Maioria dos homens vai ter aumento da próstata, afirma urologista
Especialista afirma que condição afeta pacientes com mais de 50 anos. Quadro é benigno, mas sintomas afetam o dia a dia
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Você já ouviu falar sobre hiperplasia prostática benigna (HPB)? Doença caracterizada pelo crescimento progressivo da próstata, tanto do tecido glandular quanto do tecido muscular e conjuntivo, é uma condição que afeta mais de 50% dos homens com mais de 50 anos.
Conhecido como próstata aumentada, o quadro é benigno e não tem relação nem se transforma em câncer de próstata. Porém, apresenta sintomas que dificultam o ato de urinar, prejudicando a qualidade de vida do paciente.
José Antônio Prezotti, urologista da Afecc-Hospital Santa Rita e especialista em doenças da próstata, disfunções miccionais e incontinência urinária, explica que o problema ocorre devido ao envelhecimento masculino.
Isso leva a alterações nos níveis intracelulares da testosterona e di-hidrotestosterona, acarretando acúmulo de células e, por fim, aumento do volume prostático.
“Como a próstata é um órgão que está abaixo da bexiga e ao redor da uretra, o crescimento dessa glândula leva a uma compressão e estreitamento da uretra, dificultando o esvaziamento da bexiga”.
Essa dificuldade em esvaziar a bexiga causa sobra de urina e faz com que o paciente tenha de urinar novamente, em pouco tempo.
Nesta edição de Fala, Doutor! Prezotti deu mais explicações sobre a HPB, informando a respeito do diagnóstico e tratamento.
AT: É verdade que mais de 50% dos homens acima de 50 anos têm HPB? Poderia explicar sobre essa prevalência?
José Antônio Prezotti: Sim, é verdade, mas precisamos primeiro entender qual o critério diagnóstico utilizado. No critério histológico, o diagnóstico vem de uma biópsia da próstata. A maioria dos homens, se biopsiados acima dos 50 anos, terão HPB, e isso chega a quase 80% ou 90% dos homens aos 90 anos.
No critério clínico, o diagnóstico é baseado no sintoma. Nem todos os homens que têm biópsia positiva terão sintomas da HPB. Com isso, a prevalência é menor.
Já no critério de necessidade de tratamento, o diagnóstico é baseado na presença de tratamento. Nem todos que têm sintomas necessitam de tratamento, portanto a prevalência é ainda menor.
AT: A HPB leva algum desconforto para a vida do homem?
José Antônio Prezotti: Existem os sintomas do esvaziamento vesical, com jato urinário fraco, esforço para urinar, jato urinário intermitente e demora para começar a urinar.
Há sintomas do armazenamento vesical: aumento da frequência miccional diurna e noturna, urgência para chegar ao banheiro e urgência com incontinência urinária. E os sintomas pós esvaziamento vesical, com sensação de esvaziamento incompleto e gotejamento pós-miccional.
AT: A HPB pode evoluir para alguma complicação grave?
José Antônio Prezotti: A sobra de urina na bexiga pode levar à infecção urinária e formação de cálculos na bexiga. A pressão aumentada na bexiga leva a uma dificuldade dos rins de se esvaziarem, acarretando dilatação dos rins e perda progressiva da função renal, podendo culminar em insuficiência renal. O esforço miccional e a lesão muscular progressiva levam à retenção urinária.
AT: Como é realizado o diagnóstico de HPB?
José Antônio Prezotti: O diagnóstico é baseado na história clínica e nos sintomas miccionais. O exame físico, incluindo o toque retal, ajuda na definição do volume prostático e auxilia na detecção de um possível câncer de próstata concomitante.
Exames laboratoriais, como o PSA, guardam relação com a progressão do volume prostático.
Exames complementares, com ultrassonografia, permitem avaliar a condição dos rins e da bexiga, além de medir o volume prostático e de avaliar o volume residual de urina pós-miccional.
AT: Qual é o tratamento?
José Antônio Prezotti: Quando os sintomas interferem na qualidade de vida do paciente, o tratamento se faz necessário, podendo ser medicamentoso ou cirúrgico. O tratamento medicamentoso se baseia em promover o relaxamento da próstata, facilitando o esvaziamento, e em promover a diminuição do volume prostático.
Quando ele não funciona ou quando os efeitos colaterais das medicações não permitem a manutenção do uso, o tratamento cirúrgico se faz necessário, tendo como objetivo a desobstrução da uretra e o restabelecimento do fluxo urinário.
Muitos deixam de operar por medo de disfunção erétil, o que é um grande erro por esse risco ser muito baixo.
AT: É possível prevenir HPB?
José Antônio Prezotti:A HPB é uma doença relacionada ao envelhecimento e a alterações hormonais. Não há, portanto, ações comportamentais ou dietéticas com alto índice de evidência que promovam uma prevenção.
Controle de peso, controle do diabetes e alterações metabólicas podem, de alguma forma, diminuir o estado inflamatório envolvido com a HPB, mas não há estudos com alto índice de evidência que comprovem isso.
Os Números
80% a 90% de homens com 90 anos têm HPB. Até 25% dos homens com HPB vão necessitar de algum tipo de tratamento ao longo da vida, sendo a maioria com terapia medicamentosa e uma minoria com indicação cirúrgica.
Fique por Dentro
A hiperplasia prostática benigna (HPB)apresenta uma predisposição genética, uma vez que homens com histórico familiar de HPB têm maior risco de desenvolver a doença, com presença de sintomas clínicos e maior chance vir a necessitar de tratamento cirúrgico.
O tratamento deve ser estabelecido a partir do momento em que os sintomas miccionais estiverem incomodando o paciente. Se os sintomas são leves, a pessoa pode ser apenas acompanhada, mantendo avaliações periódicas com o médico urologista, algo que é chamado de vigilância ativa.
Ocorreram muitos avanços no tratamento cirúrgico. Existem cirurgias minimamente invasivas feitas com sedação venosa e com preservação da ejaculação como a terapia com vapor de água (REZUM), há a clássica ressecção endoscópica da próstata (raspagem da próstata) até técnicas com uso do laser — a enucleação prostática com holmium laser (HOLEP).
Qualidade de Vida
Aos 85 anos, o apresentador Raul Gil passou, em 2023, por uma raspagem de próstata, por conta de seu quadro de hiperplasia prostática benigna (HPB).

“Meu pai nunca enfrentou problemas na próstata, e não está relacionado a câncer, de forma alguma. A cirurgia é apenas uma maneira de melhorar sua qualidade de vida e a de outros pacientes”, disse seu filho Raulzinho na época.
Raul Gil teve alta depois de cinco dias internado.
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