não havia conflito de interesses entre a família da vítima e o médico, segundo Célio Avelino
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Mãe e irmão da vítima são ouvidos pela Polícia Civil em Porto de Galinhas; corpo da jovem tinha lesões incompatíveis com afogamento
Onze dias após o naufrágio que tirou a vida da advogada Maria Eduarda de Carvalho Medeiros, de 38 anos, a investigação policial ganhou um novo capítulo nesta terça-feira (1º), com o início das oitivas de testemunhas. Até o final da tarde, não havia conflito de interesses entre a família da vítima e o médico. (veja abaixo)
A mãe, a médica Graça Medeiros, e o irmão da jovem estiveram na Delegacia de Porto de Galinhas, no Litoral Sul de Pernambuco, onde prestaram depoimento ao delegado Ney Anderson. Até o momento, não há detalhes sobre o depoimento da mãe.
"Amo minha Duda com um amor que não tem fim", disse a médica, na noite desta segunda (30), por meio das redes sociais.
Maria Eduarda morreu no dia 21 de junho durante um passeio de barco à vela com o noivo, o médico urologista Seráfico Júnior, 55 anos. Ela tinha sido pedida em casamento naquele dia, segundo relato de seus familiares.
O corpo da advogada foi encontrado quatro dias depois, boiando a cerca de um quilômetro da costa da Praia de Calhetas, no Cabo de Santo Agostinho. O médico sobreviveu.
De acordo com bastidores da polícia, o corpo da advogada apresentava uma laceração profunda no braço e estava em uma posição considerada incompatível com a de afogamento, o que levou a Polícia Civil a abrir diferentes frentes de apuração sobre as circunstâncias da morte.
Silêncio e expectativa na delegacia
A mãe e o irmão da vítima chegaram acompanhados por um advogado e não conversaram com a imprensa. Também foram ouvidos funcionários do condomínio onde o médico mantém um flat — entre eles, uma gerente e um porteiro.
Segundo fontes da investigação, a polícia busca entender os momentos que antecederam o acidente, incluindo possíveis imagens de câmeras de segurança do condomínio e a rotina do casal nos dias anteriores.
Chegou a ocorrer busca e apreensão de celular e equipamentos eletrônicos na casa do médico. A polícia queria entender a dinâmica do casal, se havia brigas ou não, além de outros detalhes.
Outras testemunhas são esperadas para os próximos dias. Ao todo, pelo menos 11 pessoas devem ser ouvidas nesta fase da investigação.
O médico Seráfico Júnior ainda não foi ouvido oficialmente. Quem tem falado por ele é o advogado Ademar Rigueira Neto, que concedeu entrevista coletiva na sexta-feira da semana passada (27).
Célio Avelino nega ter sido contratado como assistente de acusação
Ademar Rigueira disse, na ocasião, que não havia conflito de interesses até aquele dia. Por sua vez, o advogado Leonardo Quercia, do escritório de Célio e Pedro Avelino, acompanhou a mãe de Maria Eduarda à delegacia de Porto de Galinhas nesta terça.
”Leonardo acompanhou a mãe para lhe dar um conforto. Não somos assistente de acusação, não somos contratados para nada. Na missa de sétimo dia de Maria Eduarda, a mãe e o médico estavam juntos. Não mudou nada desde então e o processo corre em segredo de justiça”, disse Célio Avelino, também considerado um dos maiores criminalistas do estado.
De acordo com o relato repassado pela defesa do médico, o barco foi arrastado por uma corrente do Rio Ipojuca até o mar aberto, passando por uma abertura entre pedras, e colidiu com rochas antes de afundar.
Veja também: Médico diz que Maria Eduarda pode ter morrido ao se chocar contra pedras
Desaparecimento de Maria Eduarda ocorreu quando o casal chegou ao local de socorro
O médico e Maria Eduarda teriam nadado por cerca de três horas. Segundo o advogado dele, os dois (Seráfio e Maria Eduarda) chegaram a comemorar quando alcançaram as pedras próximas ao Porto de Suape.
Mas, ao tentarem subir, o médico sofreu pancadas nas pedras e a advogada teria desaparecido da vista de Seráfico, bem como a cadela que Seráfico segurava, animal do qual Maria Eduarda era tutora.
Ademar Rigueira Neto fez um relato sóbrio do naufrágio, dizendo que o casal atravessou as intempéries de um mar aberto com muita tranquilidade e orientações do médico, que era acostumado a praticar windsurf.
Seráfico, inclusive, carregava a cadela. Na hora do resgate do médico, por volta das 19h17, já noite, o casal se separou devido às ondas e pedras.
A tábua da maré daquele dia registrava que, neste horário, a maré começava a baixar, diferentemente do que ocorreu durante à tarde, quando eles nadaram em maré alta.
Rigueira confirmou que a embarcação não possuía coletes salva-vidas e que o médico não tem habilitação para conduzir veleiro, embora tenha afirmado que, para o tipo de barco usado, a licença não seria exigida por lei.
Justiça impediu cremação
Inicialmente, a família da jovem pretendia cremar o corpo. No entanto, a Justiça impediu o procedimento para garantir a possibilidade de realização de novas perícias. O corpo foi sepultado e permanece preservado, caso sejam necessários exames complementares.
A Polícia Civil também ouviu o médico que atendeu Seráfico após o resgate. A tábua de marés do dia do acidente indicava ondas altas na região.
A Delegacia de Porto de Galinhas segue apurando o caso e ainda não há previsão para o encerramento do inquérito.
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