Espírito Santo supera o Rio de Janeiro em abertura de novas empresas
Qualidade de vida e ambiente favorável aos negócios atraem empreendedores de outros estados e fazem o Espírito Santo se destacar no Sudeste
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A qualidade de vida e o acesso facilitado ao crédito têm transformado o Espírito Santo em um dos principais polos de empreendedorismo na Região Sudeste do País, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
O Estado está na quinta posição no ranking de abertura de pequenos negócios, superando os mais populosos da região, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, reconhecidos como destinos turísticos e de grande atividade de comércio e serviço.
As dificuldades da vida urbana em grandes metrópoles, como o trânsito e a violência, por exemplo, são alguns dos motivos para o deslocamento ao Espírito Santo, na busca por uma vida melhor, explica o economista Ricardo Paixão.
“É um estado menor do que os outros gigantes que estão ao redor, e isso faz com que a gente tenha uma intensidade de criminalidade também menor, quando comparado. Os serviços públicos também são mais acessíveis do que nesses locais”.
O setor de serviços liderou a abertura de empresas em 2024, com 58,9% dos novos negócios, seguido do Comércio (23,5%), Indústria (8,8%), Construção (8%) e Agropecuária (0,8%), de acordo com os dados do Sebrae, referentes ao ano passado.
Foram 91.386 novas empresas registradas em 2024, das quais 96,6% são Microempreendedores Individuais (MEI), Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP). A busca por independência é o que explica o crescimento desses negócios no Estado, segundo o superintendente do Sebrae-ES, Pedro Rigo.
“O crescimento expressivo das pequenas empresas, especialmente dos microempreendedores individuais, mostra que cada vez mais pessoas estão buscando autonomia financeira e investindo em seus próprios negócios”, diz
Em 2025, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) revelou a existência de 604.466 empreendedores no Espírito Santo. Desses, 260 mil eram candidatos a empresários atuando na informalidade, 228 mil empresários formalizados com Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e 114 mil produtores rurais.
A maioria era do sexo masculino, de cor preta, nível médio (completo ou incompleto) e na faixa etária entre 45 e 49 anos.
Expectativa é de melhora ainda maior na economia
O consumo em alta tem puxado os investimentos e impulsionado a economia capixaba. Segundo o Indicador de Atividade Econômica (IAE-Findes), do Observatório da Findes, a expectativa é de que o Espírito Santo cresça 2,9% este ano.
Em 2024, a economia do Estado avançou 2,3%, registrando o segundo ano seguido de crescimento. Todos os setores tiveram alta: agropecuária (7,4%), serviços (2,5%) e indústria (0,4%).
Dentro do setor industrial, segundo dados de março deste ano, o crescimento foi de 0,7%, com destaque para energia e saneamento (11,7%), construção (2,1%) e indústria de transformação (1,1%). A única queda foi na indústria extrativa, com recuo de 2%.
Nos serviços, o crescimento foi de 2,5%, impulsionado por transporte (9,8%), demais atividades de serviços (2%) e comércio (1,5%).
Para o gerente de Ambiente de Negócios do Observatório Findes, Nathan Diirr, a entrada em operação do FPSO Maria Quitéria, no fim de 2024, pode favorecer a produção de petróleo e gás natural este ano.
Por outro lado, a Findes aponta que os juros elevados e a alta das importações afetaram a indústria no primeiro trimestre de 2025. Segundo o IBGE, o setor industrial foi o único a recuar em relação ao trimestre anterior — queda de 0,1%.
Aposta em moda urbana
O empresário Allan Salles, dono da marca capixaba Blackboo, é do Rio, mas começou a empreender no Espírito Santo em 2014 e, em 2022, decidiu focar 100% na empresa. Ele iniciou o percurso no Estado pelas possibilidades do mercado. “Sempre gostei muito da Grande Vitória. Quando pisei aqui, falei: 'Pô, encontrei o meu lugar'”. Salles diz que o Espírito Santo tem boas marcas e menos disputa que São Paulo e Rio, mas que o reconhecimento local é mais lento. “Até (o consumidor) olhar para dentro e te reconhecer, é um processo muito demorado”.
Cursos profissionalizantes
Os empresários Adriana Oliveira e Diego Marques são exemplo de empreendedores que saíram do estado de origem e tiveram sucesso no ramo a partir do Espírito Santo. O casal mineiro, da cidade de Juiz de Fora, é hoje dono de 10 unidades franqueadas da Microlins, rede de cursos profissionalizantes espalhada pelo País.
Mas tudo começou em Vila Velha. “Viemos de Juiz de Fora justamente pela oportunidade de trabalho. Fomos morar em Vila Velha, onde residimos por 12 anos. Em 2012, compramos a nossa primeira empresa, chegamos a ter oito no Estado. Hoje, moramos em Guaçuí, onde temos uma franquia; e outra em Alegre”, conta Adriana.
Pousada a 1.400m de altitude
O empresário Mário Martins, dono da Pousada Casa do Lago, em Dores do Rio Preto, no Caparaó capixaba, conta que veio do Rio ao Espírito Santo a trabalho, mas permaneceu por um imprevisto. Em visita com a esposa ao Estado, eles decidiram comprar uma terra para depois de aposentados.
“Só que o destino nos pregou uma peça, e nós, que estávamos na China para um projeto de petróleo de 4 anos, retornamos ao Brasil desempregados”, relata. O casal acabou montando a pousada com restaurante, a 1.400 metros de altitude, próximo à portaria do Parque Nacional do Caparaó.
“O Espírito Santo é pouco divulgado, mesmo para estados vizinhos, como o Rio. Aqui é uma delícia! A qualidade de vida na Serra do Caparaó, com sua mata, ar e água puros, não tem igual!”, destaca.
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